Aposta no conjunto
O Kia New Cerato tem bons atributos para conquistar o consumidor, incluindo um elogiável conjunto mecânico. Mas a relação custo/benefício é, na verdade, um problema
Honda Civic e Toyota Corolla são os campeões em vendas no disputado segmento dos sedãs médios no Brasil. Mas um concorrente sul-coreano acaba de se armar para tentar roubar ao menos uma parte desse mercado. A Kia Motors já está trazendo para o país o novo Cerato, que aposta no espaço interno, em um bom nível de conforto e no visual moderno para conquistar o público.
O design é justamente o maior atrativo desse sedã, que mudou completamente nesta terceira geração. Os sul-coreanos acertaram em cheio ao mesclar linhas elegantes e ao mesmo tempo joviais, dando harmonia ao conjunto, que se mostra capaz de agradar tanto ao público jovem quanto ao mais conservador.
Por dentro, o principal trunfo é o espaço interno. Os materiais utilizados no acabamento são de boa qualidade, dando um ar sofisticado ao interior do Cerato.
Os equipamentos comuns ao segmento estão (quase) todos lá, incluindo duplo airbag frontal, ar-condicionado digital bizona com saída independente para o banco traseiro, para-brisa com desembaçador automático e porta-luvas climatizado. “Quase” é porque falta o sistema de Bluetooth e uma tela de LCD no painel.
A versão avaliada por Encontro Brasília foi a topo de linha, equipada com motor 1.6 de 128 cv (quando abastecido com etanol) e câmbio automático de seis velocidades. Em termos mercadológicos, esse é o maior pecado do novo Cerato. Enquanto Civic e Corolla oferecem motores 1.8 e 2.0, no Brasil o sedã sul-coreano só desembarca com um tímido motor 1.6 flex, o que certamente vai atrapalhar seu desempenho em vendas. Embora no trânsito o desempenho não seja dos piores.
O excelente acerto do motor 1.6 com o câmbio de seis velocidades garante um bom comportamento ao carro, superando a falta de força do propulsor. Em termos de dirigibilidade, um dos pontos altos é a direção elétrica, ao mesmo tempo precisa e muito confortável. Por meio de um botão no próprio volante, o motorista regula a direção em três diferentes níveis – conforto, normal e esportivo. Na seleção conforto, utilizada durante boa parte da avaliação, o motorista tem à disposição uma direção leve e ao mesmo tempo precisa. A posição de dirigir também agrada bastante, com boa visibilidade e acesso a todos os comandos.
O nível de equipamentos de segurança e conveniência é compatível com o segmento. Além do duplo airbag, há freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, piloto automático, luz diurna de LED, rodas de liga-leve aro 16 e sensores de estacionamento traseiro e dianteiro.
O novo Cerato custa R$ 67.400 com câmbio manual e R$ 72.900 na automática, ambos com seis marchas – as duas versões têm os mesmos equipamentos de série. Importado, o bom sedã da Kia é pouco competitivo em termos de preço. Mais potentes, seus dois principais rivais, que são produzidos em solo brasileiro, também oferecem melhor relação custo-benefício.
O Honda Civic custa a partir de R$ 66.890 com motor 1.8 e câmbio manual. Por R$ 74.490, é possível comprar a versão LXR, com motor 2.0 de 150 cv (155 cv com etanol) e câmbio automático de seis velocidades. Já o Corolla com motor 1.8 e câmbio manual custa a partir de R$ 60.820 e com transmissão automática de quatro velocidades, a partir de R$ 64.640. A versão 2.0 automática começa em R$ 75.620.
Em resumo, tecnicamente, o Kia Cerato tem bons atributos para conquistar o consumidor, como um belo e imponente design – Civic e Corolla têm hoje visuais envelhecidos –, uma elogiável dobradinha espaço interno/conforto e um bom conjunto mecânico. Seu calcanhar de Aquiles é a relação custo/benefício, que exige reais demais para um sedã compacto premium equipado com um tímido motor 1.6.
Mesmo assim, Marco Paulo, diretor de marketing do Grupo Sermec, responsável pela Kia em Brasília, diz que espera comercializar ainda este ano 400 unidades do novo Cerato no mercado local. “Todas as unidades que recebemos já foram vendidas”, conta. Segundo ele, o motor 1.6 não será empecilho para o sucesso do modelo. “Usar motores de baixa cilindrada, mas mais modernos e econômicos, é uma tendência mundial. E, no novo Cerato, o acerto entre motor e câmbio garante um ótimo desempenho”, afirma.