Luxo ou proteção?
O sentimento de insegurança, aliado a preços mais acessíveis para adaptar o carro, faz crescer o mercado da blindagem de automóveis em Brasília
O medo da criminalidade leva muitos brasilienses a pagar caro para se sentirem mais seguros. Empresários e executivos têm desembolsado de R$ 18 mil a R$ 60 mil para tornar seus automóveis impenetráveis a balas. O mercado da blindagem em Brasília ainda é novo, se comparado aos das regiões Sudeste e Nordeste, mas vem crescendo de forma linear a cada ano.
Quem garante é Amilzio Júnior, diretor da Safety Blindagens, a única empresa especializada no Distrito Federal. De acordo com ele, a demanda pela instalação tem crescido numa proporção de 10% a 15% em Brasília.
O que antes era tratado como luxo passou a ser visto por muitos como necessidade. “As pessoas estão conhecendo melhor o produto, vendo a necessidade de se proteger e sentindo na pele o aumento da violência. Com a demanda, os preços caíram, a tecnologia dos materiais balísticos tem melhorado e o mito de que o carro se torna um ‘tanque de guerra’ está desaparecendo”, diz Amilzio.
O gasto com a blindagem depende do tipo do veículo, do nível de proteção e dos opcionais solicitados. Os especialistas têm usado, com uma maior frequência, materiais mais leves e duráveis. O kevlar (uma fibra sintética de aramida usada na blindagem opaca e sete vezes mais resistente que o aço por unidade de peso) e o policarbonato (um polímero usado na fabricação dos vidros) contribuíram para queda nos custos. Com garantia de 10 anos, o serviço é geralmente finalizado em 30 dias.
Morador de Brasília, o carioca Roberto Moreira da Costa, engenheiro elétrico e consultor técnico em instalações prediais, está em seu segundo carro blindado. "Eu comprei, uso e, principalmente, recomendo um carro blindado. A meu ver, a blindagem deveria ser item comum em todos os carros, pois oferece grau de conforto e segurança muito grandes", diz. A Mercedes E320 Avant Guard, modelo 2005, tem nível M3: garante proteção contra disparos de armas de fogo calibre .44 a 10 cm do vidro. "Como tem reforço com manta kevlar na carroceria, a sensação de segurança é maior", afirma Costa.
O proprietário precisa tomar uma série de cuidados, como não deixar o carro exposto muitas horas ao sol, manter o motor e a suspensão sempre em ordem, testar periodicamente os sistemas de alarme e comunicação e revisar a cinta interna das rodas. Costa alerta que o item blindagem não é 100% confiável, mesmo para níveis elevados de reforço. "Nunca me preocupei com o índice de proteção, mesmo porque nunca sofri atentados e não tenho razões para me preocupar. Nem pretendo testar a blindagem", diz.
Presidente da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), Christian Conde Antonio diz que o mercado está em franca expansão. O mais recente levantamento feito pela entidade aponta que, em 2012, 8.384 veículos foram blindados por associados da Abrablin em todo o país. Um aumento de 2,7% em relação ao ano anterior, quando o Brasil já havia batido o recorde nacional de blindagem automotiva.
Se em 2011 as mulheres representavam 35% da fatia da clientela, em 2012 elas somavam 42,5%. “Isso mostra outra realidade conhecida. As mulheres têm participado cada vez mais do mercado de trabalho. Como se sabe, são vítimas preferenciais da criminalidade. A blindagem surge para que se sintam mais protegidas”, comenta Christian.
Segundo ele, algumas blindadoras encaminham os funcionários para montadoras, com o objetivo de ensinar-lhes a manusear as novas tecnologias. “Isso é fundamental, já que, no processo de blindagem, o veículo é quase todo desmontado. Esse cuidado garante que o carro ganhe a proteção sem perder a originalidade”, conclui.