O artista é você
Brasília é uma cidade convidativa a quem gosta de soltar a voz e se sentir um verdadeiro artista - mesmo não tendo tanto talento. Um roteiro com os melhores karaokês da cidade comprova isso!
Encontro Brasília testou as principais casas que garantem a alegria mais ou menos bêbada àqueles dispostos a soltar a voz nessa estrada (a voz; não a vó, vejam bem). De banda ao vivo no palco, passando por decoração burlesca e chegando à sinuca como opção acessória, a capital oferece opções pitorescas e curiosas, mas, acima de tudo, divertidas, em casas noturnas que abrem o microfone aos clientes mais corajosos.
Ao se ver diante da plateia, a professora Carla Martins agita um tímido tchauzinho para as amigas, que fazem coraçõezinhos com a mão e gritam palavras de coragem. Olha para trás e acena, poderosa, para o baterista Anderson Nigro. Ele dá, então, os sinais para que a banda comece a tocar Sou Free, hit dos anos 1980 que ficou famoso com a girl band Sempre Livre. Depois de bradar a cacofonia da liberdade, Carla desce do palco do pub KaraUk e confessa: “Quinta-feira é para deixar o maridão em casa e me divertir com as amigas. Me sinto uma cantora de verdade”. Chegou às 22h e disse que ficaria “até cansar”.
Para se arriscar ao microfone, é preciso se inscrever (ninguém paga para cantar, só para entrar) e aguardar a vez. Não é permitido repetir até que todos os que assim desejarem tenham cantado ao menos uma vez. Mas há quem tenha estratégias avançadas. Na noite em que a reportagem visitou o pub, a dupla McDonalds e Giraffas voltou ao palco repetidas vezes. Tratam-se, na verdade, dos amigos servidores públicos Daniel Canedo e MacDonald de Almeida. “A gente coloca cada hora o nome de um de nós dois. Daí dá pra repetir, subindo e cantando os dois ao mesmo tempo”, explica MacDonald (sim, este é mesmo o nome dele).
Se a banda é o destaque do KaraUk, a decoração e o clima intimista dão o tom no Kabareh. A gerente Danielle Rocha chega apressada, de táxi, com um shake de proteína na mão: “Vou virar uma panicat”, diz. Ao entrar na casa e receber a reportagem, arranha um “Welcome to Kabareh”, enquanto ajeita um amontoado de plumas sobre um abajur (cor de carne) na entrada. Penas enfeitam os candelabros e os lustres, com lampadinhas que imitam o formato de velas. Luminárias com franjas de tecido vermelho e papel de parede texturizado completam a decoração desse pub de apenas 100 metros quadrados.
A faixa etária dos frequentadores dos karaokês de Brasília é tão flexível quanto a amplitude vocal dos mais afinados. “Galera, minha mãe tá aqui, véi. Ela veio com o boy dela, então sou a favor de a gente ir para outro lugar despirocar”, desesperava-se uma adolescente na porta do Kabareh. Os amigos então sugeriram cruzar a cidade e experimentar o Strangers Snookers ou o Cantar & Cantar. As duas marcas oferecem ambientes mais despojados, à moda clássica do karaokê bagaceira, por isso tendem a atrair clientela mais jovem, mas nada é regra nesse mercado.
O Stranger’s (que dá nome a uma casa na Asa Norte e outra na Asa Sul) oferece também sinuca e pôquer para quem não é adepto da cantoria. Jantar, cerveja gelada e premiações todos os dias são as promessas na entrada. A área do karaokê fica isolada dentro do amplo espaço das sinucas. No palco, o servidor público Bruno Carvalho Maltez cantava o refrão de Conga la Conga, de Gretchen: “Colocaram essa música para mim, mas vou me vingar”. Ele obrigou uma amiga a cantar um sucesso da Xuxa, como troco.
“É importante que a música seja antiga, para que mais gente conheça e todo mundo cante junto”, defende a bancária Tatiane de Oliveira. Ela cantou Astronauta de Mármore, do grupo Nenhum de Nós, junto ao amigo Heli Junior.
O espaço no palco é destaque, comportando grandes grupos adeptos do lema “Amigos unidos pagam mico unidos”. É o caso das estudantes Enny Faleiro, Mariana Correia, Poanka Faleiro e Amanda Coelho, que mandaram ver no “Tirap Tchoron! Tirap Tchoron!” de Tremendo Vacilão, da funkeira Perlla. “Era para ser Hakuna Matata (da trilha do desenho animado O Rei Leão), mas só tinha em inglês, então fomos de Perlla”, explica Enny.
Enquanto entoavam o “Deu mole pra caramba/ É um tremendo vacilão/ Tá todo arrependido/ Vai comer na minha mão”, uma aranha tecia uma teia, um pinscher caçava na grama, uma pata chocava os ovos, flores bailavam ao vento e gaivotas sobrevoavam praias paradisíacas nas telas de TV.
Cantar & Cantar
710 Norte - Bloco F. Tel: (61) 9139-7366
De terça a quinta, entre 17h e 0h30:
R$ 13 (para quem canta) e R$ 9
Sexta e sábado, entre 17h e 2h30:
R$ 15 e R$ 10
Kabareh
CLS 413 Bloco C, Loja 8.
Tel: (61) 8344-8444
A partir das 20h
De terça a quinta, R$ 15;
sexta e sábado, R$ 20
KaraUk
CLS 411, Bloco B. Tel: 61) 3346-5214
A partir das 22h
Somente às quintas-feiras, R$ 20
Stranger’s Snooker
Asa Norte: 706/707 - Bloco D - Loja 6. Tel: (61) 3274-7770
Asa Sul: 513 Sul, loja 78 - Bloco C
Tel: (61) 3345-8075
A partir das 17h (nos dois endereços)
De segunda a quinta, R$ 15 (videokê)
e R$ 3 (apenas sinuca)
Sexta a sábado, R$ 20 e R$ 3