Hidrogel reduz rejeição após transplante
Tecnologia desenvolvida por um grupo internacional de cientistas surge como solução para efeitos colaterais de imunossupressores
Flávia Franco - Correio Braziliense
Publicação:29/08/2014 13:30Atualização: 27/08/2014 11:23
Os imunossupressores são medicamentos prescritos em caso de transplante para evitar que o organismo rejeite o órgão doado. Essas substâncias, no entanto, podem agredir rins e fígado devido ao excesso de toxinas que liberam. Uma tecnologia desenvolvida por um grupo internacional de cientistas surge como solução para esse problema: ela pode melhorar a aceitação da parte do corpo recém- recebida e reduzir os efeitos colaterais causados pelos remédios tradicionais.
Publicada na revista Science Translational Medicine, a pesquisa consiste em um hidrogel com capacidade de identificar a necessidade de ação dos imunossupressores e de direcionar a liberação deles apenas para os locais em que precisam agir. O material gelatinoso seria colocado no paciente logo após o transplante. No caso do estudo, a intenção é auxiliar no complexo processo de reconstrução de mãos em amputados ou pessoas que perderam a função do membro.
O hidrogel, composto por tacrolimus, um imunossupressor conhecido, permanece inativo até identificar uma inflamação ou uma resposta imune no local de transplante. A combinação de ações — identificar a rejeição e agir especificamente sobre ela — é, segundo os cientista, o segredo para o sucesso da técnica.
Em experimento com camundongos, o hidrogel com tacrolimus impediu a rejeição do enxerto por mais de 100 dias. O feito é notável quando comparado aos 35 dias das cobaias que receberam apenas as doses do imunossupressor e aos 11 dias dos bichos não submetidos a tratamento. “Essa abordagem segura e controlada funcionou por mais de três meses com uma única injeção contendo hidrogel”, conta Jeff Karp, um dos autores da pesquisa.
Complexidade
Apesar do aparente sucesso nos testes, Gatto faz ressalvas. “Tudo que essa pesquisa fez foi chamar a atenção para uma nova tecnologia, mas ainda precisamos avaliar os efeitos colaterais, como vai ser a liberação da droga e por aí vai.” Karp pondera ainda que é preciso desenvolver experimentos em outras condições. Isso porque os ratos foram mantidos em ambientes que dificultam a proliferação de infecções. O cientista afirma que uma simples gripe poderia desencadear a rejeição de um enxerto. A intenção em estudos futuros é mostrar que o hidrogel pode ajudar na prevenção de uma rejeição causada por exposição à patógenos.
Composta por ossos, músculos, tecidos, nervos, veias e pele, a mão humana tem inúmeras células imunogências, ou seja, que apresentam alta taxa de rejeição. “Isso ocorre porque o próprio sistema imunológico identifica quando uma célula não pertence ao corpo. Por isso, ele tenta eliminá-la. É como um mecanismo de defesa”, afirma Gatto.
No caso do VCA, a grande quantidade de células enxertadas ativa o sistema de rejeição de forma muito intensa. “O desafio da imunossupressão vai ser muito grande para não perder aquele tecido”, reforça. O médico do HUB complementa ressaltando que não existem transplantes de pele viáveis. “É como um couro de animal. Usamos como curativo, enquanto a pele do paciente se regenera. O enxerto não vai crescer novamente”, explica.
Simulação de uma mão transplantada que recebeu o hidrogel inteligente
Publicada na revista Science Translational Medicine, a pesquisa consiste em um hidrogel com capacidade de identificar a necessidade de ação dos imunossupressores e de direcionar a liberação deles apenas para os locais em que precisam agir. O material gelatinoso seria colocado no paciente logo após o transplante. No caso do estudo, a intenção é auxiliar no complexo processo de reconstrução de mãos em amputados ou pessoas que perderam a função do membro.
O hidrogel, composto por tacrolimus, um imunossupressor conhecido, permanece inativo até identificar uma inflamação ou uma resposta imune no local de transplante. A combinação de ações — identificar a rejeição e agir especificamente sobre ela — é, segundo os cientista, o segredo para o sucesso da técnica.
Em experimento com camundongos, o hidrogel com tacrolimus impediu a rejeição do enxerto por mais de 100 dias. O feito é notável quando comparado aos 35 dias das cobaias que receberam apenas as doses do imunossupressor e aos 11 dias dos bichos não submetidos a tratamento. “Essa abordagem segura e controlada funcionou por mais de três meses com uma única injeção contendo hidrogel”, conta Jeff Karp, um dos autores da pesquisa.
Complexidade
Apesar do aparente sucesso nos testes, Gatto faz ressalvas. “Tudo que essa pesquisa fez foi chamar a atenção para uma nova tecnologia, mas ainda precisamos avaliar os efeitos colaterais, como vai ser a liberação da droga e por aí vai.” Karp pondera ainda que é preciso desenvolver experimentos em outras condições. Isso porque os ratos foram mantidos em ambientes que dificultam a proliferação de infecções. O cientista afirma que uma simples gripe poderia desencadear a rejeição de um enxerto. A intenção em estudos futuros é mostrar que o hidrogel pode ajudar na prevenção de uma rejeição causada por exposição à patógenos.
Saiba mais...
Giuseppe Gatto, membro da equipe de transplantes do Hospital Universitário de Brasília (HUB), segue na mesma linha. Segundo ele, é necessário ressaltar que o estudo foi conduzido apenas com ratos, em níveis experimentais. “Transplantes de multitecidos, chamados VCA, como o de mão, são muito complexos”, afirma.Composta por ossos, músculos, tecidos, nervos, veias e pele, a mão humana tem inúmeras células imunogências, ou seja, que apresentam alta taxa de rejeição. “Isso ocorre porque o próprio sistema imunológico identifica quando uma célula não pertence ao corpo. Por isso, ele tenta eliminá-la. É como um mecanismo de defesa”, afirma Gatto.
No caso do VCA, a grande quantidade de células enxertadas ativa o sistema de rejeição de forma muito intensa. “O desafio da imunossupressão vai ser muito grande para não perder aquele tecido”, reforça. O médico do HUB complementa ressaltando que não existem transplantes de pele viáveis. “É como um couro de animal. Usamos como curativo, enquanto a pele do paciente se regenera. O enxerto não vai crescer novamente”, explica.