Solidariedade online
O uso das redes sociais ajuda bichinhos perdidos a voltarem para casa. Em Brasília, muitas pessoas têm reencontrado os companheiros graças à mobilização em comunidades virtuais
A história da separação de Raphaela Alves Silva dos seus dois cachorrinhos da raça yorkshire teve enredo de trama policial. Em 3 de fevereiro, os simpáticos Manu e Léo acompanhavam a dona em um passeio quando foram barrados em um clube que não aceita a presença de animais. Como precisava resolver um problema no local, a única solução foi deixá-los no carro. Preocupada com o bem-estar da dupla, Raphaella escolheu uma vaga na sombra e deixou parte de um dos vidros aberta. Tarefa cumprida, a jovem retornou ao estacionamento e ficou chocada ao perceber que os dois haviam sido levados por ladrões que arrombaram o veículo.
Apaixonada pelos cachorros, a publicitária acionou as redes sociais para tentar recuperá-los. “Fiquei desesperada e comecei a pensar em uma maneira de encontrá-los. Como já tinha visto muitos apelos na internet, fiz um post no Facebook com fotos deles”, conta. Rapidamente, os amigos começaram a compartilhar a mensagem, que acabou replicada 299 vezes. Ela e o marido ainda espalharam panfletos em algumas cidades do Distrito Federal e do Entorno. Chegaram a fazer promessas e oferecer recompensas. A publicitária deixou endereços de e-mail e números de telefone em busca de qualquer pista.
A mobilização virtual deu certo e, 10 dias depois do crime, trouxe Manu de volta para casa. A pequena foi encontrada no Itapoá. Apesar de ter ficado tranquila ao perceber que a cadelinha estava saudável (só um pouco mais magra e bastante suja) e de comemorar o retorno da mascote, Raphaella não conseguia esquecer de Léo. Foram mais sete dias de agonia até receber a notícia que tanto esperava: o cachorro havia sido encontrado no Paranoá. “Recebemos uma ligação anônima e o meu marido foi até lá para conferir e era ele mesmo”, conta, às lágrimas.
Apesar de também ter mobilizado amigos por meio do Facebook e do Twitter quando o seu gato sumiu, a secretária Simone Marques não conseguiu um retorno tão rápido quanto o de Raphaella. Ela só reencontrou o animal seis meses depois.
Cinco meses depois da adoção, na madrugada de um domingo, ele pulou pela varanda e fugiu. O apartamento não possuía tela de proteção. “Acordei às 6h, preocupada, e comecei a procurá-lo. Até o meio-dia, fui a várias quadras próximas, mas nem sinal dele”, lembra.
O animal não era castrado e Simome acredita que ele tenha saído à procura de uma fêmea. Nos dias seguintes ao desaparecimento, ela ainda percorreu muitas ruas na esperança de achá-lo. Colou cartazes com foto em petshops e no comércio do bairro. Na internet, colocou fotografias e informações que pudessem auxiliar nas buscas.
O tempo foi passando e, sem notícias, ela acabou adotando outro gatinho. “Tinha prometido que não pegaria mais nenhum bicho, mas não resisti. Coloquei tela no meu apartamento e escolhi um castrado. Já estava conformada de que não o veria mais.” Quando Simone não tinha mais esperanças, veio a surpresa. Em agosto, ela recebeu uma ligação sobre o possível paradeiro de Che. Uma moradora de uma quadra próxima à sua encontrou um gato preto de olhos verdes e se lembrou da mensagem postada na internet.
Um descuido é quase sempre o motivo que leva alguém a perder um animal de estimação. Foi o que aconteceu com Pretinho, um vira-lata adotado por uma moradora do Guará no ano passado.
Em dezembro, o cão passeava sem coleira pelas ruas da cidade quando fugiu. “A dona tinha costume de deixá-lo andar solto”, diz Kátia Paiva, que abrigou o animal antes de ele ser encaminhado ao novo lar.
Coordenadora do grupo Bicho Fofo, que ajuda a divulgar informações de bichos que precisam de uma família, assim como de mascotes perdidas, assim que recebeu a notícia, postou em redes sociais os dados e fotos de cachorro. “Em menos de 24 horas, ele reapareceu. Uma pessoa que havia visto o apelo na internet reconheceu o Pretinho”, relembra a funcionária pública. O fujão estava distante cerca de 13 km de onde vivia.
Depois do susto, Kátia procurou novamente uma dona para o vira-lata. Entre as pretendentes estava a empresária Giselle Oliveira, que acabou escolhida para tentar pôr um fim à tendência do bichinho.
Antes de escapar do Guará, ele havia desaparecido de outras duas casas. “Fizemos um alambrado demarcando uma grande área para ele circular. Em breve, começará a fazer aulas de treinamento específico para não sair pelo portão sozinho”, diz Giselle. Prevenida, ela também colocou uma coleira com uma plaquinha devidamente identificada com nome e telefone.