A hora delas
Mulheres ganham programação especial em happy hours de Brasília, com direito a drinks mais adocicados, promoções de doses duplas e TVs desligadas do futebol
O hábito não é novidade nem chega a soar como uma das grandes conquistas femininas do século, apesar de estar ligado diretamente à independência delas. Poder escolher a melhor mesa do bar, beber e petiscar enquanto se fala de assuntos aleatórios como amores, moda, dietas e trabalho bem no meio da semana – logo depois do expediente – é um tanto comum. A novidade toma lugar quando elas passam a dominar (seguindo a tendência mundial da maioria das áreas em que atuam) um habitat naturalmente conhecido pela presença de homens. Agora, pelo menos uma vez por semana, a brecha do horário de pós-expediente em alguns bares da capital do país é voltada para mulheres. Com bebidas, ambientação e música especialmente direcionadas para o público feminino.
“As mulheres vêm ganhando espaço e tabus vêm sendo quebrados”, comenta Carlos Reis, gerente de atendimento do Primeiro Cozinha de Bar, com a convicção de quem acompanha desde novembro o movimento específico delas na matriz, em Águas Claras (desde dezembro, o bar tem uma filial no Sudoeste). Já famoso por suas inovações nos drinks coloridos e nas combinações gastronômicas, o Primeiro criou, há quatro meses, o Quarta das Amigas, na unidade de Águas Claras. Nos dias de evento (toda quarta-feira), o happy hour das 18h às 20h é voltado para mulheres, com doses de cozumel (bebida feita com cerveja, suco de limão e sal) e vinho frisante (com aparência de espumante) pela metade do preço. Além disso, a atração musical da noite é uma aprovação feminina, feita por consulta de público, e as televisões espalhadas pelo ambiente podem até transmitir partidas de campeonatos futebolísticos, só que sem som. A grande área é livre para o papo delas.
“Tem dias e dias: tem aqueles em que você sai para a balada, querendo conhecer gente, e tem aqueles em que você quer se divertir, só com as meninas”, pontua a estudante de odontologia Raíssa Rodrigues sobre a noite exclusiva para as amigas. Figurinha certa em happy hours, ela costuma sair com o mesmo grupo pelo menos uma vez por semana. Para uma das companheiras de mesa e papo, sair para um bar depois de um dia inteiro de trabalho, em plena quarta-feira, não é sacrifício algum. Pelo contrário: “A gente trabalha o dia inteiro e é o momento para relaxar. É o fôlego para terminar a outra metade da semana”, defende Kamylla Monteiro, assessora financeira, com uma animação contagiante.
No Villa Imperial, que fica na 210 Sul, com decoração inspirada na época que dá nome ao bar, todas as quartas a mulherada é recebida com uma taça de espumante, e segue a noite com doses duplas de caipifruta. “Percebemos que as mulheres são um público que dá um retorno pra gente, que está frequentando mais os bares, e que nós queremos na nossa casa”, conta Raquel Souza, uma das proprietárias do lugar. “Mas o consumo das bebidas é diferente”, pondera, comparando ao público masculino. “Elas costumam preferir o gosto da bebida mais doce”, por isso a escolha dos drinks de destaque da noite. O Happy Hour das Garotas, nome que encabeça a programação especial das 17h30 à meia-noite, acontece há mais de seis meses, com acréscimo, inclusive, de opções doces de petiscos, tanto no serviço de rodízio, pelo qual o estabelecimento é conhecido, quanto no cardápio, a fim de agradar ao paladar feminino. Na programação da noite, as transmissões de futebol são proibidas e, nos televisores, apenas música ambiente.
Após a experiência de um ano em Dubai, o empresário Rodrigo Cabral viu de perto o sucesso de noites voltadas exclusivamente para mulheres, comumente denominadas ladies night no exterior, e resolveu experimentá-la em Brasília. Com sete meses de funcionamento, o Ares do Brasil, no Lago Sul, inovou e investiu em um único dia de happy hour na casa: às terças-feiras, com as meninas como alvo. O resultado foi o VSA (sigla para Você e Suas Amigas), no qual das 19h às 21h, garotas são presenteadas com três tipos de espumante à vontade, além da sugestão de brigadeiro de creme brûlée como sobremesa da noite. A ideia, que começou em meados de fevereiro, segue até a última terça de março fixa no calendário do restaurante, mas seus três proprietários já se animam para implementá-la de vez. “É um projeto que deu certo e tem grande chance de voltar”, adianta Cabral.
Se a noite especial deve seguir como tendência pelos bares da cidade, não se sabe ao certo. O fato é que elas aprovam o destaque especial e estão fazendo bonito para que os atrativos continuem. “A gente já vem para um, pensando em onde será o próximo happy hour”, assume a arquiteta Flávia Pereira.