Um olhar forasteiro
Um dos maiores escritores estadunidenses do século XX veio à nova capital e fez relato de suas impressões da cidade que, para ele, vislumbrou o futuro. Como estão agora os lugares que mais o impressionaram?
Catedral Nossa Senhora Aparecida
“A catedral de Niemeyer, uma enorme coroa de concreto protendido, permanece inacabada. O projeto requer vidro para preencher os espaços entre as altas pilastras. Já impressiona como está. Fico em dúvida se um dia ela será concluída.” As dúvidas do norte-americano se mostraram vãs. A catedral foi finalizada, ganhou elogiados vitrais da artista plástica Marianne Peretti. Foi reinaugurada em dezembro de 2012, após três anos de reformas.
Lago Paranoá
Dos Passos mostra-se surpreso com a existência do lago em 1962. Ele se lembra de conhecer o buraco vazio quatro anos antes, quando acreditou nos engenheiros que lhe disseram ser impossível construir o lago porque a água acabaria drenada pelo terreno. “Ele [o lago] é azul. Eu temia que se tornasse lamacento. Reflete as nuvens do deserto, os poentes vistosos e o céu brilhante nas noites do planalto.”
Universidade de Brasília
A universidade, inaugurada oito meses antes da visita de John dos Passos, impressionou o autor por conta do currículo inovador, que sofreu mudanças desde então, especialmente na época da ditadura militar. Os maiores elogios, no entanto, foram para os serviços de dormitório e alimentação. “No refeitório, alguns professores nos ofereceram uma das melhores feijoadas que já comi. [...] Se o ensino se provar tão bom quanto sua culinária, a Universidade de Brasília deve ir longe.”
Rodoviária
Quando visitada por John dos Passos, a Rodoviária do Plano Piloto ainda recebia ônibus interestaduais e tinha movimento exponencialmente menor que o de hoje. Ele destaca a praticidade e animação do ambiente, além das marcas impostas às brancas paredes pela poeira vermelha. E foi ali, da vista privilegiada da plataforma, que percebeu característica importante de Brasília que permanece até hoje: o privilégio do transporte automotivo. “Não há como ver a cidade sem ser de carro. Em Brasília, um homem sem carro é um cidadão de segunda classe. Os habitantes mais pobres terão de desenvolver rodas em vez de pés.”
Hotel Nacional
Um dos marcos na história da cidade, o Hotel Nacional foi onde John dos Passos se hospedou durante a segunda visita, realizada em 1962. Além de elogiar o serviço e as instalações do local, com sua “piscina em forma de rim”, o autor deixou-se levar pela imaginação e pela descrição de seu guia, “Dr. Israel Pinheiro”, como o escritor o chama. E faz projeções imaginárias dos arredores do prédio, que até então estava cercado de canteiros de obras. “Da porta da frente [do hotel], você descortina uma colina coberta por restos de construção que algum dia será a moderna Montmartre de Lucio Costa, e depois por grandes prédios de escritórios tipo Park Avenue.”