Seu filho está na escola certa?
Especialistas ouvidos por Encontro Brasília - incluindo acadêmicos, pais, professores e os próprios alunos - indicam o que influencia na hora de escolher a instituição que melhor se dedica ao ensino de crianças e adolescentes
Depois dos primeiros passos, eles ganham cada vez mais independência. Querem tentar descobrir o mundo por conta própria. O que se ensina em casa não é mais suficiente. Eles precisam conhecer o que há do outro lado das paredes que o protegeram desde que nasceram. Nesse momento, a família se depara com uma grande decisão: que escola será a responsável por iniciar os filhos na educação acadêmica? E quando a prole está mais crescidinha, até mesmo próxima de terminar o ciclo de estudos básicos, ainda há certa inquietação. Será que eles estão na escola certa?
O primeiro ponto é definir o que seria essa “escola certa”. Para o psicólogo especialista em educação e reitor da Universidade Católica de Brasília, Afonso Galvão, seria uma instituição de alta qualidade, que forneça formação cognitiva e moral de alto padrão. “A escola tem de se constituir num espaço para desenvolvimento afetivo e emocional adequados”, afirma. Precisa oferecer boa educação instrumental, como português e matemática, disciplinas pré-requisito para a aprendizagem de várias outras.
Mesmo depois de matriculado, é simples descobrir se o aluno está no ambiente correto. O ponto fundamental é a felicidade. Se a criança ou o adolescente está feliz, realizado, isso é um ótimo sinal. Essa é a opinião do professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Cristiano Alberto Muniz. “A felicidade não é em ele estar na zona de conforto, e sim porque se sente plena e permanentemente desafiado. A cada dia ele descobre que pode mais, que é maior que o mundo.”
Há 50 anos na capital, dois segmentos da Rede de Colégios Marista – Maristinha e Maristinha Pio XII – abrangem, juntos, da educação infantil ao ensino fundamental. A assistente pedagógica do ensino infantil da instituição, Sara Azevedo, explica que o ensino do colégio prega que a criança bem desenvolvida no lado pessoal também se dará bem no lado acadêmico. “No processo de ensino-aprendizagem, trabalhamos com quatro pilares: aprender a lidar com a frustração, organização, resolução de problemas e autonomia.”
Sara destaca que na educação infantil, a escola se preocupa com a alimentação, mediada por nutricionistas, e realiza saídas a campo para uma chácara própria, onde os pequenos aprendem mais sobre a natureza, conteúdos diversificados e trabalham a interação com os colegas.
Já para o ensino fundamental, uma das coordenadoras pedagógicas, Cláudia Honda, ressalta que o trabalho é desenvolvido com novas linguagens, especialmente por meio de laboratórios. “São informações que serão necessárias ao aluno no futuro”, comenta. Também faz parte do currículo desses jovens uma disciplina chamada Desenvolvimento Acadêmico Pessoal e Social (Daps), que consiste em debates entre os alunos, com a coordenação dos professores, para a construção de ações sobre temas como bullying e drogas.
Parte da mesma rede de ensino, o Maristão atende o ensino médio. O coordenador psicopedagógico, Eduardo Guerra Carvalhedo, explica que a instituição usa uma corrente pedagógica própria, hoje difundida em 77 países, criada por Marcelino Champagnat (educador francês que fundou o Instituto dos Irmãos Maristas, em 1817). A missão, “tornar Jesus Cristo conhecido e amado”, aproxima-se da linha sociocognitivo-interacionista. “Prezamos pela qualidade do ensino. Temos estudantes com alto nível intelectual, sem abrir mão da solidariedade.” Isso se mostra por projetos como o Ato de Estudar, em que alunos voluntários ajudam colegas por meio monitorias e estudos cooperativos.
Ainda de acordo com Eduardo, a grade horária é tradicional, com possibilidade de desenvolvimento de potencialidade por meio de programas como o Maristão Faz Ciência, grupos de estudo com finalidade de produção científica, e o Observatório de Conflitos Internacionais. Além disso, há o Núcleo de Atividades Complementares, que é opcional e pago à parte, e consiste no ensino de competências artísticas e esportivas.
Uma das mais novas opções em educação está no início da Asa Sul. O Colégio Seriös, de acordo com a diretora, Andréa Bichara, visa trabalhar teoria e prática por meio de espaços próprios para isso. Isso serve para que o aluno vivencie o conhecimento aprendido em aula em ambientes como os de gastronomia, moda, marcenaria e circo. “São lugares prazerosos, que agregam conhecimentos que serão úteis na vida adulta do aluno.”
