A sala de aula do futuro
Por que o modelo tradicional do professor à frente de um quadro negro, repassando seu conhecimento de forma linear, está com os dias contados?
A sala de aula como conhecemos hoje é coisa do passado. O novo espaço educacional deve dialogar com as crianças e jovens tentados a descobrir (e produzir) o mundo na internet, se não quiser perder a guerra para as distrações tecnológicas e parecer tão empolgante quanto um monastério medieval.
Nesta página você vê a ilustração produzida a partir da provocação que Encontro Brasília fez a especialistas no assunto: na sala de aula do futuro, a produção do conhecimento é colaborativa; o professor tem a função de mediar o processo. “O modelo em que todos os alunos estão voltados para o professor dá a entender que essa figura concentra todo o conhecimento e todas as outras deverão absorver apenas”, indica Steven Cramer, do Departamento de Melhorias no Ensino da Universidade de Wisconsin (EUA).
As novas tecnologias aparecem, nesse contexto, como causa e consequência de mudança comportamental que já é visível no abismo tecnológico entre gerações. Para Eliane Carneiro, coordenadora de Mídias Educacionais da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), a maior dúvida quanto ao futuro da sala de aula está nas diferenças de perfis entre discentes e docentes. “Grande parte dos professores está atrás dos alunos com relação à tecnologia. Às vezes, um professor vai dar uma informação que o aluno já sabe”, conta.
Até o fim do ano, a SEDF deve equipar todos os 5 mil professores do ensino médio com tablets que rodam o sistema Android, do Google, além de promover capacitações periódicas. No ano que vem, lousas inteligentes interativas devem chegar a 2 mil escolas da rede pública, e o projeto piloto de uma sala de aula do futuro deve ser implementado em uma das unidades. Todo o pacote tech custou R$ 7 milhões aos governos local e federal.
O choque cultural é inevitável, na perspectiva de Maria Lucia Willemsens, diretora superintendente da Cultura Inglesa, que trocou os quadros negros (ou brancos) por lousas interativas. O equipamento, ligado ao computador, responde ao toque do professor na tela com uma caneta especial e permite tanto a escrita à mão convencional quanto o acesso à internet.
A sala de aula conectada demanda investimentos em rede que ainda não são exemplares no Brasil. O percentual de alunos da rede pública que acessam a internet no país saltou de 24% em 2005 para 70% em 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas escolas privadas, o número vai de 82% para 96,2%.
Enquanto isso, dados do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação mostram que 93% das escolas brasileiras têm internet, mas na rede pública a velocidade e o número insuficiente de computadores ainda são problemas.
Em contrapartida, mesmo com a precariedade do 3G, cerca de 44% dos jovens da rede pública e 54% dos alunos de colégios particulares usam celular com internet móvel. A massacrante maioria deles passa grande parte do tempo usando as mídias sociais. “É um movimento que merece tanta atenção quanto o surgimento da internet e o advento da globalização. As mídias sociais, a sociedade em rede e os conteúdos colaborativos mudam tudo radicalmente”, explica Antonio Flavio Testa, sociólogo e antropólogo da UnB e pesquisador da Faculdade de Educação.
O descarte do professor de carne e osso – ao menos em etapas mais avançadas da educação, como no ensino superior – é uma das bandeiras de Bill Gates, o fundador da Microsoft, que hoje se dedica a defender causas sociais e educacionais. Em recente entrevista à CNN, ele vaticinou: “Estar lá fisicamente não acrescenta muito valor”. Na visão de Gates, as aulas em universidades com centenas de alunos em sala de aula estão com os dias contados.