>15 mil onças pintadas vivem em seu hábitat na América do Sul e na América do Norte
>420 amostras genéticas de animais ameaçados de extinção estão armazenadas em um banco
de DNA do Embrapa Cerrados
A ciência como instrumento para ajudar a salvar exemplares da fauna brasileira ameaçados de extinção. Pela primeira vez na história, animais selvagens serão clonados, em um projeto que envolve espécimes da Fundação Jardim Zoológico de Brasília.
Pesquisadores e técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados), além de biólogos e veterinários do zoológico, usarão material genético formado a partir de animais mortos por atropelamento nas rodovias. “Temos fibroblastos (células do tecido conjuntivo) e sêmen armazenados em nitrogênio líquido”, conta o médico veterinário Carlos Frederico Martins, doutor em biologia molecular pela Universidade de Brasília (UnB) e líder do projeto, junto à Embrapa Cerrados.
O banco de DNA inclui 420 amostras de várias espécies, entre elas o lobo guará, a onça-pintada, o veado-catingueiro, o mico-leão preto, o macaco-prego, o furão, o quati e o cachorro-do-mato.
“O propósito é estudar a técnica de transferência nuclear, nunca antes utilizada em espécies silvestres. O objetivo final é clonar um animal. Por se tratar de um estudo de longo prazo e que envolve várias etapas, não podemos afirmar quantas espécies serão clonadas”, explica Martins. No entanto, o especialista admite que a onça pintada e o lobo-guará têm prioridade, pela proximidade desses animais com os felinos e os cães. “Essa pesquisa de clonagem é bem complexa e de alto risco. A clonagem de bovinos mostrou uma baixa eficiência dessa técnica (entre 5% e 7%). Nos animais silvestres, dos quais conhecemos pouco, isso será muito mais complexo.”
De acordo com Martins, o estudo começou com o isolamento celular e com experimentos de criopreservação do material obtido. A fase seguinte seria a obtenção dos gametas femininos e os estudos de maturação in vitro para que ocorra a transferência nuclear, também chamada de clonagem. O procedimento consiste em retirar o núcleo de um ovócito (célula germinativa que forma o óvulo) e substituí-lo por uma célula do animal a ser clonado.
O veterinário Carlos Frederico Martins, doutor em biologia molecular pela UnB, é líder
do projeto: "O objetivo final é clonar um animal"
O novo núcleo será incorporado ao citoplasma dos ovócitos por meio de eletrochoques. Em seguida, o ovócito — já reconstruído — será cultivado em estufas, a fim de garantir o desenvolvimento do embrião clonado. “Ele poderá ser criopreservado ou introduzido no útero do animal para ocorrer a gestação”, explica o pesquisador.
Superintendente de conservação e pesquisa da Fundação Jardim Zoológico de Brasília, a bióloga Juciara Elise Pelles explica que o projeto, inicialmente, fará experiências com células de animais ameaçados de extinção, entre eles, o lobo-guará, a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o cachorro-do-mato-vinagre — todas essas espécies estão presentes no plantel do zoo. “A ideia do projeto é garantir a preservação das espécies e, no futuro, evitar a retirada de animais da natureza para exposição em cativeiro”, sustenta Juciara. Segundo ela, já foram coletadas amostras de células, de sêmen e de tecidos das espécies, dentro do hospital veterinário do zoológico. “A experiência de clonagem deu certo em animais domésticos. Por isso, os técnicos acreditam no sucesso em animais silvestres”, diz a bióloga.
A ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado e nascido em 5 de julho de 1996, morreu menos de sete anos depois, ao desenvolver uma artrite severa e uma doença pulmonar progressiva. O líder da pesquisa garante que todos os animais nascidos a partir da experiência de clonagem permanecerão no Jardim Zoológico de Brasília. “Eles serão monitorados, para avaliação de sua fisiologia”, afirma Martins.