POP: Diego Azevedo
Estrada musical: Com 6 anos começou a cantar e aos 11 já tocava violão. No início da adolescência entrou para a Escola de Música de Brasília, onde estudou por quatro anos canto e contrabaixo. A partir daí liderou a banda de reggae Fator RH, finalista de festivais de destaque da cidade, e passou a fazer parte do circuito de bares e restaurantes, tocando MPB em formato de voz e violão. Em 2012, em carreira solo e estilo pop dançante, participou do programa The Voice Brasil, da Rede Globo, tendo como mentor Lulu Santos.
Onde ouvir: Apresenta pelo Brasil e em casas da cidade o show Lembranças, acompanhado de banda, com agenda aberta. Ainda no primeiro semestre deve mostrar seu lado compositor com o lançamento do primeiro CD solo e independente."Para mim, música, antes de tudo, é informação. Eu quero fazer uma coisa animada, mas que também tenha poesia, que é o mais importante."
"O altiplano, o infinito descampado. No princípio era o agreste: o céu azul, a terra vermelho-pungente. E o verde triste do cerrado." O trecho de Sinfonia da Alvorada, sobre o projeto ousado de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, é a referência da capital federal no fim dos anos 1960, musicada por Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a pedido de Juscelino Kubitschek. Quando a cidade sem esquinas nem ousava voar além do Plano Piloto, sua história já era erguida em base musical. Entretanto, foi na década de 1980, com uma geração jovem e já crescida entre quadras, que buscava fugir da monotonia das poucas opções de diversão na cidade, que a capital foi ouvida.
SAMBA-REGGAE: Camafeu
Estrada musical: Sob a imagem de Guga Santana, a banda, voltada para o ritmo percussivo com leituras de clássicos do axé music, circula em Brasília há dois anos. O vocalista, que também integra um grupo de black music, iniciou sua carreira em 2000 cantando axé e pagode. Em uma temporada na Bahia, participou do grupo Patrulha do Samba, com o qual fez turnê por todo o Brasil. De volta à capital, cantou com bandas como Squema Seis e Joy Band.
Onde ouvir: Frequente em clubes e casas noturnas da cidade, a banda se apresenta todos os domingos no Empório Santo Antônio, do Píer 21.
"As pessoas têm medo de buscar a influência, eu não. Eu acho que todo mundo sente alguma coisa com a música da Bahia, independentemente do estilo, e o nosso foco é a nostalgia."
Em meio a uma galera que queria falar mais alto do que os anos anteriores que a calaram durante a ditadura, Brasília juntou letra com acorde e fez história. Mais de duas décadas depois, o espaço conhecido pelo rock de Renato Russo e toda a famosa "turma da Colina" cede lugar para o som contagiante do bandolim, da sanfona universitária e das longas cordas dos contrabaixos. Sem perder sua vocação para as guitarras pesadas, a cidade mostra que tem talento também para variados sons.
"Brasília tem uma veia musical muito forte, é uma coisa meio nata da cidade." O comentário sobre a pulsante veia musical da capital vem de Marcos Pinheiro, um dos maiores espectadores do movimento, principalmente na cena roqueira. Dono do Cult 22 Rock Bar, integrante da organização não governamental Porão do Rock e por muito tempo apresentador do principal programa de rádio do gênero no Distrito Federal, o jornalista e produtor musical viu a capital acontecer em termos de som. Em Brasília desde 1983, ele tem acompanhado os acordes que ecoam no cerrado. "Tem uma força forte de talentos que saem daqui", garante. E conta: "Começou a partir do rock e foi alcançando outros níveis. Para o choro, para o hip hop, para a música instrumental, para os DJs de música eletrônica...".
CHORO: Tiago Tunes
Estrada musical: Neto e filho de músicos, cresceu com a figura do pai, Kiko Freitas, roqueiro, como inspiração. Aos 7 anos, após ter "brincado" de tocar guitarra e ter tido uma bateria, se rendeu ao bandolim ao perceber que o som do instrumento poderia ecoar a pegada forte do rock and roll. Com um professor particular, aprendeu as técnicas e hoje estuda harmonia
e improvisação. Com apenas 15 anos, já foi convidado para tocar quatro vezes com Hamilton de Holanda e é considerado por integrantes do Clube do Choro uma das grandes promessas do estilo.
