Pronto para decolar?
O aeroporto de Brasília é o terceiro mais movimentado do país, mas deixa a desejar, tanto em estrutura quanto em número de voos. Para melhorar a situação, o consórcio que agora controla o terminal está fazendo uma série de obras e o governo reduziu o imposto cobrado sobre o combustível. Vai resolver?
Faltava um minuto para as 15h do dia 13 de abril quando o Airbus A330 que vinha de Lisboa, em Portugal, pousou no Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek. O avião, com capacidade para 263 passageiros, taxiava. A caminho do finger, a asa esquerda topou com uma torre de iluminação. A ponta da aeronave quebrou, os passageiros ficaram assustados. Ninguém se feriu. O maior transtorno não foi para quem estava dentro do voo, mas para aqueles que ainda iriam embarcar com destino à capital portuguesa. Esses tiveram de ser redistribuídos para outras companhias e, na maioria dos casos, adiar a partida em um ou até dois dias.
O incidente foi contornado, como manda o protocolo, pela TAP, que opera os voos para Lisboa partindo de Brasília. Mas o contratempo evidencia uma realidade da capital federal. Embora o Distrito Federal esteja no centro do país, o que é considerado geograficamente estratégico, há pouquíssimos voos partindo do DF para outros países. Até maio, apenas seis destinos internacionais foram contemplados — Panamá (República do Panamá), Miami e Atlanta (Estados Unidos), Lisboa (Portugal), Bogotá (Colômbia) e San José (Costa Rica). Recente pesquisa apontou que o terminal está entre os quatro piores avaliados pelos passageiros.
Mesmo encravada no centro do país, onde as distâncias se tornam mais curtas para a maior parte dos estados, Brasília é considerada um lugar caro para voos cuja partida e destino final são o DF. Isso tem a ver com o preço do querosene de aviação, combustível usado em aeronaves com motores movidos a turbina. Na capital federal, o valor vinha sendo considerado impraticável pelas companhias, que começaram a diminuir a quantidade de voos e de destinos partindo de Brasília. Em cidades de aeroportos concorrentes, como Goiânia, Cuiabá, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a alíquota de ICMS para o combustível de aviação era mais barato em, pelo menos, 10 pontos percentuais.
Até o início de abril, o imposto que incidia no combustível de aviação no DF estava fixado em 25%. Mas o governo sancionou uma lei distrital que desonerou o querosene e corrigiu o percentual para 12%, o mesmo usado nas capitais mais próximas ao DF.
Durante cerimônia oficial para apresentar o novo índice, no Palácio do Buriti, autoridades ligadas ao setor da aviação civil comentaram a medida. O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, considerou que o aumento da demanda de passageiros gerou forte pressão sobre os aeroportos. “As políticas para o setor devem ser voltadas para atender ao consumidor nos quesitos segurança, qualidade e preço”, disse o ministro, na ocasião. Raciocínio equivalente ao do presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovickz: “Trata-se de medida que diminui o custo da atividade produtiva, criando um ciclo virtuoso de crescimento da economia e atendimento às necessidades do usuário”.
Menos encargos para as companhias aéreas repercutirá em novos voos, mais opções de destino e passagens mais baratas aos consumidores, é o que se espera a partir da iniciativa do governo. Em um primeiro momento, a mudança será especialmente sentida na malha doméstica, já que a alíquota recai apenas sobre as viagens internas.
Na verdade, já foi. Em 17 de maio, a Associação das Empresas Aéreas Brasileiras (Abear) anunciou que o aeroporto internacional de Brasília terá, nos próximos meses, 56 novos voos nacionais, entre novos destinos e rotas extras. O reforço tem como principal foco a demanda que a Copa das Confederações vai gerar, com a abertura programada para 15 de junho em Brasília, data em que a seleção do Brasil enfrentará o do Japão. Dos 56 novos voos, 22 serão operados pela Azul e estão relacionados diretamente ao trânsito de passageiros esperado para a Copa das Confederações. A TAM vai aguardar as férias de julho para iniciar 20 novos voos e a Gol vai retomar as rotas de Brasília a Campo Grande.
