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Fora de forma

A obesidade também é um problema no reino animal. O excesso de peso pode causar uma série de doenças, como diabetes, além de problemas articulares e de pele

Maria Fernanda Seixas - Redação Publicação:16/07/2013 15:13Atualização:16/07/2013 15:47

Vanessa Pimentel, especialista em medicina felina, com seu gato, o Petruquio, de 15 kg: ele se recusa a fazer exercício (Minervino Júnior/Encontro/DA PRESS)
Vanessa Pimentel, especialista em medicina felina, com seu gato, o Petruquio, de 15 kg: ele se recusa a fazer exercício

Bebês e animais domésticos: quanto mais gordinhos e cheios de dobrinhas, mais suspiros arrancam. Porém, enquanto a fofura estética agrada, no quesito saúde, gordurinhas são perigosas para os animais. Segundo levantamento da Associação Médica Veterinária Americana, 40% dos cães dos Estados Unidos estão acima do peso. No Brasil, a realidade não é muito diferente.


De acordo com a veterinária Luciana Lima, especializada em endocrinologia animal, os prejuízos que a obesidade causa em animais e humanos são parecidos. “Quando obesos, os animais estão predispostos a desenvolver diabetes, câncer, infecções, problemas articulares e de pele, aumento do colesterol e triglicerídeos, hipertensão, além de sobrecarregar o sistema cardiorrespiratório e aumentar o risco cirúrgico”, alerta.


Aliado à arcaica noção de que gordura é saúde, está o crescente número de animais de estimação que levam uma vida sedentária. Vivem em espaços apertados e têm pouco estímulo, como brincadeiras, passeios ou caminhadas. O problema se agrava quando o sedentarismo recai sobre cães cheios de energia. Um exemplo fácil de assimilar é o crescente número de retrievers do labrador obesos nas clínicas. Após o filme Marley & Eu, todo mundo queria ter seu Marley. Foi assim que muitos desses cães foram parar em apartamentos apertados. Um cão de caça que não gasta a quantidade absurda de energia que tem, engorda. Para piorar, cães retrievers, beagle, cocker spaniel e dachshund são comumente diagnosticados com hipotireoidismo, que reduz o metabolismo e leva à obesidade.

Depois que começou a fazer agility, a dachshund Billa emagreceu 1,5 kg: ela é famosa pelas formas avantajadas (Minervino Júnior/Encontro/DA PRESS)
Depois que começou a fazer agility, a dachshund Billa emagreceu 1,5 kg: ela é famosa pelas formas avantajadas

Por fim, outro vilão surge naquele momento em que, ao pé da mesa, o cachorro ou gato convence o dono a dividir um pedaço de pão ou uma fatia de carne. Os petiscos fora de hora estão diretamente ligados ao ganho de peso. Trocando em miúdos, o dono quase sempre tem responsabilidade pela obesidade do seu animal: seja por oferecer muita comida, seja por submeter o animal a uma rotina sedentária. “Muitas vezes, proprietários com maus hábitos acostumam o seu animal à mesma rotina. Também é observado que proprietários acima do peso têm animais acima do peso”, aponta a veterinária.


O problema se agrava quando, aliados à má rotina, estão problemas endocrinológicos. “As principais causas da obesidade é a superalimentação e a falta de exercícios físicos, porém, estima-se que 25% dos cães obesos sofram de problemas hormonais, como a síndrome de Cushing, que é o excesso de produção do cortisol, e o hipotireoidismo, que ocorre devido à diminuição dos hormônios da tireoide”, explica Luciana.


De acordo com a veterinária, para vencer o problema, o animal deve passar por uma avaliação do veterinário endocrinologista. O próximo passo é seguir rigorosamente a dieta prescrita, respeitando quantidade, frequência e tipo de alimentação. Os petiscos e demais guloseimas devem ser evitados. “A realização de exercícios moderados e regulares é de fundamental importância na luta contra a balança. A perda de peso deve ser gradual e sempre acompanhada pelo médico”, enfatiza.

