Para formar um atleta
É na escola que, além de aprender a ler e escrever, a criança passa pela chamada "alfabetização motora". Ali ela pode desenvolver habilidades, descobrir a paixão por algum esporte e, quem sabe, tornar-se um atleta profissional
A competição deixou um legado para a capital. Sete milhões de reais foram investidos na melhoria de complexos esportivos, como o Ginásio Nilson Nelson e o Aquático Cláudio Coutinho, para receber o torneio. A esperança é que o evento estimule outros jovens a começarem no mundo do esporte. Até porque, quando tem estrutura nova, futuros atletas tendem mesmo a se empolgar. Um exemplo é Tyfane Rodrigues. No começo de 2011, ela decidiu participar da seletiva que escolheria os representantes do colégio em que estuda para os Jogos Escolares do Gama e não parou mais. Ela nunca tinha pensado em disputar uma prova de atletismo, mas, como gostava de correr, resolveu arriscar. Tyfane passou na seletiva dos 800 metros livre e, mesmo sem nunca ter treinado a modalidade, bateu o recorde da competição, que existe há mais de 20 anos.
Ademir aposta no potencial da aluna: “Ela tem um talento extraordinário. Nasceu para isso”, exalta. Ele destaca a importância do ambiente escolar, das aulas de educação física e das atividades no turno inverso dos estudos, como local onde o jovem pode conhecer a paixão por algum esporte e, eventualmente, tornar-se profissional naquilo. “Na escola, os meninos se deparam com esportes que não praticam na rua. E muitas vezes eles se identificam com esses exercícios menos tradicionais”, explica.
Por acreditar na importância das competições escolares, como a que revelou Tyfane, o governo federal lançou, no começo deste ano, o programa Atleta na Escola. André Arantes, diretor de Esporte de Base e Alto Rendimento do Ministério do Esporte, explica que um dos objetivos do programa é fortalecer os jogos municipais. “Há 40 anos existem competições estaduais e os Jogos Escolares da Juventude, que é nacional. No entanto, menos de 40% dos municípios realizava campeonatos regionais. Queremos estimular, com auxílio financeiro, as escolas e municípios a fazerem esses torneios mais próximos da comunidade”, explica.
O professor Ronaldo Pacheco sonha com incentivos para além da escola. “Um dos problemas do Brasil é que o esporte como disciplina só vai até o ensino médio. Depois que o aluno se forma, ele não tem mais onde treinar e assim perdemos vários talentos”, critica.
Ele resolveu, então, começar a dar aula de tênis de mesa. E influenciou Luis Eduardo dos Anjos, que jogava handebol, a começar também no esporte. O estudante de 13 anos se encantou pelo tênis de mesa e treina quase todos os dias há três anos. Já foi vice-campeão brasileiro da sua categoria. “Conheci o esporte por causa do Adalberto. Se não fosse ele, nunca teria pensando em pegar numa raquete”, diz.
Matheus de Sousa, de 10 anos, também não conhecia o esporte até ser aluno de Adalberto. “Eu me apaixonei pela modalidade. É muito legal”, diz. O professor acredita que o pupilo pode ir longe. “Tem tudo para, no futuro, ser um dos melhores mesa-tenistas do Brasil”, elogia. Mas, apesar do ritmo intenso de treinamento, os pais de Matheus não aliviam. “Só posso treinar se tiver com todas as notas acima da média”, conta.
se deparam com esportes
que não praticam nas ruas.
Eles se identificam com
exercícios menos
tradicionais", comenta o
técnico Ademir Ferreira
Para o país se tornar uma potência olímpica, não basta seguir investindo nos esportes tradicionais, como futebol, vôlei e basquete. Por isso, o projeto Jogue Tênis na Escola, desenvolvido em parceria pela Confederação Brasileira de Tênis, Federação Brasiliense de Tênis e pelos Correios, pretende iniciar de 2 mil a 3 mil crianças de escolas públicas de Ceilândia no esporte nos próximos meses. Ricardo Morais, um dos coordenadores do projeto, diz que o objetivo é massificar o tênis e desmitificar a pecha de que é um esporte para rico. “Queremos expandir. Se houvesse mais incentivos como este pelo país, poderíamos nos tornar uma potência”, acredita.
Para o próximo ano, antecipa Ricardo, o plano é levar os alunos que se destacarem para treinar no Centro Olímpico mais próximo. E o professor Ítalo Magalhães garante que dali podem surgir alguns talentos. “Tem dois alunos que – no primeiro dia de aula já vi – pegam de um jeito diferente na raquete. Bem treinados, podem ter um belo futuro”, diz. A aula é um sucesso entre os alunos. Débora Aline Melo, de 7 anos, adorou os primeiros treinos dos quais participou. “É muito divertido. Quero jogar todos os dias”, empolga-se.