No amor e nos negócios
Casais empreendedores mostram como é possível fazer as vidas pessoal e financeira darem certo e afirmam que trabalhar juntos só fortalece o relacionamento
Gabriel Sasse iniciou a vida profissional aos 13 anos de idade como mágico. O paulista de nascimento e brasiliense de criação — e coração — passou parte da adolescência tirando coelhos de cartolas, fazendo truques com cartas de baralho e arrancando sorrisos de crianças. O que ele não imaginava é que o destino tinha uma carta na manga guardada para surpreendê-lo. Em 1992, o hoje empresário aproveitou a folga que teve na UnB, onde cursava estatística, e foi visitar os pais em Santa Catarina. Lá, teve a surpresa: loira, alta e com escandalosos olhos azuis. Era Cátia Popielek, hoje Cátia Sasse. Os dois se encontraram em uma boate e Gabriel lembra que, poucos momentos depois do primeiro contato, já sabia que ficaria com a jovem pelo resto da vida. “Quando saímos, coloquei um Raul Seixas no carro, olhei para ela e disse: ‘Eu vou me casar com você’.”
Hoje, os dois são sócios na Sasse, empresa que confecciona produtos promocionais. Muito tempo se passou desde o repentino encontro, mas Gabriel e Cátia ainda se olham com a paixão de jovens namorados. Para conquistar tudo o que têm hoje — uma marca renomada com presença em São Paulo, Santa Catarina e no Distrito Federal —, eles tiveram de enfrentar uma série de obstáculos. Nada que não pudessem superar.
Depois daquela estada em Santa Catarina, Gabriel voltou para Brasília com 10 camisetas que comprou de um amigo de Cátia, dono de uma fábrica de roupas. “Eu dei um cheque que não tinha fundos. Foi um estresse muito grande. No ônibus da volta, fiquei mais ‘relax’, porque vendi tudo. Depois, a Cátia veio para cá com quatro caixas de camisetas para vendermos”, lembra. Os dois começaram a trabalhar na informalidade, mas em 1993 conseguiram legalizar o comércio. A cumplicidade do casal fez com que o negócio se desenvolvesse rápido: quatro anos depois, já tinham três lojas e dinheiro suficiente para comprar a casa própria. Casaram-se e hoje têm três filhos.
Sócios no bufê Unique Palace, Rangel e Caroline Borges são casados há 11 anos. Desde 2011, trabalham juntos, com a ajuda de outros profissionais, na manutenção do espaço para festas e eventos próximo a um dos maiores monumentos brasilienses, a Ponte JK. Conheceram-se há 15 anos. Engrenaram o relacionamento quando a irmã de Caroline a apresentou para Rangel, que era amigo de seu namorado. “A aproximação veio por parte dele, até que um dia deu certo de sairmos. Desde então, começamos a namorar. Três anos e meio depois estávamos casados e hoje temos duas filhas”, conta Caroline.
Para Giovanini Lettieri e Dora Lettieri, tudo começou com um pequeno desentendimento. Eles se conheceram em 2002, no Casa Cor. Ele, já um estabelecido arquiteto, e ela, dona de uma loja de tintas. “Eu estava expondo e ela ia nos dar a paleta de cores. Eu queria uma cor para a casa que não tinha na amostra, e ela ficou uma fera. Deve ter pensando: ‘Ele é um chato. Tenho 4 mil cores e ele quer uma outra’. Depois da insistência de Giovanini, Dora conseguiu criar o tom terracota que ele queria. “Ela me deu a cor e eu ganhei tudo”, brinca. Os dois começaram a sair juntos e, logo em seguida, a namorar. Seis meses depois, já em 2003, veio o casamento. Giovanini tem dois filhos de um casamento anterior e Dora também. Juntos, têm uma filha de 6 anos.
O companheirismo, segundo o casal, sempre deve vir acompanhado de muita consideração pelas atribuições um do outro. A diversidade de opiniões também é importante para o desenvolvimento do negócio. “Em uma empresa, quando duas pessoas pensam igual, uma das duas está sobrando. Então, se as funções estão definidas e existe esse sentimento de colaboração, acho que tem tudo para dar certo”.
