Ativismo com sabor
Há cada vez mais adeptos da alimentação vegana. Cientes da procura, mais de uma centena de restaurantes em Brasília já oferecem pratos sem ingredientes de origem animal
Das antigas opções básicas, restaurantes e empórios se empenharam e desenvolveram produtos nos moldes da demanda, capazes de atrair muitos fãs de churrasco. De cappuccino com leite de grãos a cupcake recheado, sem ovo, as opções são surpreendentes. Tanto em termos de criatividade quanto de sabor. E já contam com respaldo nutricional.
“É uma exigência cada vez maior do público”, constata a empresária Luci de Oliveira, após trabalhar diariamente, há três anos e meio, com sorvetes artesanais. Dona da Palazzo, na 706 Norte, a sócia-proprietária lembra-se dos pedidos frequentes que chegavam à loja, buscando versões sem leite da delícia gelada, para atender tanto aos clientes intolerantes ao componente quanto aos contrários ao uso do ingrediente animal. “Não é mais só uma necessidade física. É uma necessidade também da definição de estilo de vida deles, da forma de comer”, observa.
Em um blog especializado na cultura vegana, a releitura do item fast-food foi eleito o melhor na cidade. Para o dono do endereço virtual Distrito Vegetal, Pedro Matos, o mercado abraçou o movimento vegano. “Comer ainda é um hábito muito social. Não é apenas uma necessidade fisiológica”, pontua Pedro. “Hoje já há uma série de lugares para comer acarajé, pastel, pizza, várias coisas veganas.”
Estruturada no uso basicamente de grãos, leguminosas, frutas, verduras, oleaginosas e especiarias, a quantidade de opções surpreende. “E é muito raro alguém não gostar”, assegura Marina. Aliás, parte significativa dos frequentadores do restaurante não é de seguidores da dieta vegetariana, segundo ela. A aprovação dialoga diretamente com o cardápio, chamativo a muitos paladares.
Atenta ao movimento que conquistou muitos brasilienses, Marina lembra como essa culinária se firmou na capital. “É perceptível o crescimento da oferta e da demanda. Mas houve muita pressão”, frisa. “O público teve de ir ao mercado, falar, explicar o que era um vegano”, recorda-se, citando o que chamam de ativismo gastronômico.
Na doceria Brigadeirando, a movimentação a partir de um cliente mirim, com alergia à lactose foi o pontapé inicial para a linha vegana, que hoje conta com cupcakes, brigadeiros e brownies, sem qualquer ingrediente animal. As adaptações levaram tempo e vieram a partir de bastante pesquisa. “A produção é mais difícil”, reconhece Karla Sousa. Porém, a doceira por trás das delícias que a lojinha decorada no Sudoeste apresenta não desanima. “Hoje em dia, é bem mais fácil achar os ingredientes por ter muita gente pedindo”, alega.
No Bistrô Ômega 3, o foco é na alimentação saudável com redução de gordura. Nesse contexto, nasceu o cardápio que, em cada seção, contém pelo menos uma opção vegana. A bruscheta feita com pão integral de chá verde surge entre as entradas, enquanto o risoto de shitake com shimeji, ao molho de shoyo light, vinho branco e tomate seco, se destaca como prato principal.
Para a sobremesa, a delícia de frutas vermelhas, que intercala camadas de amora e morango com mix de castanhas e creme de soja, traduz bem o conceito saudável implementado pelos irmãos Rafael Anjos, nutricionista, e Tatiana Anjos, assessora esportiva. O incentivo à saúde é tão forte no restaurante, localizado na 413 Norte, que quem for de bicicleta ao estabelecimento ganha um desconto de 10% no valor final da conta.
Para os que achavam que a restrição alimentar causava mais danos – especialmente à saúde – do que benefícios, os adeptos sustentam que os estudos em relação às dietas vegana e vegetariana respondem positivamente, inclusive para crianças e gestantes. Apesar disso, é importante um acompanhamento, como em qualquer outra alimentação. “O cuidado não é maior, porque as deficiências são as mesmas que se pode ter em vegetarianos e não vegetarianos”, explica o médico nutrólogo Eric Slywitch.
Na vida da professora de inglês Patrícia Gurgel, a decisão de se tornar vegana veio bem mais cedo do que na maioria das pessoas que aderem a esse estilo de vida. “Aos 12 anos, eu tive a visão de que o que eu estava comendo era aquilo que eu gostava”, lembra, mencionando a paixão por animais. “Foi por uma questão de associação mesmo, e eu fui parando de comer carne aos pouquinhos.” Hoje, como ativista, ela pontua que a prática envolve mais do que apenas uma dieta e acompanha de atitudes, como não consumir produtos que envolvam animais, desde cosméticos até opções de entretenimento, como circos e filmes.
Frequentadora do roteiro gastronômico vegano da cidade e consumidora ativa, a professora reconhece, porém, os custos mais altos que a opção pela dieta demanda. A comparação vem do básico: um leite de arroz ou de soja aparece bem mais caro nas prateleiras de supermercado do que um com os componentes tradicionais. Mas ela não se intimida. “É um público exigente, que valoriza mais esse tipo de produto e não se importa muito com a questão do preço”, conclui Luci de Oliveira, da Palazzo.
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