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Pesquisa detecta região do cérebro que torna pessoas capazes de fazer o bem aos outros

Achado pode ajudar a entender distúrbios como a psicopatia

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Vilhena Soares - Correio Braziliense Publicação:31/08/2016 15:00Atualização:31/08/2016 15:33
A empatia é uma peça fundamental para entender os chamados comportamentos pró-sociais (CB / D.A Press)
A empatia é uma peça fundamental para entender os chamados comportamentos pró-sociais
“Amar o próximo é tão démodé.” Com esse verso, da canção Baader-Meinhof blues, o líder da Legião Urbana, Renato Russo, refletia sobre a generosidade, ou a falta dela. Ele não estava sozinho. Entender o que leva uma pessoa a fazer o bem a outra, muitas vezes de forma desinteressada, é uma preocupação de cientistas de diversas áreas, da antropologia à neurociência. Em um estudo recentemente publicado na revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), especialistas do Reino Unido afirmam ter encontrado uma região do cérebro diretamente ligada a esse tipo de ação, um achado que pode ajudar a entender melhor o comportamento humano e distúrbios psiquiátricos como a psicopatia.

Responsável pelo trabalho, Patricia Lockwood explica que o sentimento de empatia, ou a habilidade de se colocar no lugar do outro, é uma peça fundamental para entender os chamados comportamentos pró-sociais, mas o tema permanece repleto de questões em aberto. “Embora a maioria das pessoas tenha uma inclinação notável para se envolver em comportamentos pró-sociais, existem diferenças substanciais entre os indivíduos. A empatia, a capacidade de sentir a experiência do próximo e entender seus sentimentos, foi apresentada como um motivador crítico de comportamentos pró-sociais, mas nós quisemos testar por que isso ocorre e como eles estão ligados”, diz a pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

A cientista conta que o ponto de partida foram estudos feitos anteriormente com primatas. “Encontrei um artigo recente no qual os cientistas mostravam que o comportamento pró-social de macacos parece ligado à amígdala (região do cérebro) e à ocitocina (neurotransmissor)”, lembra Lockwood. Assim, ela e colegas decidiram investigar o tema em humanos, contando para isso com a ajuda de 31 voluntários, todos homens adultos.

No experimento, os participantes eram monitorados por um aparelho de ressonância magnética enquanto realizavam um teste que consistia em dividir certas imagens entre eles mesmos e outras pessoas. Alguns dos símbolos só geravam recompensa ao outro, e outros ao próprio participante. Cabia a cada pessoa aprender sozinha que algumas figuras estavam ali para beneficiar outra pessoa, o que acabava rendendo maiores recompensas também para quem estava fazendo o teste.

O exame mostrou que uma determinada região do cérebro era mais ativada durante as decisões solidárias. “Há muitas áreas cerebrais que parecem envolvidas na empatia. Mas a parte específica chamada córtex cingulado anterior subgenual era a única ativada quando os voluntários ajudavam outras pessoas”, explica Lockwood. “Em outras palavras, ela parece estar sintonizada especificamente com fazer bem aos outros.”

Auxílio
Um detalhe que chamou a atenção da equipe de investigadores é que a ativação dessa porção do córtex variou bastante de indivíduo para indivíduo. Ela foi maior naqueles que, em questionários, mostraram ter um nível de empatia. Esses também foram os que levaram menos tempo para perceber que algumas figuras se destinavam apenas a fazer bem a outra pessoa.

“A região não foi ativada igualmente em cada sujeito. Os voluntários que se classificaram como tendo níveis mais elevados de empatia aprenderam a beneficiar os outros mais rapidamente do que aqueles que relataram ter níveis mais baixos de empatia. Eles também mostraram aumento da sinalização na área subgenual quando beneficiavam outros”, detalha a autora.

Os investigadores acreditam que o achado pode ajudar a explicar problemas psiquiátricos em que a falta de empatia está presente. “Existem muitos distúrbios de comportamento social, como a psicopatia, na qual as pessoas não possuem empatia. Ao entender mais sobre como diferentes regiões do cérebro estão envolvidas em comportamentos sociais, poderíamos desenvolver intervenções para ajudar esses pacientes”, avalia a pesquisadora de Oxford.

Intervenções
Fernanda Ramalho, psiquiatra do Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro, concorda com a avaliação da autora do estudo sobre a psicopatia. “Ainda não sabemos por que essas pessoas não conseguem ter amor ao próximo. Descobrir áreas cerebrais ligadas a esse sentimento nos ajudaria a encontrar uma solução para uma doença que continua sem cura. Talvez eles tenham essa região menos desenvolvida e intervenções que corrijam esse problema seriam uma saída”, pondera a médica, que não participou do estudo.

A psiquiatra também acredita que o trabalho britânico poderia ter continuidade, com estudos direcionados a questões específicas. “Caso a pesquisa fosse feita com psicopatas e a falta de ativação nessa área fosse vista, teríamos mais dados para corroborar essa hipótese”, acrescenta.

De acordo com Ramalho, estudos com ressonância magnética têm grande potencial para auxiliar a medicina, especialmente a psiquiatria. “Infelizmente, temos pouco para mostrar sobre as causas de muitas doenças. É difícil confirmarmos os motivos que levaram uma pessoa a ter depressão, por exemplo.”

Como próximo passo, os investigadores do Reino Unido pretendem analisar regiões ainda mais complexas do cérebro e buscar relacioná-las com a empatia. “O estudo feito com os macacos no qual nos inspiramos é realmente fascinante, porque identifica neurônios individuais que respondem quando um animal beneficia outro. É algo muito difícil de fazer em seres humanos. Seria fascinante acompanhar o córtex cingulado anterior subgenual para ver se essa região também contém neurônios que respondem quando beneficiamos os outros”, diz Patricia Lockwood.

“Há muitas áreas cerebrais que parecem envolvidas na empatia. Mas a parte específica chamada córtex cingulado anterior subgenual era a única ativada quando os voluntários ajudavam outras pessoas” - Patricia Lockwood, pesquisadora da Universidade de Oxford, no Reino Unido

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