— Vamos lá no Cult 22, Aldus?
— O que tem lá?
— Uma banda vai tocar rock dos anos 1980. Legião Urbana ainda está na moda.
— Pô, Ricardo, minha pressão anda um pouco alta, meu regime… não sei...
— Vamos, a gente toma uns uísques.
— O médico me proibiu de beber destilados. Agora, só vinho e cerveja. (...) Ahh! Sabe de uma coisa: eu vou. A gente se encontra lá.
Desliguei o celular e fui pro banho. Como sempre, só entro no banheiro ouvindo um Black Sabbath ou Deep Purple, mania de adolescente. Diante do espelho, pareço o Ronaldo Fenômeno, com a tolha envolta na cintura (espelho engorda a gente). Me arrumei e acelerei meu Celta 2008 para o Lago Norte. A entrada do bar estava agitada; por sorte, mais mulheres do que homens — colírio é sempre bom.
Encontrei Ricardo, meu amigo das antigas, já com um pint de Guinness na mão. A banda tocava The Cure. A energia estava boa.
— Mas não era uísque que a gente ia beber?
— Meu dinheiro está curto, ando até falando grego, um pouquinho de espanhol também.
Chope vai, chope vem, flertes e mais flertes, como nos anos 1980. Anos dos vinis, do Chevette Hatch, de Brasília — a capital do melhor rock’n’roll. De Renato Russo cantando a saga de Eduardo e Mônica. Hoje a coisa está mudada: celular, iPad, iPhone, Facebook, Twitter, shopping...
Revi velhos amigos e suas barrigas de chope. Todo mundo ainda acelerado. E a banda agora tocando David Bowie, The Clash, U2.
Célia, amigona das antigas, veio do banheiro com a cara fechada, cara de desaforo.
— Que foi, Célia?
— Ouvi duas meninas comentando sobre a festa e uma delas disse: “Aqui tá cheio de senhorinhas”. Senhorinhas, uma ova.
— Dei uma gargalhada e pedi mais uma bebida.
E a banda sapecava o que tinha de melhor nos anos 80. A turma animada com seus cabelos rareados ou tingidos. O embalo estava ótimo. Todo mundo cantando, dançando. De repente, uma deusa de uns vinte e poucos anos vem em minha direção. Não acreditei, olhei para um lado, olhei para o outro. Era comigo mesmo. Ela parecia modelo recém-saída das passarelas do Brasília Fashion Week. Vinha em câmara lenta em minha direção. Ai meu coraçãozinho...
— Você é Aldus Paice? O jornalista da coluna?
— Sim, sou eu – falei, não escondendo a surpresa.
— Você conhece a Sibele?
— Claro, estudei com ela na UnB.
— Pois é, ela é minha mãe e gosta muito do que você escreve.
“Minha mãe”, “Minha mãe”, “Minha mãe”, a frase ficou ecoando dentro do meu cabeção. Deixei o copo de chope cair.
— Machucou, tio? “Tio”, “Tio”, “Tio”.