Onde ouvir: Todas as sextas-feiras, a partir das 18h30, na roda de choro do bar/lanchonete Tartaruga, na 714/715 Norte. "Eu quero construir alguma coisa nova. Eu vejo muito os chorões tocando o que já foi feito. E eu penso em fazer alguma coisa desse tempo aqui."
Em meio à onda que correu pelo Brasil nos últimos três anos, a capital federal não fugiu à regra e manteve a herança que carrega de acolher músicos vindos, principalmente, do interior de Goiás e Minas Gerais. Com um circuito de casas que dispara frente a muitos pubs e barzinhos, o estilo sertanejo agradou o público e se instalou na cidade. "Brasília, hoje, está no centro do circuito nacional de grandes festas", conta Pedro Paulo, que se une a Matheus na dupla que leva o nome dos dois, e se projeta como uma das mais pedidas pelo público nas casas de shows da cidade. "Inclusive, é considerada uma das maiores bilheterias do sertanejo no país", destaca Matheus, o segunda voz.
Bastante comum na capital, o circuito de bares e casas noturnas é um degrau quase obrigatório para quem investe em arranjos de clássicos da música popular brasileira e se apresenta acompanhado de violão. Com Diego Azevedo foi assim. Figurinha constante nesses ambientes até o segundo semestre de 2012, o músico viu seu som avançar outras plataformas após ser selecionado e participar do reality show The Voice Brasil, da Rede Globo “Eu fazia as minhas versões, mas não tinha muito espaço para mostrar minhas composições”, lembra o rapaz, de jeito descontraído, sobre as noites em que costumava tocar. "Agora a coisa mudou. As pessoas estão receptivas, abertas ao que eu tenho a trazer de novo", compara.
SAMBA: Adora-roda
Estrada musical: Composto por seis músicos (Breno Alves, Guto Martins, Kádu Nascimento, Marcus Vinícius Magalhães, Tito Silva e Vinícius de Oliveira), o grupo compõe, desde 2007, a roda de samba que já é considerada uma das mais tradicionais da cidade. Com o objetivo de enaltecer o samba de raiz e os grandes nomes do ritmo, a banda mantém o ideal de produzir música com a cara de Brasília e servir como incentivo para futuros sambistas da capital.
Onde ouvir: Todas as terças-feiras, no bar Calaf, no projeto homônimo."Viemos mostrar que o samba em Brasília hoje já tem tradição, mostrando que essa juventude já nasce com samba em seu coração", cantam no trecho de uma de suas composições.
Com um lado musical que reflete as referências internacionais e regueiras da adolescência, ele é categórico sobre a estrutura sonora da cidade: "Brasília é uma salada musical. Tem muita gente boa fazendo música". Porém, mesmo acreditando na estrutura eclética da cidade, ele defende que é necessário mais empenho por parte dos artistas locais. "Falta força da classe para correr atrás e mostrar para os promotores e donos de casas noturnas que existe público aqui para todos esses estilos", acredita.
Assim como a mescla populacional de origens brasileiras, o fator cultural também é resultado dos encontros de estados que compõem a capital do país. Para os integrantes do grupo Adora-Roda, é passado o tempo em que a produção de samba se resumia a Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, o estilo conhecido pelo carisma dos malandros cariocas e pelos encontros de boteco é visto de norte a sul, com Brasília fixada no meio. "O movimento está cada vez mais fortalecido. Vários grupos se formaram", diz Breno Alves, responsável pelos vocais e pandeiro da banda. Segundo ele, a cidade, além de ter um grande potencial musical, está se tornando referência. “Hoje em dia, Brasília não está mais só importando música, ela está conseguindo exportar o samba.”
INSTRUMENTAL: Paula Zimbres
Estrada musical: Destaque na cena de música instrumental da cidade, é contrabaixista desde 2005 da banda Pret.utu, com os vocais de Ellen Oléria, e segue com uma veia forte de jazz, após ter integrado a banda de groove/soul Mundo Racional. Em 2012, iniciou o projeto autoral Paula Zimbres e Água Forte, no qual destaca o seu lado compositora acompanhada de um trio de músicos. Formada em música pela Universidade de Brasília, também estudou
o instrumento de atuação na Escola de Música da cidade.
Onde ouvir: Ela está de licença maternidade até metade do primeiro semestre. Seu CD pode ser ouvido na íntegra pela página www.paulazimbres.com. Em meados de abril ela deve voltar aos palcos e iniciar os shows de lançamento do projeto homônimo e seguir com as apresentações da Pret.utu."Quando sou eu, colocando a minha individualidade, ela sempre tende para o público pequeno, para o íntimo. Você tem de olhar de perto para ouvir e eu gosto disso."
