O preço da coragem
Três superespecialistas analisam as implicações do procedimento radical feito pela atriz Angelina Jolie. A atitude dela levou o mundo a discutir os testes genéticos e as medidas preventivas contra o câncer de mama, entre elas a mastectomia
Diante do histórico familiar, Angelina fez testes para verificar se era portadora de uma mutação genética que também a faria desenvolver a doença. O resultado indicou 87% de chances para o câncer de mama e 50% para o de ovário. “Uma vez que eu soube que essa era a minha realidade, decidi ser proativa e minimizar o risco ao máximo. Decidi realizar uma mastectomia preventiva dupla”, conta a atriz no artigo.
No caso dela, escolher fazer uma mastectomia faz sentido. O que não significa que seja o procedimento indicado para todas as mulheres, ainda que tenham histórico familiar. Antes de partir para a mastectomia subcutânea dupla, segundo o oncologista e fundador da clínica Oncotek, Eduardo Johnson, deve ser realizada uma pesquisa genética em busca de mutações dos genes BRCA 1 e BRCA 2. O teste de identificação, no entanto, é indicado em situações bem específicas. A recomendação é realizar a pesquisa da mutação na família que teve o câncer. “Se a mãe não tiver a mutação, as filhas não a terão e o exame não será necessário”, explica o oncologista. Felizmente, a frequência de positividade na pesquisa dos genes BRCA 1 e 2 é muito baixa. Das mulheres que têm histórico familiar, apenas 10% terão a mutação.
“O termo mastectomia induz a paciente a achar que vai ficar mutilada. Ela não poderá amamentar, mas, esteticamente, fica bastante aceitável”, explica Johnson. O procedimento retira a glândula mamária deixando toda a pele, aréola e mamilo, além de um resíduo de tecido mamário nesse local. Após a retirada da glândula, coloca-se um expansor, que distende a pele por um período de três a seis meses, para depois se colocar uma prótese de silicone. Em algumas pacientes, o implante pode ser realizado já na cirurgia inicial. O mastologista Sérgio Zerbini, da Ginevitae, explica que as dúvidas mais frequentes das pacientes estão associadas a informações equivocadas, relatos de experiências de conhecidas. “É necessário individualizar”, alerta, ressaltando que de forma geral os resultados estéticos são bons.
O médico afirma também que hoje estão em avaliação medidas preventivas ao câncer de mama nesse grupo de risco, que incluem o uso de sustâncias reguladoras do crescimento mamário e exames de imagem mais sensíveis que a mamografia, como a ressonância magnética. Mas a mastectomia profilática ainda é a opção normalmente preferida. “Nela é mais fácil a reconstrução da mama, não mexendo tanto com a identidade corporal da mulher.”
Tire suas dúvidas
Mastectomia profilática subcutânea
O oncologista Alessandro Leal explica que o procedimento, também chamado de adenomastectomia, consiste na retirada da glândula mamária, mas se preservam o mamilo e a aréola. No entanto, a preservação do complexo areolo-papilar faz com que exista um risco residual de câncer de mama em casos de mutação genética, já que sobra tecido ductal mamário. Mesmo sendo benfeita, o risco ainda não é nulo
Indicação
Para a mulher com alto risco de desenvolver câncer de mama ao longo de sua vida, o mastologista Sérgio Zerbini recomenda que se passe por uma avaliação ou aconselhamento genético em que o especialista, o geneticista, analisará a real chance de um dia vir a ter a doença e solicitará exames complementares para avaliar ou confirmar o risco
Quem deve fazer o exame
A paciente deve se encaixar em pelo menos um dos seguintes critérios: ter dois parentes de primeiro grau diagnosticados com câncer de mama e pelo menos um com menos de 50 anos; ter três ou mais parentes de primeiro e segundo graus com câncer de mama, independentemente da idade; câncer de mama em homem, sendo este parente de primeiro ou segundo graus; ter parente de primeiro grau com câncer de mama bilateral; e a combinação de dois ou mais parentes de primeiro ou segundo graus com câncer de ovário. “Tanto a família paterna quanto a materna importam para a parte genética”, ressalta o oncologista Eduardo Johnson
Como é o exame
Segundo o oncologista Alessandro Leal, hoje, os testes de sequenciamento genético
do gene BRCA 1 e 2, entre outros, são realizados por meio da coleta de sangue ou análise de DNA presente na saliva. Nele, é avaliada a anatomia do gene e são detectadas mutações pontuais, mínimas. Depois de identificadas, são analisadas em bases de dados e compara-se com a mutação da paciente para verificar se é patogênica. A mutação de alguns desses genes também pode indicar risco de câncer de ovário. Os testes não estão disponíveis de forma ampla na rede pública, mas são executados em alguns hospitais universitários e particulares. Nos privados, o exame custa entre R$ 4 mil e R$ 7 mil, a depender da extensão do teste, da quantidade de genes testados.