Os sem-gravata
Por que tantos homens estão abolindo o acessório que já foi símbolo de status e glamour? Conforto e elegância ditam novas regras, até mesmo para os altos executivos
Os homens desfizeram o nó da gravata. Símbolo de status e glamour máximos, um dos acessórios mais sofisticados da moda masculina saiu do colarinho até mesmo de grandes executivos. Nem no mundo dos negócios, tão apegado à aparência, exibe-se a gravata como até pouco tempo, quando ela era peça obrigatória.
De camisa – social ou não – e blazer acinturado, os homens têm transformado todos os dias da semana em casual day. Mais do que uma nova tendência da moda, avaliam os especialistas, há uma mudança de comportamento em curso. O desafio lançado é manter a pose com mais conforto e despojamento, sem perder a elegância.
Alheios às cartilhas de vestimenta das empresas, funcionários passaram a ousar, imitando, muitas vezes, os próprios chefes. Não se trata do fim da gravata, acredita-se. Mas a quebra de paradigmas é tão clara que há quem preveja, em breve, a não obrigatoriedade do acessório em lugares como tribunais superiores e nos plenários do Congresso Nacional.
Na ânsia de passar uma imagem moderna e elegante, observa Juliana, muitos homens acabam se atrapalhando com o uso da gravata. “Se for para usá-la mal, aí é que é melhor aposentá-la mesmo”, comenta a consultora, citando o exemplo dos que, ainda durante o expediente, resolvem afrouxar o nó e abrir o primeiro botão da camisa.
Juliana acrescenta que modelos “cafonas” de gravata ou, no mínimo, destoantes do conjunto podem, diferentemente do que deseja o homem, transparecer, inclusive, deselegância. “Um homem sem gravata não perde a formalidade nem a credibilidade. Pelo contrário. Bem vestido, ele pode manter um visual ainda mais moderno e arrojado.”
O estudante de direito Felipe Lambertucci, estagiário em um escritório da capital federal, viu os superiores de “pescoço livre” e gostou da ideia. Agora, anda sempre com uma gravata de emergência na mochila, mas tem optado por desfilar sem aquilo que, antes, era considerado “instrumento de trabalho”. “A gravata, para mim, era uma como uma caneta, fazia parte do cotidiano do advogado.”
Felipe nunca aprendeu a dar nó em gravata. As que ocupam espaço no guarda-roupa foram compradas prontas para usar ou o pai o ajudou a deixá-las no ponto. “Sem gravata, é mais conforto e menos incômodo”, resume o futuro advogado. A namorada dele, Bruna Neres, também estudante de direito, aprova o novo visual. “O mais elegante mesmo é o paletó”, diz.
Mesmo que os sem-gravata se proliferem – como é de se esperar –, Hira não crê que um acessório tão antigo e marcante para o universo masculino desapareça. Em bailes e em outras ocasiões especiais, a gravata lá estará, prevê ele. “Com uma diferença: as pessoas parecem ter percebido que o caráter e a identidade de alguém não se revelam pelo uso ou não da gravata”, pondera.
Na loja gerenciada por Hamilton de Almeida, a venda de gravatas caiu 20% no último ano, mesmo com o sucesso das mais finas, chamadas slim. Ele ainda atende os clientes de gravata e não faz planos de mudar o hábito, embora reconheça que ela tenha perdido força. “É a parte principal do conjunto. Ficar sem ela é como estar sem as partes íntimas”, compara. “Já eu sou o neoclássico da loja”, brinca, sem gravata, o filho e funcionário Hamilton Júnior.