Sobra caloria e falta sono entre os jovens
Estudo aponta adolescentes com problemas para dormir como principais adeptos dos lanches da madrugada. Em média, eles ingerem 10% a mais de energia do que o recomendado
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:11/03/2015 11:15
Passar a noite em claro assistindo a um seriado ou jogando videogame é comum entre os adolescentes, principalmente nos fins de semana. Já se sabe que essa desregulação do sono pode trazer prejuízos à saúde. Mas as complicações podem ser ainda maiores, alertam cientistas da Penn State University College of Medicine, nos Estados Unidos. Isso porque, além de dormir mal, os jovens se alimentam incorretamente durante as longas sessões de diversão. Obesidade e desregulação hormonal são as principais consequências da união dos maus hábitos, indica o estudo apresentado, nesta semana, na reunião anual da Associação Americana do Coração.
Participaram do estudo 32 adolescentes, que tiveram a dieta e o sono analisados durante sete dias. Os jovens foram monitorados por pulseiras para a mensuração do ritmo biológico e responderam a um questionário sobre hábitos alimentares durante o ano anterior à pesquisa. Como resultado, os cientistas notaram que os participantes que sofriam mais alterações no sono eram aqueles que mais se alimentavam de forma errada. Costumavam, por exemplo, fazer lanches calóricos de madrugada. De uma forma geral, ingeriam 201 calorias a mais do que a quantidade recomendada (2 mil calorias).
“Nós descobrimos que é a variação na duração do sono, em vez da própria duração do sono, associada com hábitos dietéticos pouco saudáveis, que reflete em um desequilíbrio do corpo”, destaca o autor da pesquisa. Segundo Fan He, grandes variações na duração do sono estão relacionadas à maior ingestão de energia, especialmente a partir de gorduras e carboidratos. “E isso pode ser atribuído ao lanche, que é baixo em nutrientes, tem como base alimentos altamente energéticos e é feito especialmente depois do jantar”, completa.
Qualquer idade Patrícia Brunck, endocrinologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, ressalta que as consequências de dormir e comer mal em outros públicos têm sido tratadas pelos cientistas, que chegam a resultados similares aos da equipe liderada por Fan He. “Sabemos que pessoas que trabalham em períodos noturnos, como guardas, médicos e enfermeiros, têm uma rotina de sono diferente e uma tendência a se alimentar mal e a ganhar peso. Esse estudo frisa o perfil dos adolescentes, mas isso é algo que vale em qualquer idade”, alerta.
No caso dos adolescentes, a médica também credita boa parte dos problemas de saúde aos lanches da madrugada. “Eles viram a noite mexendo no computador e no celular. Por conta disso, acabam comendo mais besteira, beliscando alimentos com alto valor calórico. Isso influencia no ganho de peso”, destaca Brunck. Endocrinologista e preceptora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Junia Ribeiro ressalta que a combinação dos hábitos também pode provocar desregulações hormonais. O pico do cortisol – hormônio que deixa o corpo preparado para situações de perigo – ocorre de manhã e é necessário para o corpo enfrentar o resto do dia. As pessoas que não dormem em horários regulares perdem esse processo.
Outro problema está ligado ao GH, o hormônio do crescimento, que se desenvolve durante a noite. “Caso seja interrompido pelas noites maldormidas, pode prejudicar muito os adolescentes, ainda em fase de crescimento”, explica a especialista. Junia Ribeiro também destaca que os jovens precisam de mais tempo de sono do que os adultos. Em média, de oito a 10 horas por dia.
No estudo divulgado nesta semana, porém, a maioria dos participantes dormia sete horas. “Acreditamos que pode ser mais importante ter um padrão regular de sono do que dormir mais durante um dia e menos em outro”, defende Fan He. O líder do estudo ressalta ainda que outros estudos são necessários para confirmar o relacionamento entre poucas horas de sono e excesso de peso. “Mas nossos resultados podem nos ajudar a entender melhor como a obesidade se desenvolve entre os jovens”, avalia.
Falhas nas medidas
O hormônio do crescimento é produzido pela hipófise, uma pequena glândula localizada na parte inferior do cérebro. Está ligado ao crescimento físico. Por isso, desregulações na produção do GH podem causar problemas como o nanismo e a estatura abaixo da média. Se for produzido em excesso, há o risco do desenvolvimento de problemas como a acromegalia, um crescimento exagerado das orelhas, do nariz, dos pés e das mãos. Na vida adulta, o GH contribui para a manutenção da massa magra e da queima de gordura.
