Saiba mais sobre a febre hemorrágica causada pelo Ebola

Descobridor do Ebola não acredita em grande epidemia fora da África; OMS divulga recomendações sobre sintomas e formas de transmissão

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AFP - Agence France-Presse Publicação:01/08/2014 08:39Atualização:01/08/2014 10:40

Garoto recebe tratamento na Libéria, após a morte da mãe, vítima do Ebola: vírus pode se propagar através de muco, sêmen, saliva, suor, vômito, fezes e sangue (ZOOM DOSSO / AFP)
Garoto recebe tratamento na Libéria, após a morte da mãe, vítima do Ebola: vírus pode se propagar através de muco, sêmen, saliva, suor, vômito, fezes e sangue
O oeste da África está lutando contra a maior epidemia do vírus Ebola da história, suscitando preocupações em nível mundial de que a febre hemorrágica se propague para fora das fronteiras. A seguir, algumas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, sobre como se proteger do Ebola.

Atenção aos sintomas
Os sintomas do Ebola incluem febre, dores de cabeça, nas articulações e musculares, fraqueza, diarreia, vômitos, dor estomacal, falta de apetite e, em alguns casos, hemorragia.

O vírus "é transmitido por contato direto com fluidos corporais de uma pessoa infectada ou após a exposição a objetos - como seringas - que estejam contaminados com secreções infectadas", disse Stephan Monroe, vice-diretor do centro dos CDC para doenças infecciosas.

"O Ebola não é contagioso até que apareçam os sintomas", acrescentou.

Fluidos corporais
O vírus Ebola pode se propagar através de muco, sêmen, saliva, suor, vômito, fezes e sangue.

Monroe explicou que é "muito improvável" que o Ebola seja transmitido entre passageiros em um espaço fechado como um avião ou um trem, já que é necessário o contato direto com as secreções corporais.

"A maioria das pessoas que se infecta com o Ebola convive (familiares ou trabalhadores da saúde) com as pessoas que já sofrem da doença e manifestam os sintomas".

 

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Embora o vírus possa ser fatal em 90% dos casos, aqueles que se recuperam devem tomar precauções extraordinárias durante pelo menos dois meses, porque podem continuar sendo infecciosos.

"Os homens que se recuperaram da doença ainda podem transmitir o vírus através do sêmen até sete semanas depois de terem se recuperado", explica a OMS.

Contato com cadáveres infectados
O Ebola também foi transmitido a pessoas que tiveram contato com o corpo de alguém que morreu deste mal, como, por exemplo, durante os preparativos para um funeral.

"As pessoas que morreram de Ebola devem ser enterradas rapidamente e de forma segura", destaca a OMS.

Recomendações para trabalhadores da saúde
Os pacientes de regiões onde o Ebola está ativo e que apresentam esses sintomas devem ser isolados do público em geral, recomendam os CDC.

Os trabalhadores de saúde devem seguir as precauções exigidas para o controle de infecções. Precisam usar máscaras, luvas e batas de mangas compridas enquanto cuidam dos pacientes.

Os CDC também recomendam a higiene rotineira das mãos antes e depois do contato com um paciente com febre, assim como cuidados extremos no uso e no descarte de agulhas e seringas.

O período de incubação do Ebola - ou seja, o lapso entre a infecção e o aparecimento dos sintomas - é de 21 dias.

Evite carne crua
O Ebola atinge as populações humanas depois que as pessoas têm contato com o sangue, os órgãos ou os fluidos corporais de animais infectados. Os morcegos frugívoros são seu hospedeiro natural.

"Na África, tem sido documentada a infecção através do contato com chimpanzés, gorilas, morcegos frugívoros, macacos, antílopes e porcos-espinhos infectados que foram encontrados mortos na selva", destaca a OMS.

As pessoas devem evitar comer ou tocar na carne crua de animais silvestres.

Se houver suspeitas de um surto em uma fazenda de macacos ou porcos, a OMS recomenda colocar toda a estrutura em quarentena e sacrificar os animais infectados, "supervisionando de perto o enterro ou a incineração das carcaças".

Não existem vacina contra o Ebola.

Descobridor do Ebola não acredita em grande epidemia fora da África
O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus Ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano e pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos. Mesmo que uma pessoa portadora do Ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, "não acho que isto possa causar uma epidemia importante", declarou à AFP este cientista que atualmente chefia a prestigiosa Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Peter Piot foi o codescobridor do vírus Ebola em 1976, quando tinha apenas 27 anos. Depois, ele foi diretor do programa ONUAids das Nações Unidas. "Eu não estou muito preocupado com a ideia de que o vírus seja transmitido aqui na população", acrescentou. "Não me preocuparia em ficar sentado no metrô ao lado de uma pessoa portadora do vírus Ebola contanto que não vomite em cima de mim ou algo do tipo", afirmou, lembrando que esta é "uma infecção que requer um contato muito próximo".

É preciso descobrir se os tratamentos experimentais funcionam
O professor Peter Piot lembrou que existem várias vacinas e tratamentos contra o Ebola que tiveram resultados promissores em animais e propôs testá-los nos seres humanos nas zonas afetadas. "Acho que chegou a hora, pelo menos nas capitais, de oferecer estes tratamentos para um uso compassivo (uma regulamentação que permite tornar legal o uso de medicamentos não autorizados), mas também descobrir se são eficazes para que estejam preparados para a próxima epidemia", afirmou.

De acordo com este especialista, a história recente da Libéria e de Serra Leoa complica os esforços mobilizados na luta contra o vírus que pode ser mortal para 25% a 90% da população afetada e que já deixou 729 mortos no oeste da África. "Não esqueçamos que estes países saem de décadas de guerra civil", disse.

"Libéria e Serra Leoa tentam agora se reconstruir. Portanto, há uma falta total de confiança nas autoridades que, somada à pobreza e aos serviços de saúde medíocres, é na minha opinião, a causa desta grande epidemia", destacou. Em 1976, este cientista, que trabalhava em um laboratório em Antuérpia (Bélgica), contribuiu para isolar um novo vírus, chamado depois de Ebola, na amostra de sangue de uma religiosa católica morta no então Zaire, hoje República Democrática do Congo.

Depois, viajou para Yambuku, uma aldeia no antigo Zaire, onde o vírus do Ebola matava "uma pessoa em cada dez ou em cada oito". "Eu estava com medo, mas tinha só 27 anos, nessa idade você se acha invencível", lembrou.

Os pesquisadores perceberam que a maioria das pessoas infectadas era de mulheres entre 20 e 30 anos, que frequentavam uma clínica para consultas pré-natais. Descobriu-se que o vírus tinha sido transmitido através de um punhado de agulhas, mal desinfetadas, que eram usadas várias vezes nas mulheres grávidas.

Outra rede de contaminação estava vinculada a práticas funerárias. "Uma pessoa que morreu de Ebola tem o corpo coberto com o vírus por causa dos vômitos, da diarreia e do sangue", explicou. "Está claro que novos vírus surgem constantemente e que o Ebola voltará, tomara que não seja com esta magnitude", advertiu.

A epidemia atual foi declarada no começo deste ano na Guiné, antes de se espalhar para a Libéria e, em seguida, para Serra Leoa, três países vizinhos que até esta quinta-feira totalizavam 1.300 casos, 729 dos quais mortais, segundo o último registro da Organização Mundial da Saúde.

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