A noite está abalada
Depois do traumático acidente que matou mais de 230 jovens em uma festa em Santa Maria (RS), a programação noturna de Brasília mudou. Seus frequentadores passaram a adotar hábitos mais cuidadosos e a palavra de ordem é atenção
A primeira reação foi, por diversas vezes, a mesma. Muita gente que costuma frequentar baladas parou para relembrar quando esteve em locais parecidos com a boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde pelo menos 238 jovens morreram no final de janeiro, devido a um incêndio, enquanto estavam em uma festa para universitários.
O filme que passa para cada um aponta para a despreocupação habitual que acompanhava a vida noturna de grandes centros. A confissão também é sincera. Quase não se prestava atenção à presença de extintores, à lotação da casa ou às saídas de emergência em caso de acidentes. O acontecido, porém, parece ter servido como lição.
Frente ao acontecimento que comoveu o Brasil e o mundo, pela proporção da tragédia, a capital do país não se fez indiferente aos problemas que podem acarretar a falta de segurança. “Diante de tudo o que aconteceu, as pessoas começam a tomar mais cuidado, a se preocupar mais com a prevenção.” O atestado é da assessora Helen Moraes, carteirinha carimbada nos principais eventos da cidade. Na semana posterior ao incêndio no Sul, ela esteve em uma festa grande e disse que pôde observar a movimentação dos frequentadores e produtores. Para ela, os reflexos deixados pelas vítimas impactam fortemente a ideia de diversão em Brasília.
Apesar do medo, porém, Helen acha que o ritmo de procura por festas não deve diminuir. “Esse alarde, esse medo, prevalece, mas não está impedindo que as pessoas curtam e frequentem os lugares que sempre frequentaram”, observa. O que muda a partir de agora, segundo ela, é o modo como as pessoas irão usufruir desses ambientes. “Eu era bem leiga sobre chegar aos lugares e observar as questões de segurança. Agora eu já chego prestando atenção nessas coisas”, admite.
Para os proprietários das casas, a instrução fica a cargo de treinar seus funcionários para saber como agir em situações de emergência. “Um segurança, por exemplo, deve saber onde estão as mangueiras e indicar os locais por onde as pessoas devem sair”, esclarece, para completar sobre a realidade: “A maioria das casas é muito deficitária quanto a informações”.
“Depois da tragédia, eu me lembrei de alguns lugares que já fui e pensei: ‘e se acontecesse um incêndio ali, como seria?’” A indagação de Bruno Sartório é comum a outros frequentadores da noite brasiliense, porém, para o empresário produtor de festas, ela veio acompanhada de uma série de outros questionamentos que refletem o comportamento do público desses eventos, desde o que aconteceu no Sul. “As pessoas já estão ligando, perguntando sobre alvará, querendo saber exatamente como irá funcionar o evento”, descreve ele, que, com a sua produtora, realiza festas nas principais boates da capital. “O comportamento dos baladeiros já mudou”, destaca.