Quem resolveu experimentar o método desde o início foi o casal Fernando Milani, engenheiro, e Meline Milani, analista de sistemas. Eles são os pais de Giovanna, de 6 anos, e Enzo, de 2. Eles matricularam os filhos em 2012, por indicação de uma amiga, que conhecia a equipe da escola.
Visitaram, gostaram do que viram, e optaram por confiar na instituição. “Para escolher a escola observamos se os professores eram capacitados e quais eram as atividades extras”, conta Meline.
Também na Asa Sul está uma escola tradicional, o Centro Educacional Sigma, com cinco unidades. A diretora pedagógica, Marli Pinheiro, explica que lá o professor é o planejador. “É ele quem conduz o processo de ensino-aprendizagem.” Também é ressaltado que esses profissionais têm baixa rotatividade. “É um grupo que se mantém, mas que está sempre se atualizando. A maioria tem dedicação exclusiva.”
A intenção da instituição é que seu horário de funcionamento seja aproveitado ao máximo, inclusive, por seus alunos. Para isso, há plantões de estudo, aulas à tarde para aprofundamento de conteúdo e salas de estudo individuais ou em grupo. Marli ainda destaca que, para acompanhar o ritmo da escola com tranquilidade, é preciso estudar quatro horas por dia, de domingo a domingo. Também no contraturno existem projetos como o Anjos do Sigma, em que alunos voluntários auxiliam creches, abrigos, asilos, etc. Para participar, passam por uma seleção, e a entrada nesses programas acaba sendo uma recompensa pela dedicação nas aulas. “Queremos um dia a dia acadêmico que envolva o aluno”, conclui a diretora.
Giovanna Baptista está na 2ª série do ensino médio da escola e fez a opção de estudar no Sigma. No 8º ano decidiu por conta própria trocar de colégio. Já conhecia o ensino do local porque um de seus irmãos havia estudado lá. Hoje, participa do grêmio estudantil de outras atividades, mas o que ela mais gosta é da estrutura da escola. “A arquitetura é linda. Não é só concreto, tem um gramado enorme.” Mãe da estudante, a professora Regina Célia Batista conta que, na família, quando se trata de escolher a escola dos filhos, sempre houve diálogo. “Giovanna queria um nível mais alto de cobrança”, conta. A família é aberta à decisão dos filhos. “Confiamos neles, não nas escolas.”
A instituição é bem diferente do que temos em geral no país. Isso porque o aluno, ao sair, pode ter diplomas brasileiro, americano e internacional de ensino. E não se trata de uma escola bilíngue, a língua oficial da escola é o inglês. Português, sociologia, filosofia e estudos sociais são as únicas disciplinas ministradas na nossa língua pátria. “Ao contrário do que alguns pensam, seguimos as regras do MEC. Nossos alunos saem, sim, preparados para os vestibulares da cidade”, afirma a diretora de estudos brasileiros, Denise Turati. “Além disso, os professores passam por capacitação toda semana”, diz o diretor da escola, Barry Dequanne.
O colégio tem como pilares a parte acadêmica, artística, realização de atividades, serviços à comunidade e liderança. Esses aspectos são desenvolvidos, além das aulas curriculares, em atividades à tarde. Esportes coletivos e, para acompanhá-los, há um grupo de animadoras de torcida ou cheerleaders, e clube de matemática que oferece monitoria para quem tem dificuldade nessa área são alguns exemplos disso. Há também um projeto idealizado pelos alunos chamado Global Issues Network, em que um grupo vai a escolas públicas depois das aulas ensinar artes. Inclusive, todos da escola adquirem proficiência em alguma forma de expressão artística.
Tudo isso agrada a estudante do 9º ano Georgia Collins. Ela é americana e ainda não fala português, mas garante que o ensino da escola é melhor. “Nos Estados Unidos, pelo menos nas escolas públicas, você só vai para a aula. Na educação daqui, podemos participar de projetos fora das classes”, conta.
No ensino fundamental, a parte afetiva das crianças é bastante trabalhada. Há também o ensino sobre política por meio de eleições de representante de turma com uso, inclusive, urnas eletrônicas. Questões ambientais são outros assuntos trazidos às pautas de debates dos alunos. No Ensino Médio, dando continuidade ao período anterior, os adolescentes lidam, por meio de projetos da escola, com empreendedorismo e alternativas para o futuro, com intercâmbios em universidades estrangeiras. “O aluno não é mero depositório de informação. Eles são levados a pensar por conta própria”, afirma a coordenadora da educação básica, Léa Aparecida Rech de Nardi.