Sobre a possível concorrência com os tantos outros estilos que ganham cena na capital, a banda é objetiva. "Natiruts, Cássia Eller, Capital Inicial, Hamilton de Holanda... Essa galera toda surgiu aqui. Eles tocavam e tinham lugar. Então, tem espaço para todos os gêneros, sim", afirma Vinícius de Oliveira, vocal, que toca banjo nas rodas de samba do Adora-Roda.
Com o calendário de eventos preenchido ao longo do ano por shows de música baiana, Brasília não ignora os acordes fortes vindos da terra que cede espaço às ladeiras do Pelourinho. Foi entendendo essa relação que Guga Santana decidiu dar voz à afinidade que tinha com os clássicos de axé music com base de percussão, e conquistou o público com o som da Camafeu. "Quando as bandas de axé da Bahia vêm para cá, é casa cheia. É certo", diz o vocalista. Mesmo enxergando os vários estilos que a cidade tem desenvolvido, Guga destaca o comportamento dos brasilienses: "Aqui o público é inteligente, formador de opinião. A galera vai atrás de coisa boa". Mas pondera: "Você só não pode sair da essência".
SERTANEJO: Pedro Paulo e Matheus
Estrada musical: Com 15 anos de carreira, a dupla do interior de Goiás apresenta a atual formação desde 2006. Nesse mesmo ano, lançaram o primeiro CD, Puro Sertanejo, e desde então rodam o Brasil - com agenda fixa semanal em Brasília - fazendo shows.
Com uma média de 19 apresentações por mês, seguem lançando músicas autorais, após terem recebido Disco de Ouro pelo álbum Ao Vivo em Brasília, lançado em 2008
junto com DVD.
Onde ouvir: Atração nas principais casas sertanejas da cidade, tocam todas as quintas-feiras na Roda do Chopp e às sextas no Barril 66. "A música sertaneja rejuvenesceu.
O pessoal, que não conhecia muito bem o estilo, passou a dar mais atenção e ele entrou no gosto da galera jovem e rapidinho todo mundo pegou gosto", diz Pedro Paulo.
Considerado por grande parte dos artistas o "templo" do gênero na capital, o Clube do Choro continua fazendo história e deixando legado na música da cidade. Encantando uma geração cada vez mais nova, o centro já cita nomes de grandes promessas, como Tiago Tunes, de apenas 15 anos. Para a mãe do garoto, que acompanha de perto a jovem carreira, Brasília tem uma atmosfera extremamente favorável para o aprendizado do ritmo. Ela lamenta apenas a migração dos músicos para outros estados, a fim de alcançarem maiores oportunidades. "Se o Hamilton de Holanda ainda morasse aqui, incentivaria bem mais o Tiago", exemplifica Gabriela Tunes.
Mesmo com esse contra, o bandolinista adolescente defende a forte tendência para o estilo da cidade. "Eu acho que Brasília, ultimamente, é a cidade que mais tem choro no país inteiro", arrisca. "O berço do choro é o Rio, mas a cidade não é tão mais forte como era. Tem São Paulo também, mas, como Brasília, não tem", garante Tiago.
Em outros ritmos, o silêncio dos vocais com as notas certeiras dos instrumentos também tem fortes representantes nos quadrados brasilienses. "Se você for para o Rio, em quase todas as bandas dos grandes cantores tem gente de Brasília. "O atestado é da contrabaixista Paula Zimbres, que atualmente segue em um projeto de música instrumental, além do trabalho na banda Pret.utu. “Às vezes, quando nós vamos para fora, as pessoas falam que Brasília é só rock. Eu não sei de onde elas tiram isso, porque tem tantas outras coisas", contrapõe.
JAZZ: Camilla Inês
Estrada musical: Nascida em berço musical, com pai compositor e mãe cantora, somente depois de adulta teve aulas de canto com professoras de destaque da cena jazzista de Recife, cidade onde nasceu, e de Brasília, para onde veio no final dos anos 1980. Suas primeiras apresentações foram na capital pernambucana, em 2007. Depois que disponibilizou três músicas em uma rede social, viu seu nome despontar como uma das melhores intérpretes brasileiras de jazz-bossa. Em 2011, após dois anos morando em Brasília, lançou o primeiro CD, intitulado Jazzmine, com o qual segue fazendo apresentações ao lado do grupo SomTrio.
