Envelhecimento da população torna curso de vida mais dinâmico, integrado e cheio de vitalidade

Quem conseguiu chegar bem é porque se preparou para a vida e para o futuro

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Publicação:27/09/2015 09:44Atualização:27/09/2015 10:07
O empresário Pedro Trindade, de 72 anos, voltou à faculdade para cursar direito e ainda divide seu tempo entre o trabalho, a namorada, os filhos e as bikes (Jair Amaral/EM/D.A Press)
O empresário Pedro Trindade, de 72 anos, voltou à faculdade para cursar direito e ainda divide seu tempo entre o trabalho, a namorada, os filhos e as bikes


Envelhecer bem será privilégio de quem acumular quatro capitais necessários para seguir relevante na sociedade: saúde, conhecimento, rede de relações e dinheiro. Para Alexandre Kalache, presidente da Aliança Global dos Centros Internacionais da Longevidade e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), muitos chegarão bem à maturidade, outros não. “Alguns não conseguirão, por ter uma carga genética determinante de uma doença crônica, ou porque foram pobres por toda a vida, ou por ter tido uma personalidade que não promoveu as relações sociais”, alerta.


Mas os que chegam bem, necessariamente, são os que tiveram boas oportunidades desde o início e investiram no futuro. “A inclusão social é determinante. Aquele que teve menos acesso durante toda a vida vai envelhecer pior, a não ser que tenha uma personalidade tão excepcional que lhe permita dar a volta por cima”, acredita o especialista, segundo o qual o que chama de a Revolução da Longevidade está sendo protagonizada por uma geração de pessoas com mais de 60 anos, que conseguiu, lá atrás, se preparar para a vida, e não para a velhice. Esses são aqueles que não vão parar simplesmente porque fizeram 60 anos ou mais.

Andrea Prates, geriatra e gerontóloga (Andre Velozo/Divulgação)
Andrea Prates, geriatra e gerontóloga
Para a geriatra e gerontóloga Andréa Prates, que foi colaboradora do Programa Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS) e consultora do estudo “Panorama da Maturidade”, primeira e maior pesquisa de opinião sobre a população idosa nas regiões metropolitanas do Brasil, é preciso aceitar o processo de envelhecimento como algo natural, cheio de possibilidades positivas. “A atitude da pessoa perante o envelhecimento faz toda a diferença nesse processo, pois a ajuda a estabelecer uma outra parceria com o tempo”, completa. Há todo um bônus em longevidade para aproveitar.


O envelhecimento é um processo marcado por mudanças em função do tempo. Esse ciclo biológico é pautado por aspectos individuais e ambientais, sociais e históricos. A sociedade pré-industrial configurou um curso de vida linear, dividido em três fases definidas. Havia uma época para cada coisa: primeiro a educação, depois o trabalho e a formação da família e, por último, o descanso. A aposentadoria, por exemplo, foi uma invenção da Alemanha, em 1878, para viabilizar tal modelo. Segundo Andréa, naquela época, a expectativa de vida era de 40 anos, mas hoje, 130 anos depois, vivemos praticamente sob as mesmas regras, o que causa uma distorção na sociedade.

VIVER A VIDA “Esse modelo valia para aquele momento, não mais. Hoje, nos aposentamos com 60 anos, mas vivemos muito além disso. Ganhamos anos extras e a tendência é que eles sejam distribuídos pelas etapas anteriores.” Não dá, portanto, para se aposentar e pensar que acabou. Embora isso ocorra. “Hoje, as pessoas seguem investindo em formação, descansam durante a idade produtiva, em um ano sabático, por exemplo. Deixamos de ter marcos cronológicos para ter um curso de vida mais dinâmico, mais integrado, com muito mais vitalidade. As etapas estão se dissolvendo, assim como a definição do que é certo para cada idade”, defende.

Pedro Trindade, de 72 anos, é um exemplo. Formado em filosofia e economia, casou-se, teve filhos, aposentou-se como gerente de banco, montou um negócio de bicicletas, separou-se, voltou recentemente para a faculdade para cursar direito e tem um novo relacionamento. Leva uma vida normal, como deveriam levar outras pessoas de sua idade. E se assusta em ver gente bem mais nova não se permitindo “viver a vida”. “Outro dia, um cliente procurava uma bicicleta para o filho. Quando sugeri que comprasse uma para ele também, ouvi que ele estava velho para isso. Então, idade é algo relativo. Tem gente velha com 40 anos, e gente jovem aos 70”, acredita.


RUMO AOS 80 

Dados do Relatório da Organização das Nacões Unidas (ONU) apontam que, em 2021, serão mais de 1,2 bi de idosos com mais de 60 anos no mundo. Em 1950, em todo o mundo, 14 milhões de pessoas tinham mais de 80 anos. Em 2050, estima-se que esse grupo será de 389 milhões de pessoas: 27 vezes maior em 100 anos. Nesse mesmo período, a população geral crescerá 3,7 vezes. Vinte e três países já têm média de expectativa de vida superior a 80 anos, caso do Japão, Coreia, Cingapura, quase todo o Norte europeu, Alemanha, França, Espanha, Itália, Cuba, Costa Rica e Chile. Não são necessariamente os países mais ricos, mas aqueles que mais investiram no que é essencial para uma revolução da longevidade bem-sucedida: educação. No Brasil, a cada três anos, a expectativa de vida aumenta em um ano. Em 2013, ano do dado mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a esperança de vida de um brasileiro ao nascer era de 74,9 anos. Hoje, chega a 76.

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