Especialistas acreditam que a desoneração autorizada por lei será a chave que vai abrir um leque de alternativas não só para os voos domésticos, mas também para os internacionais. Assim pensa o secretário de Fazenda do governo do Distrito Federal, Adonias Santiago. Ele conta que, entre 2011 e 2012, houve uma redução em 23 milhões de litros de querosene de aviação comprados no DF, o que significa que as companhias estavam evitando partir e chegar de Brasília, abastecendo apenas o suficiente para a escala na capital, em função do preço do combustível. A partir dessa constatação, foi feito um minucioso estudo técnico indicando a necessidade de equiparação da competitividade”, conta Adonias.
Se um pilar do tripé para aumentar a oferta de voos partindo de Brasília e chegando à capital brasileira é de ordem tributária, as outras duas sustentações devem estar apoiadas em melhorias de infraestrutura, que possibilite o aumento da capacidade do aeroporto internacional de Brasília, e em negociações políticas com cidades consideradas de interesse para os passageiros brasilienses. E se hoje a conexão Brasília com o mundo parece limitada, a boa notícia é que também nesses últimos dois fatores houve avanços recentes.
Desde 6 de fevereiro do ano passado, o consórcio Inframérica arrematou em um leilão os direitos de concessão sobre o aeroporto de Brasília, o que prevê ampliação, manutenção e exploração do espaço por período de 25 anos. A partir da concessão, uma série de obras foi iniciada, das quais parte, como a ampliação da sala de embarque do primeiro piso com a abertura de dois novos portões e um novo Costumer Service (serviço ao usuário), já está pronta.
Enquanto seguem as obras estruturais tocadas pelo consórcio Inframérica, na outra ponta há uma comitiva oficial que negocia politicamente a vinda de novos voos a partir de Brasília. Parte desse trabalho é realizado com a ajuda da assessoria internacional do governo local, sob a chefia de Odilon Frazão. “Nossa missão é ampliar a exposição de Brasília no âmbito internacional, criar conexões econômicas e políticas, e a primeira delas é de ordem física, unir dois lugares a partir de voos diretos”, diz Frazão.
Ele revela que o governo de Brasília negocia com Washington (EUA), cidade com a qual em março o DF assinou um termo de cooperação, tornando- as irmãs, a abertura de voos diretos. “Estamos em negociação direta com a Embaixada dos Estados Unidos para trazer de volta a linha que um dia existiu entre as duas capitais”, diz o chefe da Assessoria Internacional. No passado, a extinta Transbrasil fazia o trecho, mas hoje as duas portas para os Estados Unidos partindo de Brasília são Miami – em voos operados às segundas, terças, quintas e sábados pela América Airlines e pela TAM, às segundas, quartas, sextas e domingos – e Atlanta, pela Delta Airlines, com partidas todos os dias.
Um dos representantes nas negociações para novos destinos a partir da capital brasileira, Odilon Frazão estima que em pouco tempo o brasiliense poderá ir muito mais longe partindo da cidade onde mora. Também está em curso uma ponte aérea entre Brasília e Viena, de onde o passageiro poderá seguir viagem para Singapura, na Ásia. Recentemente, a vice-governadora de Viena (Áustria), Renate Brauner, esteve em Brasília para tratar de possibilidade de intercâmbio cultural, de turismo e econômico entre as duas capitais.
Entre os itens da conversa, o voo direto entre as cidades que, em seguida, motivou a ida de representantes do DF a Viena tratar a possibilidade com o CEO, Julian Jaeger, e a diretora de marketing, Belina Neumann, do aeroporto de Viena. Entre as companhias que demonstraram interesse em fazer o trecho estão a Singapore Airlines e a Qatar Airlines, com a qual se discutirá também a viabilidade de voos diretos para Barcelona.
A partir de 10 de julho, a Aerolineas Argentinas, passará a operar Brasília a Buenos Aires, sem escalas. Mais um claro sinal de que a capital candanga caminha para entrar na rota das metrópoles mundiais.