Maia, a border collie de Carlos Werneck, engordou após a castração: para as fêmeas, o procedimento impede a produção de hormônios que regulam o apetite (Minervino Júnior/Encontro/DA PRESS)
Maia, a border collie de Carlos Werneck, engordou após a castração: para as fêmeas, o procedimento impede a produção de hormônios que regulam o apetite

A dachshund Billa, de 4 anos, é famosa pelas formas avantajadas. Seus donos, a gestora pública Adriana Alves e o empresário Bernardo Ferreira, colocaram a cadela para malhar. “A Billa era o filhote mais fraco da ninhada. Era pequena e perdia para os irmãos na competição por leite. Então, quando a adotamos, ela passou a compensar essa escassez e começou a comer como uma glutona. Como temos outros cachorros na casa, ficou difícil controlar a quantidade de comida, porque ela comia a dela e a dos outros”, conta Adriana.


Billa também devora tudo o que encontra no jardim. Das siriguelas que caem do pé aos pássaros que passeiam em terra firme. Além do apetite sem fim, Billa vivia uma vida quase sedentária. O veterinário de Billa os alertou sobre os riscos e o casal optou por um canil que oferecia pacotes de hospedagem com sessões de agility (esporte para cães) e muita atividade física.


Em um mês, Billa já emagreceu 1,5 kg e melhorou o comportamento. “Está menos ansiosa, mais calma, come menos e está bem mais sociável com outros cães e pessoas”, revela a dona. O adestrador Pablo Webar, proprietário do Canil Social Dogs, é quem põe Billa na linha. O local é equipado com piscina, circuitos de agility e aulas de pastoreio. “A atividade física é fundamental na rotina de qualquer cão. Para a saúde e para a cabeça. Os resultados costumam ser rápidos porque eles respondem bem aos estímulos”, analisa Pablo.


Maia, a border collie de 4 anos do aposentado Carlos Werneck, é dessas cadelas cheias de energia. Bastou a castração para que começasse a engordar. Foi aí que Carlos aproveitou a deixa para se exercitar com Maia. Ambos saíam todos os dias. Ele pedalava e a conduzia pela guia. Aos poucos, Maia foi recuperando a boa forma. Até que Carlos teve de realizar duas cirurgias e, de repouso, parou de passear com a cadela. Novamente, ela engordou.


O fato é que as fêmeas, depois de castradas, deixam de produzir hormônios que regulam o apetite e a saciedade. Já os machos castrados perdem a produção de hormônios andrógenos, que estimulam o gasto de energia.


Se cachorros, que são agitados, estão casa vez mais obesos, os gatos, que passam o dia dentro de casa e comem em livre demanda, são ainda mais suscetíveis ao ganho de peso. “Na minha experiência clínica, cerca de 70% dos pacientes estão acima do peso”, conta a veterinária Vanessa Pimentel, especializada em medicina felina.
A veterinária tem um gato acima do peso. Petruquio, da raça maine coon, pesa 15 kg. O desafio, segundo ela, é conseguir controlar a alimentação dos gatos que convivem diariamente com outros. “Ele mal pode ouvir o som da ração caindo no pote.

 

Diferentemente dos cachorros, que comem duas ou três vezes por dia, os gatos precisam se alimentar com maior frequência. Chegam a comer até 18 vezes ao dia, mas em pequenas porções. O difícil é impedir que ele coma a dos outros”, avalia.
Vanessa chegou a colocar uma coleira em Petruquio para que passeassem debaixo do bloco. O gato, porém, se recusou a andar. “Já vi alguns gatos passeando de coleira numa boa. Petruquio empacou. É complicado viabilizar a dieta, já que ele convive com outros cinco gatos, e convencê-lo a fazer exercícios. É mais simples com um cachorro.”


Vanessa, porém, confessa que nunca atendeu nenhum paciente com diabetes ou problemas cardíacos causados pelo sobrepeso. “As consequências mais comuns da obesidade nos gatos são os problemas articulares e o fato de que a gordura impede que ele lave com as língua certas partes do corpo. O gato não consegue fazer a limpeza sozinho, e a região começa a ficar suja e com assaduras. Uma vez que as assaduras surgem, é muito difícil tratar, pois gatos costumam rejeitar pomadas, esfregando o bumbum no chão e causando ainda mais feridas”, explica. Além das feridas, as restrições na hora de se limpar com a língua geram estresse no gato, que detesta se sentir sujo.

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