Compartilhando Brasília
Cenário de apaixonados por fotografia, a capital inspira amadores e profissionais, que adoram postar os cliques da cidade em redes sociais, como o Instagram e o Facebook. Alguns cartões-postais, como Congresso e catedral, são os preferidos
A cena da Catedral se repete no Congresso, na Torre de TV e em qualquer outro ponto turístico de Brasília. É gente freando o carro no meio do trânsito para não perder o pôr do sol na Esplanada; grupos de desconhecidos fotografando o mesmo ipê amarelo carregado de flores, ou, em um dia de lua gigantesca, fila de carros parados no acostamento, com seus respectivos motoristas do lado de fora, clicando o céu.
A hashtag #brasília, por exemplo, tem quase meio milhão de fotos compartilhadas (somando a opção com e sem o acento no i), contra quase 2 milhões de fotos associadas à hashtag #riodejaneiro. Considerando que o fluxo de turistas das praias cariocas é incomparavelmente maior, Brasília é considerada, pelos usuários da rede, uma das queridinhas tupiniquins na hora de ser clicada, compartilhada e curtida.
Para Tatiana, o Lago Paranoá, a Catedral e o Museu Nacional são os lugares cuja visita e, consequentemente, as fotografias, são mais incríveis. “Não sei fazer foto artística. Mas aqui é tudo tão amplo e exagerado que as fotos ficam assim. Você joga um filtro e parece uma fotógrafa profissional”, diz. Entre os queridinhos dos instagramers estão o Congresso, a Catedral, a Torre de TV e a Ponte JK.
O engenheiro brasiliense Fred Schueler (@fredschueler) é um fotógrafo amador com talento de profissional. Tem uma câmera de lentes cambiáveis e leva a sério o hobby fotografia. E é no Instagram que estão muitas das fotos mais sensacionais que ele já fez da cidade. Desde os clichês candangos – como as construções que rondam a região do Eixo Monumental – às belas fotos das entrequadras, jardins escondidos de Burle Marx e cenas da vida social de Brasília, como shows e manifestações.
“Lembro que, quando estava indo para a Marcha do Vinagre, aquela manifestação enorme que tivemos este ano em frente ao Congresso, lembrei de pegar minha câmera e fazer umas imagens. Rendeu boas fotos, que tiveram repercussão”, lembra. Fred, porém, não usa o Instagram como único meio de compartilhamento de fotos. Boa parte dos ensaios que já fez da cidade foi divulgada no Facebook.
Certa vez, pegando uma carona com o pai, Dulce o fez frear o carro na subida da Esplanada dos Ministérios para garantir um belo clique do Congresso. “Meu pai foi reduzindo a velocidade para eu fazer a foto com o celular e quase batemos o carro. Foi perigoso, mas a foto ficou bem bonita”, diverte-se. Incidentes do tipo são comuns na área: carros quase em câmera lenta repletos de turistas fotografando pelas janelas. Basta o dia oferecer um bom cenário natural, como um pôr do sol avermelhado, que o trânsito da região fica mais lento.
O casal mineiro Carolina Araújo (@mariacarolina1988) e Túlio César (@tuliocfp) acredita que essa exata mistura de céu, concreto e natureza seja o grande trunfo estético de Brasília. Sobre a torre do Panteão da Pátria, na praça dos Três Poderes, eles admiravam a vista e faziam suas fotos. “Acabamos de chegar de Juiz de Fora. É minha primeira vez em Brasília e é muito diferente do que eu imaginava. Tem muito mais verde e o céu é mesmo diferente. Não sei explicar por quê. Parece maior. As fotos que fizemos aqui parecem de profissionais”, diz a turista.
Ainda no Panteão da Pátria, a veterinária Maria Alice se autofotografava com certa dificuldade. “A incidência de luz aqui é muito forte. O céu é muito amplo e as construções, muito brancas. Tudo reflete luz, fica difícil tirar uma foto de si mesmo quando se está turistando sozinho”, diz. Em alguns minutos e com ensinamentos de turistas solidários, ela estreou sua conta no Instagram com uma foto, emoldurada pelo Congresso. “Pronto, agora estou na moda”, brinca. Apesar de encantada com as belezas da cidade, Maria Alice, natural de Natal, se disse surpresa com algumas características não tão positivas da cidade. Monumentos malcuidados, sinalização confusa. “Isso também devia ser divulgado no Instagram”, sugere.
Dois olhares sobre a capital
Por Dulce Angelina e Fred Schueler