Onde ouvir: As datas e locais de shows ficam disponíveis na página www.camillaines.com.
"Meu instrumento é a voz. Eu preciso sentir a música para expressar a verdade. E com ela, você acaba refletindo o que você é."
Sobrando talentos, a dificuldade, por sua vez, é na circulação. "Brasília tem poucos lugares para tocar estilos que não são associados a grandes festas, e muita burocracia na seleção de programas culturais", comenta a cantora de jazz Camilla Inês. Para o baterista Misael Barros, um dos músicos que acompanha a intérprete, existe som para todos os contextos, "o problema é a divisão dessas músicas no mercado", conclui, analisando em seguida. "Hoje o casting das grandes gravadoras é focado no que vende muito, são poucos músicos".
Já para o vocalista e guitarrista da lendária Plebe Rude, Philippe Seabra, as queixas de oportunidade não se sustentam tanto. "Quando a gente começou, nós não tínhamos incentivo de nada, muito pelo contrário: não tinha mercado, não tinha apoio, e olha o que a minha geração conseguiu fazer", pondera. Na opinião do músico, que é também produtor, os novos músicos precisam ter mais foco nas suas composições, além de acreditarem mais na música que fazem. "Eu adoraria ver movimentos de raiz de novo", espera.
MPB: Rodrigo Bezerra
Estrada musical: Cantor, compositor, produtor e instrumentista, é formado em guitarra elétrica pela Universidade de Brasília, onde também deu aula por três anos. Antes de embarcar para uma pós-graduação em Barcelona, em 2010, estudou violão clássico
e popular brasileiro, choro, linguagem e harmonia do jazz. Na Espanha, montou uma banda de gafieira, selecionada em um projeto cultural, que o permitiu circular com o som brasileiro pelo território estrangeiro. Como produtor musical, concebeu o álbum Peça, da cantora Ellen
Oléria, lançado em 2009.
Onde ouvir: com apresentações alternadas, entre músicas instrumentais e canções, segue
com agenda aberta, podendo ser ouvido no CD Outros Lugares, apenas tocando, e a partir de março em seu primeiro álbum com apresentação nos vocais."Quando a gente sai de Brasília, como músico, as pessoas olham de um jeito diferente. Já tem essa identificação do choro com a gente e da nossa qualidade musical."
Em uma temporada fora do país, quando pode explorar as disseminações alcançadas pela música popular brasileira no exterior, Rodrigo Bezerra viu de perto o espaço cedido para o autoral e instrumental para além do Brasil. "Lá na Europa tem esse bom senso: os lugares não são tão caros, dá para você assistir músicos tocando sem gastar muita grana, o que Brasília não tem", compara.
O saldo final, porém, fecha em positivo. Conquistando novos ares e, consequentemente, novos públicos, Brasília tem se destacado frente a ritmos e sons de associações improváveis com a capital erguida nos acordes em torno da Universidade de Brasília. Para Philippe Seabra, apesar de o cenário não ser ainda o ideal, o momento mostra evolução. "Na nossa época, a única coisa que aparecia era o rock, e é muito bom que surjam outras coisas", diz.
"A gente não é mais a capital do rock"
Líder da última grande banda roqueira brasiliense a ter destaque nacional, ainda nos anos 1990, Digão tem um tom pesado na voz rouca ao falar sobre a cena tradicional do rock pela qual Brasília se tornou musicalmente conhecida. "A gente não é mais a capital do rock, isso já tem tempo", diz o vocalista e guitarrista dos Raimundos. Para ele, a falta de incentivo local é um dos principais pilares que sustentam a fase de baixa na produção do estilo na cidade. "O pessoal de Brasília parece que não valoriza as coisas que saíram daqui", lamenta.
Para Philippe Seabra, do Plebe Rude, mesmo que em menores números e ocorrências mais espaçadas, Brasília ainda produz bons roqueiros. Scalene, Distintos Filhos, Etno são alguns exemplos citados por ele. "Mas não se pode caracterizar isso como movimento, como foi na nossa época", pondera, em tom pessimista.
Ainda assim, Digão tem esperança de um resgate para o som de guitarras e baquetas estridentes. "Moda vem, moda vai, mas o que fica é o rock and roll".