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TURISMO | GOURMET »

Gostinho de viagem

Escolher o destino pelo cardápio já é um hábito para apreciadores da boa mesa. Eles não se importam em vencer longas distâncias para conhecer de perto regiões produtoras ou locais de referência de determinadas iguarias

Matheus Teixeira - Redação Publicação:01/07/2013 15:27Atualização:01/07/2013 15:49

Muito além dos monumentos: na Itália, turistas se fartam com a rica culinária  (Carlos Altman/EM/DA Press)
Muito além dos monumentos: na Itália, turistas se fartam com a rica culinária
 

Sentir o sabor da cozinha de uma região pode ser a melhor forma de entender e conhecer uma cultura. As comidas típicas geralmente são reflexos da história e dos costumes da população local. Essa consciência já está arraigada na cabeça de um grupo de pessoas que faz o chamado turismo gastronômico. Em vez de conhecer apenas monumentos e pontos tradicionais dos países, os turistas optam por incluir no roteiro restaurantes, fábricas de alimentos e vinícolas.


O chef italiano Antonello Monardo foi um dos pioneiros em montar grupos para destinos gastronômicos. Proprietário de um restaurante e de uma escola de italiano, ele conta que clientes e amigos sempre pediam dicas sobre o que fazer ou onde comer quando iam à Itália. “Alguns pediam para ir comigo para eu apresentar o país a eles.” Até que um dia Antonello resolveu juntar um grupo de amigos interessados em conhecer o seu país. A primeira viagem foi para o Norte da Itália, em maio de 2011. A partir de então, são duas viagens por ano, uma no outono e outra na primavera. Sempre para a Itália, mas para regiões diferentes. “Até agora não repetimos nenhuma vez o destino. Já estamos na sexta excursão e a procura cresce a cada ano”, comemora.

De tanto os amigos pedirem indicação de restaurantes na Itália, Antonello Monardo vai pessoalmente mostrar sua terra natal: hoje, duas excursões por ano (Fotos: Raimundo Sampaio/Encontro/DA Press)
De tanto os amigos pedirem indicação de restaurantes na Itália, Antonello Monardo vai pessoalmente mostrar sua terra natal: hoje, duas excursões por ano

Por ter morado na Itália muitos anos, Antonello conhece lugares diferentes, aos quais turistas não chegariam sem as dicas de um nativo. “Não digo que os levo a locais inéditos, mas são incomuns, pois não estão nos trajetos tradicionais”, garante. Entre os passeios, estão visitas a fábricas de queijo e de azeite, vinícolas e restaurantes tradicionais.


André Birolli, apaixonado por gastronomia, foi à Argentina:  além da gastronomia local,  fez curso de harmonização ( Raimundo Sampaio/Encontro/DA Press)
André Birolli, apaixonado por
gastronomia, foi à Argentina:
além da gastronomia local, fez curso
de harmonização
Locais inusitados como a vinícola de Mozart também estão no roteiro. “As uvas crescem ao som de Mozart. O proprietário espalhou caixas de som pela fazenda e diz que as plantas amadurecem melhor quando escutam música clássica de qualidade. Se é verdade, eu não sei, mas os vinhos dele são realmente deliciosos”, diz.


Também chef, o dinamarquês Simon Lau é outro que, desde 2008, reúne grupos para levar à sua terra natal. A ideia surgiu de uma necessidade. “Queria visitar minha família, mas as passagens eram muito caras. Então, pensei em levar conhecidos e clientes interessados em conhecer o Norte da Europa para pagar o custo da minha passagem”, lembra. No próximo roteiro, neste mês, passará por Dinamarca, Suécia e Noruega. Está incluso um jantar no restaurante Noma, em Oslo, que já foi considerado pela revista inglesa Restaurant o melhor do mundo. “Vamos a quatro restaurantes topo de linha, porém também comemos comida caseira. Eu os levo a casas de família para sentirem o gosto do que as pessoas comem no dia a dia. A viagem de 10 dias é um mergulho na cultura nórdica”, exalta.


A advogada Hermínia Maranhão conheceu o turismo gastronômico em 2010, quando foi para a Itália com Antonello. Foi a primeira de muitas viagens gastronômicas. Depois disso, esteve no Peru, em 2012. Dos 20 melhores restaurantes peruanos, ela conheceu 10. “Foi sensacional. Também conhecemos o chef Gastón Acurio, que ajudou a difundir a culinária peruana, que hoje está em evidência no mundo inteiro”, relata.

