Relação entre depressão e demência fica mais forte na velhice
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Estudos anteriores mostram que pessoas com depressão têm predisposição maior para desenvolver Alzheimer e outras deficiências cognitivas progressivas, mas não se sabe exatamente como isso ocorre, afirma o líder da nova pesquisa, Robert S. Wilson, do Rush University Medical Center de Chicago. “Os resultados são emocionantes porque confirmam que a depressão é um fator de risco (para a demência)”, explica.
Segundo Wilson, muitos cientistas estudam a afirmação de que a depressão é uma consequência do declínio cognitivo, mas poucos trabalham com outras hipóteses, como a de que ambos os problemas são manifestações da mesma neuropatologia. Isso ocorre, de acordo com ele, porque esse tipo de trabalho exige que dados sejam reunidos e monitorados durante um longo período de tempo.
“O estudo mostra que mais de 50% dos participantes acabaram tendo um quadro depressivo, mas nem todos desenvolveram demência”, afirma Eduardo Mutarelli, neurologista do Hospital Sírio-Libanês. Avaliando os resultados obtidos pela instituição norte-americana, o especialista ressalta que a condição psiquiátrica pode, sim, ser um indício de demência, mas que isso não é uma regra. Na mesma linha, os pesquisadores concluíram que, na terceira idade, os sintomas depressivos têm associação com a queda de habilidades cognitivas, sendo que essas são independentes das características neuropatológicas da demência.
Análise ampla
A amostra grande de pacientes é o grande diferencial do estudo, afirma Mutarelli. “É muito raro conseguir fazer o exame anatomopatológico em tantas pessoas”, observa. O neurologista explica que a manifestação dos sintomas da depressão ocorre porque, em alguns casos, a pessoa pode estar no início da demência. “A depressão poderia ser o começo da doença cognitiva, mas não a causa”, afirma.
O especialista conta que, quando estão deprimidos, os pacientes naturalmente apresentam uma perda intelectual, mas, depois de tratados, essas funções voltam a funcionar normalmente. Isso também ocorre com pessoas que apresentam as duas enfermidades. “Se você tratar a depressão em uma pessoa com Alzheimer, certamente ela vai ter uma melhora porque as funções cognitivas vão funcionar melhor. Mas não é uma cura”, reforça.
Mutarelli conta o caso de uma paciente idosa que se queixava de problemas relacionados à perda cognitiva, como falha de memória. “Para mim, estava claro que o caso dela era uma depressão. Depois do tratamento, ela praticamente retomou a vida. Mas, depois de uns dois ou três anos, retornou ao consultório e foi diagnosticada com mal de Alzheimer”, diz. O especialista afirma que os sintomas depressivos foram um primeiro sinal da demência, que não estava completamente desenvolvida. “Essa condição progride lentamente. Então, quando a depressão surge como sintoma, a demência não foi identificada ainda”, explica.
A definição de depressão como fator de risco é a melhor alternativa, segundo Paulo Bertolucci, neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Ela se sobrepõe em alguns casos, como o mal de Alzheimer, por conta de alterações neuroquímicas do cérebro e de outros sintomas, mas não causa a doença cognitiva”, afirma. O especialista explica que muitos idosos que estão deprimidos podem ter queixas de dificuldades com a memória, mas que isso não pode ser considerado um indicativo de demência. “Existe uma chance maior de pessoas depressivas desenvolverem a doença, mas porque a primeira se mostra como um sintoma da segunda, não como causa”, reforça.
Biópsia
Procedimento realizado para o diagnóstico de doenças e tumores a partir da análise macro e microscópica de amostras de tecidos e órgãos retirados de um pacientes. Também conhecido como biópsia, tem como finalidade definir e analisar a evolução de uma doença. A técnica consiste em colocar a amostra em uma lâmina de vidro e acrescentar corantes que permitam a visualização das estruturas dos tecidos no microscópio.