Democracia no asfalto
A principal avenida de Brasília consolidou-se como espaço livre para passeios e também para a prática de esportes aos domingos e feriados
Um tocando bateria, outro vendendo imóvel e um terceiro, evangélico, espalhando a mensagem divina. A cena parece improvável. Mas, no Eixão do Lazer, ela acontece. A principal avenida da capital, que vai de uma ponta a outra do Plano Piloto, ganha outra feição aos domingos e feriados, das 6h às 18h. Há 22 anos, os carros em alta velocidade dão passagem a skatistas, corredores, ciclistas, patinadores, vendedores ambulantes, pregadores e a qualquer um que deseje um espaço de livre manifestação ou de, simplesmente, lazer.
Ao longo de duas décadas, o número de frequentadores do Eixão cresceu com a população. Foi justamente o aumento no movimento que motivou, por exemplo, os corretores de imóvel Rogério Ushoa e Maxylei Farias a fixar estande ali. “É um ótimo ponto para venda”, garante Rogério. Seu parceiro acrescenta que é um dos melhores lugares da cidade. “A maioria das pessoas que caminha no Eixão mora no Plano Piloto, logo, tem um bom poder aquisitivo”, acredita.
Presença certa na altura da 115 Norte é a da turma dos Longbrother. A reunião de amigos skatistas começou no Parque da Cidade e, quatro anos atrás, foi transferida para o Eixão. E o que começou como um encontro de colegas ficou sério. Hoje, o grupo monta uma estrutura com vários obstáculos e oferece aulas de skate. O empresário Júnior Vidiri é integrante dos Longbrother e exalta a amizade da turma. “Nós somos muito amigos e o grupo cresce a cada ano”, conta. Ele acredita que, como a via não é movimentada aos domingos, não custaria nada ao governo deixá-la fechada até as 22h. “Não prejudicaria o trânsito e para nós seria uma maravilha”, completa.
Daniele Oliveira é outra que se encantou pelo skate. Ela costumava correr no Eixão e sempre passava pelos skatistas. Nunca teve coragem de andar sobre as quatro rodinhas, até que um amigo a convenceu. “Foi amor à primeira vista e, ao passo que fui evoluindo, fui me apaixonando ainda mais. Agora, nem penso em acordar domingo para correr, só quero saber de skate”, conta.
Os 14 km de extensão da avenida, inaugurada no mesmo ano que Brasília, convidam ao comércio, ao lazer, mas também a cenas inusitadas. No exato local que separa as asas Sul e Norte, no chamado Buraco do Tatu, pode-se ver uma delas, a cada primeira segunda-feira do mês. Um grupo de bateristas se reúne bem ali para fazer um som. Kaká Barros, baterista profissional, queria tocar na rua mesmo, em algum lugar que pudesse promover o instrumento e o seu trabalho. No começo, tentou na parada de ônibus em frente ao Clube do Choro, mas a proximidade com que os coletivos passavam e a falta de espaço o fez mudar de local. “Surgiu a ideia de ir para o Buraco do Tatu e dali não saímos mais. Estamos há três anos e só falhamos três vezes, e foi por causa das reformas na Rodoviária”, conta.