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“Distúrbios e privação do sono estão se tornando queixas comuns. Coerente com essa questão é a epidemia de obesidade. Estudos anteriores relataram que o sono curto está associado ao excesso de peso”, diz Fan He, principal autor do estudo e epidemiologista da universidade. Segundo o especialista, o funcionamento do metabolismo humano explica a ligação entre os dois problemas. Ele é mais baixo quando o sono não cumpre as horas necessárias para o funcionamento correto do corpo. “Do ponto de vista comportamental, pode ser que o que as pessoas fazem quando não dormem esteja contribuindo para esse desarranjo. Portanto, realizamos esse estudo para investigar a associação entre o padrão de sono e a ingestão de alimentos”, complementa Fan He.- Descoberta relação entre perda de sono e diabetes
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Participaram do estudo 32 adolescentes, que tiveram a dieta e o sono analisados durante sete dias. Os jovens foram monitorados por pulseiras para a mensuração do ritmo biológico e responderam a um questionário sobre hábitos alimentares durante o ano anterior à pesquisa. Como resultado, os cientistas notaram que os participantes que sofriam mais alterações no sono eram aqueles que mais se alimentavam de forma errada. Costumavam, por exemplo, fazer lanches calóricos de madrugada. De uma forma geral, ingeriam 201 calorias a mais do que a quantidade recomendada (2 mil calorias).
“Nós descobrimos que é a variação na duração do sono, em vez da própria duração do sono, associada com hábitos dietéticos pouco saudáveis, que reflete em um desequilíbrio do corpo”, destaca o autor da pesquisa. Segundo Fan He, grandes variações na duração do sono estão relacionadas à maior ingestão de energia, especialmente a partir de gorduras e carboidratos. “E isso pode ser atribuído ao lanche, que é baixo em nutrientes, tem como base alimentos altamente energéticos e é feito especialmente depois do jantar”, completa.
Qualquer idade Patrícia Brunck, endocrinologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, ressalta que as consequências de dormir e comer mal em outros públicos têm sido tratadas pelos cientistas, que chegam a resultados similares aos da equipe liderada por Fan He. “Sabemos que pessoas que trabalham em períodos noturnos, como guardas, médicos e enfermeiros, têm uma rotina de sono diferente e uma tendência a se alimentar mal e a ganhar peso. Esse estudo frisa o perfil dos adolescentes, mas isso é algo que vale em qualquer idade”, alerta.
No caso dos adolescentes, a médica também credita boa parte dos problemas de saúde aos lanches da madrugada. “Eles viram a noite mexendo no computador e no celular. Por conta disso, acabam comendo mais besteira, beliscando alimentos com alto valor calórico. Isso influencia no ganho de peso”, destaca Brunck. Endocrinologista e preceptora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Junia Ribeiro ressalta que a combinação dos hábitos também pode provocar desregulações hormonais. O pico do cortisol – hormônio que deixa o corpo preparado para situações de perigo – ocorre de manhã e é necessário para o corpo enfrentar o resto do dia. As pessoas que não dormem em horários regulares perdem esse processo.
Outro problema está ligado ao GH, o hormônio do crescimento, que se desenvolve durante a noite. “Caso seja interrompido pelas noites maldormidas, pode prejudicar muito os adolescentes, ainda em fase de crescimento”, explica a especialista. Junia Ribeiro também destaca que os jovens precisam de mais tempo de sono do que os adultos. Em média, de oito a 10 horas por dia.
No estudo divulgado nesta semana, porém, a maioria dos participantes dormia sete horas. “Acreditamos que pode ser mais importante ter um padrão regular de sono do que dormir mais durante um dia e menos em outro”, defende Fan He. O líder do estudo ressalta ainda que outros estudos são necessários para confirmar o relacionamento entre poucas horas de sono e excesso de peso. “Mas nossos resultados podem nos ajudar a entender melhor como a obesidade se desenvolve entre os jovens”, avalia.
Falhas nas medidas
O hormônio do crescimento é produzido pela hipófise, uma pequena glândula localizada na parte inferior do cérebro. Está ligado ao crescimento físico. Por isso, desregulações na produção do GH podem causar problemas como o nanismo e a estatura abaixo da média. Se for produzido em excesso, há o risco do desenvolvimento de problemas como a acromegalia, um crescimento exagerado das orelhas, do nariz, dos pés e das mãos. Na vida adulta, o GH contribui para a manutenção da massa magra e da queima de gordura.