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CULTURA | PERFIL »

Um agitador cultural

Lino Fructuoso cresceu nas superquadras, trouxe para Brasília festas temáticas e levou famílias inteiras a frequentar boates. Aos 51 anos, continua como um dos mais influentes promoters da capital

Rodrigo Craveiro - Redação Publicação:27/06/2013 15:50Atualização:27/06/2013 17:00

Filho de um porteiro e de uma funcionária pública, Lino já fez história na vida cultural de Brasília: 
'Tinha um quartinho lá em casa que eu usava para discotecar', lembra (Raimundo Sampaio/Encontro/DA Press)
Filho de um porteiro e de uma funcionária pública, Lino já fez história na vida cultural de Brasília: "Tinha um quartinho lá em casa que eu usava para discotecar", lembra
 

Anos 1980. Brasília vivia a verve do rock e a profusão de várias tribos heterogêneas. Reunir os jovens em festas e em outros eventos era algo praticamente impossível. Não para Lino Fructuoso, um carioca de ascendência portuguesa que se tornou um dos maiores agitadores culturais da capital, graças a uma boa dose de sorte, aos contatos na alta sociedade e à persistência. O bloco Nana Banana, festas temáticas renomadas e até mesmo sessões de aeróbica ao ar livre fazem parte do currículo do promoter de 51 anos, que ainda encontra tempo para se dedicar a outra paixão, a gastronomia. Três décadas atrás, as boates praticamente inexistiam na cidade e a efervescência ficava por conta dos bares.


Lino ainda era um adolescente, que costumava frequentar o Abertura, no Gilberto Salomão. Ali ele teve a ideia de criar um “sambão”. O evento foi o primeiro sucesso da ainda incipiente carreira. A Corte Club Privé, no St. Paul Hotel (Setor Hoteleiro Sul), e a Zoom, no Gilberto Salomão, abriram espaço para os playboys de Brasília — outras casas, como a Sunshine e o Xalaco, eram direcionadas para a galera mais velha. Ao perceber que os jovens começavam a migrar dos bares para as danceterias, Lino decidiu investir nas festas de garagem. “Tinha um quartinho lá em casa que eu usava para discotecar. Como não havia luz estroboscópica, colocava uma gilete diante do alto-falante e, com a batida do som, a luz acendia, enquanto o CD tocava”, lembra. Era época do campeonato de skate da 115 Sul e do Projeto Cabeças, um movimento cultural alternativo encampado por alunos da Universidade de Brasília (UnB) que tomava conta das quadras do Plano Piloto.

Lino com Durval Lélis, do Ásia de Águia: presença forte em Micarecandangas (Arquivo pessoal)
Lino com Durval Lélis, do Ásia de Águia: presença forte em Micarecandangas

Lino se aproximou de um dos proprietários da Corte Club Privé e passou a exercer a função de relações-públicas da casa. Era ele quem fazia as listas de convidados da boate. Graças à influência e às amizades, encampou uma festa chamada Noite das Eleições, em 1986, no momento em que o Distrito Federal escolhia, pela primeira vez, seus deputados federais e senadores. “Eu mexi com o ego das pessoas. Peguei três ‘candidatos’ a deputado federal, três para a Câmara Legislativa e três para o Senado.

Cada um dos 300 ingressos disponíveis tinha um cédula eleitoral dentro”, lembra. Resultado: os aspirantes quiseram comprar todos os bilhetes, decretando o sucesso absoluto do evento. As presenças da Miss Brasil Jacqueline Meirelles e da bateria da escola de samba Aruc tornaram a festa marcante. Com o dinheiro arrecadado com a venda dos ingressos, Lino trocou o Fusca por um mais novo. “Foi aí que pensei que poderia dar negócio”, admite o filho de um porteiro e de uma funcionária do Ministério da Agricultura, que chegou a Brasília quando tinha apenas 7 anos.


"A maior dificuldade que eu encontrava, na década de 1980, era a de levar as pessoas para as festas e shows", reconhece Lino. "As tribos eram muito distintas. Havia os roqueiros e a galera que gostava de Dona Summers e outras músicas de estilo flashback." A boate Zoom, fundada por Márcio Salomão e por Chico Recarey, cumpriu bem essa função de aglutinadora — na casa, o agitador cultural exerceu a função de promotor de eventos. Em 1996, Lino lançou a banda Batom na Cueca, com uma festa no Iate Clube para 3 mil pessoas. Outras 3 mil ficaram aguardando do lado de fora. "Era um terror", brinca. "Aconteceu numa quinta-feira e não tinha como ninguém mais entrar." Ele também projetou o grupo de pagode Moleke, cujo líder, Felipe, é o atual vocalista do Travessos.


Além de ter realizado festas em todas as boates de Brasília, Lino manteve uma parceria de sucesso com o bloco Nana Banana. Era ele quem organizava a apresentação do Chiclete com Banana durante a Micarecandanga. Durante 16 anos, o trio elétrico de Bell Marques, Rey Gramacho e Waltinho arrastou multidões em Brasília. Os eventos promocionais do bloco, como feijoadas, churrascos e outros, também tiveram a assinatura de Lino. "As pessoas vinham para o Gilberto Salomão um dia antes e ficavam na fila para comprar ingresso. Ela dava a volta no shopping", lembra.

Sempre cercado de artistas: aqui, com Paula Burlamaqui e Eduardo Galvão (Arquivo pessoal)
Sempre cercado de artistas: aqui, com Paula Burlamaqui e Eduardo Galvão

"Nós conhecemos o Lino desde meados de 1990. Sempre foi um empreendedor de eventos, um cara muito profissional, bastante tranquilo e seguro em tudo o que fazia", afirma Rey Gramacho, ex-baterista e sócio-proprietário do Chiclete com Banana, em entrevista por telefone, de Salvador. Rey explica que o Micarecandanga tem uma importância muito grande para a banda. "Talvez o bloco Nana Banana de Brasília, entre os 17 que mantínhamos nas capitais do país, fosse o mais movimentado. Todo mês tinha um evento. Lino não deixava o folião se desassociar do Nana Banana", lembra. "Eu não me lembro de ele ter feito um evento que não tenha dado certo."


A inspiração para festas temáticas em Brasília foi trazida do Rio de Janeiro, nos eventos produzidos por Chico Recarey e Ricardo Amaral. "Eu ficava na porta da boate New York, em Ipanema, e um amigo carioca me descrevia todos os eventos famosos que os dois faziam", relata. Tudo o que bombava por lá era reproduzido por aqui. Lino introduziu, em Brasília, o uso de camisetas, uma espécie de uniforme dessas festas. Há pouco tempo, ele havia se comprometido com o desafio de levar famílias inteiras às boates. As festas similares à Flashback Dance, realizada em 10 de maio passado, cumpriram com esse papel. Também foi ele quem lançou o grupo paulista All You Need is Love em Brasília. O show do cover do The Beatles lotou o Centro de Convenções Ulysses Guimarães em 2011. Os próximos projetos de Lino Fructuoso incluem um novo show do All You Need is Love, previsto para 21 de julho, além de apresentações de Gal Costa (29/6), Os Paralamas do Sucesso (31/8) e Marisa Monte (entre outubro e dezembro).

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