Gigantes nos apartamentos
Casos e causos de quem convive com cães de grande porte em espaços bem menos generosos do que os quintais ou áreas externas de casas
A média é de, pelo menos, 8 kg, 9 kg ou 10 kg para cada metro quadrado. Somados a algumas bolas de pelo voando pela sala, mais um ou outro vizinho inimigo, e, principalmente, uma relação de amizade e companheirismo tamanho família. Conviver dentro de um apartamento com um cachorro de grande porte é uma experiência que, garantem os donos, contabiliza mais aventuras que desventuras. Alguns arriscam afirmar que os grandalhões se adaptam à vida entre quatro paredes tão bem quanto os pequeninos agitados. Será?
Sete anos atrás, a fonoaudióloga Ana Paula Aguiar decidiu comprar um novo cachorro para a filha, Carolina, pouco depois de o poodle da família morrer. Estava empenhada em encontrar uma pequena mascoste, mas foi só pôr os olhos em uma cadelinha de 3 meses da raça akita americana que veio o desejo de cuidar daquela bola de pelo branco.
Hoje, depois de tantos anos de convivência, Ana Paula é categórica ao afirmar que faria tudo de novo e que, se um dia tiver outro cachorro, vai repetir a experiência com cães de grande porte. “Nosso apartamento tem 90 m². A Blanka é enorme e pesa 40 kg. Em pé, é mais alta do que eu. Mas ela ocupa muito menos espaço que um cachorro pequeno. É mais calma, menos carente, mais parceira e silenciosa. É outro tipo de convivência”, diz.
Blanka nunca faz as necessidades fisiológicas dentro do apartamento. Espera, com paciência, a hora sagrada do passeio: 30 minutos de caminhada, quatro vezes por dia. No currículo de Blanka, além do asseio, consta o cargo de fiel cão de guarda, atenta à chegada de estranhos; e de despertador, sempre ligada nos horários da família, avisando à filha que a mãe está prestes a chegar, antes mesmo de ela estacionar o carro. Por fim, a experiência de babá, adquirida nos anos que, eventualmente, vigiava a filha Carol, quando Ana Paula precisava sair para resolver alguma coisa rápida e não tinha com quem deixar a então pré-adolescente.
No tempo livre, Blanka gosta de assistir à televisão, deitada na frente do ventilador. “Ela é muito tranquila, companheira. Se eu estou doente, não sai do meu lado. Se estou cansada, fica na dela. Entende nosso ritmo de vida e vive a vidinha dela numa boa, sem drama”, derrete-se Ana Paula.
Imagine um lobo bem grande. Imagine esse lobo morando em um apartamento de mais ou menos 55 m². Agora, imagine esse mesmo lobo morando em um apartamento de 55 m² com mais quatro pessoas. Pois então. Chicão é um pastor-alemão preto enorme. Já chegou a pesar 64 kg e, em pé, ultrapassa a altura de todos os moradores de um apartamento no Cruzeiro Novo. O tamanho, porém, é só fachada. Chicão é um doce. Derrete-se por toda e qualquer visita e, devido à idade já avançada – ele tem 11 anos – , gosta de passar o dia deitado no piso gelado, tranquilo, recebendo carinho de quem se dispuser a lhe dar um pouco de atenção. E todos dão.
A dona do apartamento, Guiomar Santos, conta que quando o filho, o técnico de informática Edgar Santos, falou que queria um cachorro, não imaginava que seria um tão grande. Mas Guiomar encantou-se por aquele pastor-alemão preto, que parecia uma bolinha de pelos. Até hoje, vive uma relação de amor e carinho com o companheiro. “Houve uma vez boatos de que os vizinhos queriam tirar o Chicão do prédio. Mas nunca nos pediram nada de fato. Ele é muito quieto, tranquilo. A gente nem lembra que ele é tão grande. A diferença é que ele é mais silencioso e calmo que os cachorros menores”, conta Guiomar. “Ah, sim, e ele ronca também. A noite inteira. Alto. Quando ele tem pesadelo, então, acorda todo mundo”, diverte-se Edgar.
Mesmo com um ou outro vizinho medroso, o cachorro coleciona fãs pela quadra, onde costumava fazer longos passeios com o dono. Atualmente, com algumas hérnias nas costas e com as limitações comuns à idade avançada, Chicão gosta de sossego. Desce as escadas do prédio com muita dificuldade e só sai para passeios curtos e sessões de fisioterapia. Certa vez, em uma crise de dor, empacou na escada (o prédio não tem elevador) e Edgar o carregou nos braços por três andares.
Os problemas na coluna também forçaram a família a adaptar o apartamento às novas necessidades do cão. Na sala de estar, por exemplo, foi necessário colocar uma passadeira emborrachada para que Chicão não escorregasse na hora de sentar ou deitar. “Nem me importei se ia ficar feio. Aqui é ele quem manda”, diz, cheia de carinho, dona Guiomar.