Música no cardápio
Crescem na cidade as opções de restaurantes e bares que se preocupam tanto com a qualidade musical quanto com as delícias do menu
Há anos os sambistas cantam que o show tem que continuar. Em Brasília não é diferente, apesar de todas as limitações que a proximidade entre as quadras comerciais e residenciais impõe. Com opções que vão do jazz à música eletrônica, hoje a cidade tem som para todos os gostos, de segunda a segunda, e com diferentes sabores para embalar. Acompanhado de cappuccino, vinho ou cerveja, o roteiro musical e gastronômico firmado nos quadrados já é grande e tem aumentado na capital.
Em uma rua conhecida por várias opções de bares, um lugar de iluminação intimista e jardim aberto chama a atenção. Principalmente pelos sons e diferentes grupos que ali se reúnem ao longo da semana. O Pinella, na 408 Norte, apresenta de terça a sábado estilos musicais variados para acompanhar os pratos e os mais de 70 rótulos de cerveja oferecidos na casa. A programação musical entrou ativamente no carpápio apenas dois meses após a inauguração do espaço, no fim de 2011. A escolha foi natural, segundo as proprietárias Flávia Attuch e Marta Liuzzi. “A música motiva os funcionários, os clientes, e é uma coisa crescente”, comenta Marta. Mas, segundo ela, a seleção deve ter o gosto da casa: “Tem que bater energia, tem que bater o som”, diz.
Marta lembra que a combinação de música com um bom ambiente para comer e beber faz a diferença na hora de cativar o público. “As pessoas querem estar no barzinho, mas querem curtir a música também”, diz. “Elas querem fazer a noite no bar, sem precisar fazer um esquenta em outro lugar”.
Na Nova Quitinete, na 209 Sul, qualquer drinque da carta de cafés junto a um croissant de chocolate já seria o princípio de uma noite agradável, mas há ainda o plus da programação ao vivo no cardápio recém-elaborado. “É uma tendência nesse nosso segmento”, pontua um dos proprietários da casa, Marco Aurélio Rocha. Junto às saladinhas, entradas bem preparadas, pizzas e pratos principais – além do empório no primeiro piso –, nas segundas, quartas e sábados, o atrativo “voz e violão” compõe o clima do restaurante. Nesses dias, acordes de MPB têm holofote e, segundo o sócio, está entre as principais razões para a frequência do público.
Um dos donos da creperia C’est Si Bon, Sergio Quintiliano, conta que muitas vezes o som que chega aos blocos mais próximos do restaurante acaba convidando seus moradores a se juntar a outros clientes para uma noite de vinho e música. Para o empresário, que há sete anos investe em programação cultural na filial da 214 Norte, a receita de som, público e acompanhamentos é bem aceita. “Você tem uma comida que é feita com bom gosto e vem essa moldura da música, fazendo o acabamento da obra de arte”, descreve. “Isso faz com que a casa vibre diferente. Numa sintonia musical mesmo”, acredita.
O Loca Como Tu Madre, na 306 Sul, apesar do pouco tempo de funcionamento, é um dos locais que se destaca com esse perfil. A ideia de incluir músicos e DJs na programação da casa veio de um contato com a cultura argentina. Em temporadas diferentes, as proprietárias Renata Carvalho e Giovanna Maia se encantaram com os sabores e sons hermanos. “Em Buenos Aires, eu encontrava muito essa facilidade de ouvir boa música sem ser tão caro e eu quis trazer isso para o Loca”, conta Renata, que, além de cuidar da parte cultural, responde pelo menu da casa.
Questionada se os brasilienses gostam de música, a resposta de Renata é imediata: “As pessoas já vêm para cá por conta da música!”. A missão cultural, porém, não é fácil, dizem as sócias. Nos primeiros dois meses, os gastos eram muitos, sem retorno. Hoje, Renata define o produto musical ainda como um investimento, mas que vale muito a pena.
Para o público, depois de um hiato em programações musicais com propostas diferenciadas na cidade, a sensação é de satisfação. “É uma retomada. Passou um bom tempo sem nada”, lembra Bruno Rufino, publicitário e músico frequentador assíduo de ambientes com veia sonora junto com a namorada, Mell Azevedo.
O casal é afinado ao afirmar que a cidade tem muitos restaurantes, mas a maioria com carência na questão de música de qualidade nesse molde. “É um estilo de lugar que ainda tem pouco em Brasília: uma mistura de bar, restaurante e música boa”, avalia a namorada. O resgate, porém, é bem-visto: “Só de a seleção musical já ser legal, eu acho excelente”, destaca Rufino.
Para ouvir, comer e beber
Pinella
CLN 408, bloco B, loja 20
Terça: Jazz
Quarta: Samba/MPB
Quinta: Discotecagem, com vinil
Sexta: DJ Carlos Maffra, com samba rock
Sábado: projeto DiscoClub
Horário: das 20h à 0h
Couvert artístico: de R$ 5 a R$ 8
Nova Quitinete
CLS 209, bloco B, loja 5
Segundas, quartas e sábados: MPB
Horário: 20h a 0h
Couvert artístico: gratuito
C’est si Bon
CLN 213, bloco A, loja 13
Quinta: projeto Quinta Mais (música erudita, popular e instrumental, com veia jazzista)
Horário: das 20h30 às 22h30
Couvert artístico: R$ 10
Loca Como Tu Madre
CLS 306, bloco C, loja 36
Terça: projeto Loca loves Jazz, com o CuartetoCuartito
Quarta: DJs colecionadores de vinis de rock
Quinta: Lounge, com trio de DJs
Sexta: DJ Wash, com soul e funk
Sábado: Vinis clássicos
Horário: 20h30 às 23h30
Couvert artístico: R$ 5 e R$ 8
Café do Chef
CLN 108, bloco A, loja 20
Domingo: Choro
Horário: das 14h às 17h
Couvert artístico: gratuito