A relação com a família é algo que a escola preza bastante. Sempre há atividades que envolvem os pais no cotidiano acadêmico. Na educação infantil, os avós são convidados a comparecer para contar histórias. Alguns levam instrumentos musicais para ajudar nesse momento, outros fazem piqueniques. Mesmo os adolescentes fazem homenagens no Dia dos Pais e no das Mães. “Os parentes sempre choram nas apresentações”, comenta Léa. “Aqui os pais têm acesso garantido. Eles podem vir, entrar e passear na escola.”
No Instituto Natural de Desenvolvimento Infantil (INDI), localizado no Lago Norte, a arquitetura das salas de aula já revela a diferença no método de ensino. Fundado pela diretora da instituição, Júlia Passarinho, foi baseado no método de Desenvolvimento Natural, criado pela professora Maria de Lourdes Pereira da Silva. “Como construí um modo de ensinar, rompi com o padrão de ensino tradicional, sempre sofri calúnias por isso. Acham que aqui as crianças podem fazer o que querem”, lamenta. “Mas aqui que elas aprendem a ler já no pré, de forma muito natural.”
Além das disciplinas de ensino, os pais podem montar uma grade de atividades para os filhos e decidem quantos dias por semana eles ficam na escola depois das aulas, pagando uma taxa à parte. Com isso, os alunos podem participar de projetos complementares compostos por esportes, culinária, artesanato, ensino de línguas, entre outros.
Para que sua forma de ensino seja propagada, Júlia conta que os professores que trabalham na escola precisam ser preparados para isso. “Eles necessitam aceitar mudanças, ser realmente dinâmicos, cabeça-aberta. Não podem ser aqueles que ainda acreditam ser onipotentes”, diz Júlia Passarinho.
Glossário
Entenda as diferenças entre as linhas pedagógicas
Cognitivo-interacionista: o professor é quem promove o ensino, por meio de raciocínio lógico dedutivo, não partindo apenas do conhecimento prévio dos alunos.
Pedagogia da interação expressiva: o aluno é incentivado a ter sua autonomia para que se torne o construtor do seu processo de aprendizagem. Emoções, memória, raciocínio, experimentos
e ludicidade estão sempre associados ao conhecimento adquirido.
Socioconstrutivista: a escola procura criar espaços que estimulem o gosto pelo saber, a cidadania – dentro de um contexto em que os professores atuem como mediadores para que a aprendizagem ocorra.
Sociointeracionista: os professores, e os adultos em geral, são mediadores do conhecimento. Facilitam para que o aluno capture, assimile aquilo que ele precisa aprender.
Tradicional: nela se priorizam a disciplina, a metodologia e o cumprimento de regras. Há grande preocupação com o conteúdo ministrado.
O que Deve pesar na decisão
Dois especialistas em educação dão dicas para auxiliar na escolha da instituição que ajudará no desenvolvimento humano e intelectual do seu filho
- Não se deve escolher a escola pela internet, telefone ou fôlder.
É preciso conhecer a escola para captar elementos importantes do ambiente da aprendizagem.
- Ao passar pelo corredor, os alunos estão apenas copiando, tem muita coisa escrita? Atenção. O ideal é que eles estejam em interação, discutindo e manipulando o material. Onde tem criança tem de haver som e movimento.
- Na sala de aula tem de haver não só o quadro, são necessários recursos de multimídia, livros, gibis, jornais e jogos, diferentes materiais pedagógicos. Verifique também quais são os instrumentos de avaliação.
- Quais os espaços de interação escola-professor-família?
É um encontro só para pegar o boletim ou ela oferece outros espaços de interação, como palestras, oficinas?
- Leve o seu filho que vai ser aluno daquela escola. Ouça o que ele tem a dizer sobre as percepções que teve. Até cerca de 14 anos, os pais escolhem a escola. A partir daí, é importante que a família dialogue com o jovem sobre o que ele quer.
- É de grande importância indagar sobre o projeto pedagógico, se há estratégias para ensino da leitura: bibliotecas, horários de descanso, locais de lazer. Se é uma escola que prepara o aluno para a vida ou para o mercado.
- Família e escola atuam juntas na formação de valores, portanto, é necessário verificar se a linha
é adequada aos valores da família, como religião, forma de relações interpessoais, consumo financeiro, relação com a natureza, tipo de alimentação, atividades físicas, etc.
- Dê preferência a colégios mais próximos de casa, pois o desgaste no trânsito provoca estresse
e perda de energia.
- Observe como os brinquedos e as instalações são higienizados. Verifique a segurança dos mesmos, inclusive se há coisas pequenas que as crianças podem engolir e se tem tomadas ao alcance delas.
- Verifique a formação dos professores; todos devem ter nível superior e acesso a educação continuada. Eles precisam se atualizar constantemente