Alambiques candangos
Topografia, solo, altitude, distância do mar e clima são alguns dos fatores que explicam por que o Planalto Central concentra ótimas condições para a produção da cachaça. Visitamos duas fazendas que comprovam a tese
Para o presidente da diretoria executiva do Instituto Brasileiro da Cachaça, Vicente Vastos Ribeiro, a qualidade da produção daqui ajudou no importante processo de reconhecimento de que a cachaça é de origem exclusiva do Brasil. Isso porque, até este ano, nos Estados Unidos, a branquinha era conhecida como Brazilian Rum (rum brasileiro). Vicente conta que, durante as negociações finais para esse reconhecimento, funcionários do Alcohol and Tobacco Tax and Trade Bureau (TTB), órgão do governo americano responsável pelo comércio de álcool e tabaco, foram levados por representantes do Ministério da Agricultura para conhecer o processo de produção da cachaça nas cercanias de Brasília.
Ele era dono de um pequeno rebanho de gado leiteiro e tinha uma plantação de cana para complementar a alimentação dos animais. Até que um dia esse canavial pegou fogo. “Produzir a cachaça foi um recurso para não perder a cana”, conta. Observando que o resultado foi bastante razoável, em razão da precariedade da produção, decidiu estudar mais sobre o assunto. Leu, visitou alambiques e decidiu montar o seu. Aproveitou que, já no fim da década de 1990, tinha se aposentado do tribunal, e passou a se dedicar ao feitio da bebida. Com o tempo, junto do gerente, José Ribeiro, conseguiu dominar a fabricação da cachaça e, em 2001, produziu o destilado com laudos de análise laboratoriais emitidos pelo Ministério da Agricultura. Assim, passaram a comercializar o estoque.
Ao fim de um extenso processo de produção artesanal, em que a destilação é feita em alambique de cobre, a bebida é descansada e envelhecida em tonéis de madeira de jequitibá, carvalho e umburana. Na adega, estão 960 barris de 200 litros e 11 com capacidade para armazenar 5 mil litros da bebida. Após passar pelo período de envelhecimento correto para cada um dos cinco tipos de cachaça produzidos no local, a bebida é engarrafada e rotulada manualmente, ficando pronta para chegar às mãos dos clientes.
Thiago Galeno Brasil Furtado é o representante da quarta geração da família que toca o negócio, originado no Ceará e vindo para o Planalto Central na década de 1980. Um dos orgulhos da família é o fato de a bebida por eles produzida ser 100% orgânica, com vários selos internacionais que atestam isso, e de ter um processo artesanal de produção.
Depois de passar por todo o processo normal de elaboração da bebida, a cachaça pode ser engarrafada diretamente ou colocada para envelhecer. Como resume Thiago: “Cachaça é mudança de estado. No processo, a bebida vira vapor, é condensada e depois ‘pinga’. Vindo daí o apelido da bebida”. Os 1.500 barris de carvalho, cada um com capacidade de 250 litros, são guardados num espaço localizado há cinco metros abaixo da terra, onde passam pelo menos um ano antes de serem comercializados.
O local tem cachaças já com nove anos de envelhecimento. Além disso, o empreendimento tem parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) para a realização de um estudo que testa o envelhecimento da bebida em barris feitos com quatro tipos de madeira. O que é muito útil ao negócio, já que volume de produção local é de 3 mil litros por dia.