Hermínia (de pé, ao fundo) e o grupo de amigos da Confraria da Anarquia: amizade após uma excursão de turismo gastronômico (Bruno Pimentel/Esp. Encontro/DA Press)
Hermínia (de pé, ao fundo) e o grupo de amigos da Confraria da Anarquia: amizade após uma excursão de turismo gastronômico

E ela não para. Já tem passagem comprada para Dinamarca e China ainda este ano. “À Dinamarca, vou com meu filho, não comprei nenhum pacote. Mas vamos para conhecer um dos melhores restaurantes do mundo e outras peculiaridades da cozinha de lá”, diz. Para a China, vai com um grupo de São Paulo. “O pessoal que foi para o Peru me convidou para ir ao Oriente. Como ninguém de Brasília faz essa viagem, vou com os paulistas. Estou ansiosa. É uma cultura muito diferente da nossa, mas deve ter comidas deliciosas”, espera.


O interesse de Hermínia pela gastronomia é recente. Quando chegou a Brasília, só existiam cinco restaurantes de ponta. “Há 40 anos, praticamente não havia restaurante bom no DF, mas isso nunca me incomodou”, avalia. Aos poucos, a paixão pela gastronomia tomou corpo: “De uns anos para cá, criei interesse nisso e me apaixonei, fiz até o curso de gastronomia e hoje sou formada”, ressalta a gourmet, que não tem a pretensão de virar chef, apenas de cozinhar para os amigos. Junto ao grupo que foi à Itália, Hermínia formou a Confraria da Anarquia.

Affonso e Sybele conheceram-se numa viagem de turismo gastronômico: uma Toscana que jamais vão esquecer (Fotos: Raimundo Sampaio/Encontro/DA Press)
Affonso e Sybele conheceram-se numa viagem de turismo gastronômico: uma Toscana que jamais vão esquecer

A cada encontro, uma pessoa é escolhida para fazer a comida. Comemos e tomamos vinho madrugada adentro”, explica a empresária Cristiane Nardine.


Não são apenas histórias de amizade que surgem nessas viagens. Os servidores públicos Affonso Feijó e Sybele Queiroz apaixonaram-se durante uma viagem. “Fomos nos conhecendo, descobrimos interesses em comum e acabamos nos envolvendo. Quer forma melhor de se apaixonar do que em um país romântico como a Itália?”, indaga Affonso. Sybele já havia ido à Emilha-Romagna em 2010 e decidiu ir para a Toscana, região central italiana, em 2011, quando conheceu Affonso. “Uma região é mais bonita que a outra. Adorei as duas viagens, mas acho que preferi a Toscana, pois foi lá que conheci meu marido”, diz.


O coordenador de gastronomia do Instituto de Ensino Superior de Brasília, Sebastian Parasole, também é um guia com olhos voltados para a gastronomia. Mantém com dois sócios a empresa Melhor Gourmet, que organiza pacotes de viagem. “Como somos professores, temos a educação no sangue. O conceito número um é educar”, conta. Em julho, está programada uma excursão para a Argentina. Cursos de harmonização de vinhos, carne argentina, chocolate, tortas modernas e massas e molhos estão no pacote, além de passeios por Buenos Aires e alguns restaurantes já selecionados.

Outros destinos estão programados para este ano, como a Espanha, com direito a curso no estreladíssimo Celler de Can Roca, e os Estados Unidos, mais precisamente Nova York, onde os turistas poderão ir aos restaurantes de bicicleta.

O dinamarquês Simon Lau juntou o útil ao agradável: queria visitar a família e acabou montando um pacote para mostrar o melhor da culinária do país (Fotos: Raimundo Sampaio/Encontro/DA Press)
O dinamarquês Simon Lau juntou o útil ao agradável: queria visitar a família e acabou montando um pacote para mostrar o melhor da culinária do país

O instrutor de educação profissional do Senac, Filipe Rocha, vai à Espanha em outubro. “Acompanho o trabalho do chef Joan Roca há anos. O jeito dele de cozinhar é uma inspiração para mim. Ter uma aula com ele será inesquecível”, diz. Também vai aprender sobre cozinha a vácuo, uma tendência mundial.


O chef de cozinha André Biroli também já passou pela experiência de viajar para aprender mais sobre gastronomia. Na Argentina, fez cursos sobre a gastronomia da região e harmonização. Hoje, ele também é auxiliar de cozinha de um restaurante de Brasília, e diz que os cursos o ajudam no trabalho e fizeram com que seu currículo ficasse mais valoroso. “Adorei a viagem. Aprendi muita coisa e me diverti bastante”, conta. E ele garante que não é necessário entender de culinária para fazer uma excursão desse tipo. “Havia pessoas que não eram formadas em gastronomia e estavam lá. Indico o passeio para qualquer um”, exalta.

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