Foi por conta dos negócios que Leonardo Silva e Carolina Ligocki se encontraram em 1992. Ambos trabalhavam como distribuidores independentes em uma empresa de marketing de rede e começaram a se encontrar em eventos, trocar experiências sobre trabalho e compartilhar insights profissionais. Em 1994, iniciaram o relacionamento e, pouco tempo depois, abriram um negócio na Colômbia. Perceberam que tinham em comum o desejo de não permanecer longe de suas respectivas famílias, que moravam em Brasília. Casaram-se em 2001 e começaram a buscar em livros, cursos e palestras conhecimento para administrar o próprio dinheiro e ter um negócio em conjunto.
Como grande parte do atendimento é feito pela internet e eles têm uma rede de consultores, Leonardo e Carolina trabalham no escritório que montaram na própria casa. De acordo com o marido, o segredo é nunca deixar que os estresses do trabalho atinjam o relacionamento. “Os casais não podem deixar morrer a admiração um pelo outro. Existem muitos desafios e algumas discussões podem acontecer, mas isso deve estar sempre sob um guarda-chuva de respeito. Devemos sempre ir juntos com o espírito de aprender e não só com o espírito de ganhar dinheiro.”
Dividir bem as atribuições de cada um também é necessário para evitar conflitos. “O Leo tem características completamente diferentes das minhas. Somos distintos, viemos de famílias diferentes e aprendemos a respeitar isso e buscar sempre a soma. Onde ele é melhor em uma coisa, ele assume, onde eu sou melhor, eu assumo”, diz Carolina. Mas o maior segredo é nunca deixar a vida pessoal ficar em detrimento dos negócios. “Como vimos plantando a questão da qualidade de vida, tem muitas coisas das quais eu não abro mão. Eu gosto de cozinhar, de inventar coisas na cozinha. Praticamente todo dia fazemos isso. Qual é o melhor dia para comemorarmos? Hoje. Não guardamos uma garrafa de vinho para tomar num momento especial. O momento especial é hoje”, finaliza Carolina.
Namorados há seis anos, Igor Marmo e Gabriela Albuquerque vão se casar no ano que vem. Há pouco mais de um ano, os dois administram juntos o Mucho Gusto, restaurante de comida tex-mex, na 309 Norte. O casal se conheceu na UnB, onde cursavam engenharia florestal, mas só foram se aproximar em uma viagem feita com amigos para Salvador, em 2006. “Eu fazia muitas matérias com as colegas dela, até que uma amiga em comum me disse que a Gabi havia ficado solteira. Aí eu já quis convidá-la para sair, pois já estava de olho nela, apesar de eu saber que ela estava também de olho em mim (risos). Infelizmente nunca deu certo de sairmos aqui em Brasília, só aconteceu na viagem”, relembra Igor.
Depois da paquera e de algumas caminhadas na praia, os dois voltaram para Brasília e ficaram juntos, mas só começaram a namorar quase um ano depois. Igor trabalhava como autônomo e Gabriela, como servidora pública, mas ambos sempre tiveram vontade de abrir um negócio. “Desde novinha eu queria algo na área de alimentos, mas achava que isso só fosse acontecer quando estivesse aposentada”, afirma Gabriela. Foi quando o casal percebeu que a oferta de gastronomia mexicana em Brasília era limitada e resolveu que seria lucrativo investir nesse ramo.
Os dois são novos no ramo de empreendedorismo, mas já conseguiram uma clientela fixa e projetam várias realizações para o futuro. “Começamos aprendendo, já que é o nosso primeiro negócio, e acho que estamos chegando a um ponto ideal. Como ainda é pequeno, queremos acompanhar de perto para que tudo seja do jeito que sonhamos”, diz Igor. Gabriela acredita que a experiência nos negócios servirá como estágio probatório para o casamento. “Trabalhando juntos, a cumplicidade é maior e eu acho que vai ser bem mais fácil de lidar. Várias amigas me contam que já passaram por problemas no casamento e eu digo: ‘Ih, isso aí eu já passei no restaurante! (risos)’.