Eu posso!
O esporte é o caminho mais fácil para pessoas com deficiência se integrarem à sociedade e se recuperarem de lesões. Em Brasília, há opções para todos os gostos: do futebol ao stand-up paddle adaptado
O time Bsb Quad Rugby, em que joga Leandro, é o único da modalidade em Brasília e o atual campeão sul-americano. Apesar de, hoje, ser atleta de alto rendimento, ele diz que os benefícios do esporte vão muito além da parte física. “Rimos, brincamos. Com o tempo, viramos amigos. Os treinos são intensos, mas é muito divertido encontrar o pessoal para jogar”, diz. No começo de 2013, a equipe se propôs a treinar muito para ganhar o campeonato brasileiro. Contudo, duas semanas antes da competição, o time sofreu um revés. “O técnico abandonou tudo, faltando 15 dias para o campeonato”, lembra o atual treinador, Paulo Higino. A equipe sentiu a perda e ficou em terceiro na competição. Dois meses depois, a redenção: o Bsb Quad Rugby sagrou-se campeão sul-americano, em competição realizada na Argentina, com vitória sobre o time que o havia derrotado na semifinal do brasileiro.
A prática de esporte para pessoas com deficiência é relativamente recente. Os primeiros registros de uma competição de uma modalidade voltada para atletas deficientes são de 1948. Naquele ano, veteranos da Segunda Guerra Mundial com lesão na medula espinhal decidiram se reunir para fazer um torneio esportivo. Poucos anos depois, os holandeses juntaram-se aos alemães e, em 1960, foi realizada a primeira paralimpíada. Em 1972, o campeonato já envolvia mais de 40 países. Hoje, são mais de 150 nações, entre elas, o Brasil, que é uma das potências. Levou o sétimo lugar em Londres, em 2012, com 21 medalhas de ouro.
O caso de Leandro Amorim é um exemplo entre tantos outros. Leonardo Alencar, estudante, lesionou a cervical, também ao pular de ponta em uma piscina. Como sempre gostou de esporte, a tetraplegia não o impediu de continuar se exercitando. Pratica natação, veleja e, há um mês, descobriu outra aventura: surfar no Lago Paranoá. André Garcez, do projeto Raia Norte, convidou-o para subir na prancha. A princípio, Leonardo ficou reticente. “Ele me chamou algumas vezes e fui enrolando, até que decidi me arriscar”, conta. Experimentou em um fim de semana e, no outro, já queria repetir. “Dá uma adrenalina muito boa”, descreve.
Em Brasília, o Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe) é a principal referência na área. Lá, existe treinamento de mais de dez modalidades, de amador a profissional. Carlos Santos é um dos atletas do centro. Já foi da Seleção Brasileira de Basquete e hoje é o 29º do mundo no tênis adaptado. Ele largou o basquete em 2003 para se dedicar ao tênis e concorrer a uma vaga nas Paralimpíadas de Atenas, em 2004. A aposta deu certo. Tornou-se um dos melhores do planeta, conheceu o mundo participando das principais competições e teve a honra de disputar duas vezes a paralimpíada.
Aos 2 anos, Carlos recebeu o diagnóstico de poliomielite e foi perdendo os movimentos aos poucos. Na adolescência, ainda andava de muletas e praticava esportes sem adaptação. Quando o
Rejane da Silva também é profissional de tênis adaptado. Tinha 27 anos quando conheceu a modalidade. Dois anos depois, largou o emprego de secretária em uma clínica odontológica para se dedicar ao esporte. Hoje, está entre as 50 melhores do mundo. Rejane se arrepende de não ter começado antes. “Se tivesse começado mais nova, poderia estar entre as dez do mundo. Mas não tenho do que reclamar. O tênis só me trouxe coisas boas”, acredita. Já participou de sete campeonatos mundiais e diz ter conhecido lugares que nunca imaginou. “O tênis me proporcionou coisas que nunca passaram pela minha cabeça”, afirma.
Algumas modalidades contam com a ajuda de parceria privada para seguirem em frente ou até de governos estrangeiros. Recentemente, a Embaixada da Austrália doou oito velas adaptadas para a Federação Brasiliense de Vela Adaptada. Bruno Pohl, um dos coordenadores do projeto, afirma que essa é a melhor notícia possível para o esporte. “Agora, teremos estrutura para receber mais alunos”, alegra-se. Técnico judiciário e velejador há mais de 30 anos, Roberto Marques também comemora. “Agora que temos equipamento de primeira, temos de focar para vencer mais campeonatos”, espera.