Novos brasilienses na Associação da Boa Lembrança
Dom Francisco e Villa Tevere passam a integrar o seleto grupo de restaurantes que seguem a tradição, vinda da Itália, de aliar suvenires artísticos à alta gastronomia
Há 17 anos em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, surgia a Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança. O projeto foi idealizado por um italiano, Danio Braga, que veio ao Brasil em 1978 com a missão de comprar bebidas e comidas para a seleção de futebol de sua terra natal, e no litoral carioca decidiu morar. Quando se radicou por aqui, trouxe um costume dos restaurantes italianos: além da conta, um suvenir para o comensal levar de recordação, proposta da Associazione dei Ristoranti del Buon Ricordo.
Atualmente, 99 restaurantes espalhados pelo Brasil são associados. Três deles estão em Brasília: Oliver e, desde o mês passado, Dom Francisco e Villa Tevere. Todos os anos, cada uma das casas deve criar uma receita exclusiva, que não exista no cardápio, mas que expresse bem o seu estilo culinário. A criação comestível ganha toque artístico, em peça pintada no ateliê Cerâmica Van Erven, em Petrópolis, comandado pela artista Olga Maria Sales. Pelas mãos dela foi criado o conceito do Prato da Boa Lembrança. Por conta da demanda, nos dias de hoje, a produção recebe o apoio da também artista Margot de Gramado (RS) e do design Denis Marinho, do Rio de Janeiro.
No italiano Villa Tevere, o primo do bacalhau, o hadoque, com consistência de mousseline, recheia quatro ravioloni artesanais, servidos com molho velouté do próprio pescado, acompanhados por camarões e pesto de rúcula com castanha-do-Brasil. Segundo Flávio Leste, sócio de sua mãe, a chef Suzana, a escolha desse peixe vai além da nobreza do ingrediente. “O hadoque escocês não está sujeito à sazonalidade e poderemos manter bom estoque do produto congelado para produzirmos os ravioloni”, diz.
Caçadora de tesouros
A promotora de justiça Liz Liberato viu pela primeira vez um Prato da Boa Lembrança em 1996, quando era estudante no Rio de Janeiro. “A realidade financeira de uma universitária não me permitiu ir ao restaurante para levar a cerâmica para casa”, lembra.
Onze anos depois, numa viagem a Maceió viu no hall do hotel um folder do restaurante Divina Gula e a imagem do prato 2007. Não pensou duas vezes, foi ao estabelecimento degustou a criação exclusiva e conseguiu sua primeira peça. “Sai do restaurante com o prato e o objetivo de conhecer os associados da região”.
Conhecer os demais associados pelo Brasil não levou muito tempo. Há seis anos, ela e um grupo de amigos programam roteiros turísticos que envolvam os restaurantes da Boa Lembrança. Em um único tour, de carro, já foi a Belo Horizonte, Tiradentes, Parati e Campos do Jordão. Chegou a comer duas vezes a mesma refeição só para receber o troféu duplicado.
Hoje, as paredes e armários de casa e do trabalho são pequenos para guardar os 914 pratos de sua coleção. Questionada se comeu alguma das criações sem gostar, simplesmente para ter a cerâmica, respondeu sem titubear: “sim”. “Geralmente, um restaurante por ano tem um prato da ‘má lembrança’”, brinca. “Estou me preparando mentalmente porque vou ter que parar minha coleção, não tenho mais paredes suficientes. A coleção demanda muito espaço”, lamenta.