O ano de promessas vem aí
A campanha eleitoral abrirá, em 2014, a temporada de discursos, nos quais os políticos apresentam suas ideias para resolver os problemas da cidade. A convite de Encontro Brasília, especialistas dizem o que é fundamental discutir
As eleições estão chegando e, com ela, a enxurrada de promessas de políticos em busca de votos. Prometer além do que podem é praxe; cumprir as promessas de campanha já não é tão comum assim. Encontro Brasília ouviu representantes da sociedade civil e especialistas para saber deles quais seriam os pontos essenciais de áreas já consideradas, pelo senso comum, prioritárias: saúde, educação, segurança, trânsito e combate às drogas.
A necessidade de aprofundar tais temas decorre de uma realidade inquestionável: aquela capital segura, com escolas e hospitais públicos tidos como referências de qualidade, sem os engarrafamentos típicos de grandes metrópoles, já não existe mais. Portanto, para que o Distrito Federal não perca mais pontos no quesito qualidade de vida, é importante tomar medidas urgentes.
Angélica Brunacci, vice-presidente da Associação de Pais e Mestres da Escola Parque 304 Norte, tem duas filhas matriculadas no colégio. Ela vive de perto a realidade da escola e acrescenta outro ponto a ser solucionado com urgência: a falta de profissionais. “Precisam contratar mais professores. Existe a estrutura, mas falta pessoal”, queixa-se. Segundo ela, o governo não tem uma política de reposição de mestres. “Se alguém se aposenta ou sai de atestado médico, os alunos ficam sem aula por dias”, conta. Na rede pública, é comum docentes com especialização em determinada disciplina ministrarem aulas de outra. “Professor de matemática dando aula de ciências é o que mais tem”, relata Angélica.
Na visão do psiquiatra Raphael Boechat, o Estado não oferece suporte para o dependende químico que busca ajuda, pois falta vontade de gastar na construção de mais Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs), que deveriam estar presentes em todos os hospitais. “É praticamente impossível o drogado se curar sozinho. A abstinência é muito grande e, no momento em que o Estado tem de se fazer presente e dar a assistência necessária para que ele não tenha uma recaída, ele se ausenta”, explica. Raphael acredita as autoridades estão demorando demais a entender e a encarar o problema das drogas como uma questão de saúde pública.
Não confundir o combate às drogas com o combate à violência é o primeiro passo para que a insegurança não continue a crescer. Manter a polícia próxima do cidadão, fazer com que as corporações estejam mais presentes nas áreas pobres para compreender a realidade daquele local, conhecer os problemas da comunidade são medidas importantes para enfrentar a violência. Essa é a opinião de Max Maciel, um dos coordenadores da Rede Urbana de Ações Socioculturais (Ruas), que faz trabalhos em locais carentes. “A polícia é o Estado, e o Estado só entra na favela quando tem alguma ocorrência policial. Não há uma política de aproximação. O que falam não é mentira: o povo tem mais medo da polícia que do bandido”, lamenta.
Em relação à saúde, o crescimento e o envelhecimento da população são fatores preponderantes para que o sistema público tenha ficado defasado. Apesar do deficit de 400 leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no DF, o professor de medicina da UCB Roberto Bell indica a falta de profissionais como a principal causa dos problemas de saúde pública no DF. “Os recém-formados não querem viver a realidade, trabalhar em Ceilândia ou Santa Maria. A solução que o governo achou para isso foi abrir concursos direcionados para cada região. O que aconteceu? Excedeu o limite de inscritos para o Plano Piloto, mas faltou gente para áreas carentes”, lembra. A preocupação de Marcos Gutemberg, presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmédicos), é a mesma. Para atingir o número ideal de médicos por habitantes, 3 mil profissionais teriam de ser contratados. “Falta gente. O governo faz concurso temporário, aí expiram os contratos e ninguém é contratado”, diz.