Soberania até debaixo d'água
Mesmo com pouca interatividade, os peixes são animais de estimação que encantam seus donos - e eles não se cansam de enumerar as vantagens de ter o aquarismo entre seus hobbies
Em vez de uma parede ou de um drywall dividindo a sala e a cozinha, peixes-palhaço nadando em meio a poliquetas. Ao fundo, corais repletos de microrganismos e anêmonas em um balé aquático sincronizado. Minúsculos camarões de cores diferentes “levitam”, enquanto o cavalo-marinho mais parece uma estátua. Ter uma fonte para canalizar o estresse do dia a dia ou aproveitar um elemento original e dinâmico de decoração – o aquarismo tem ganhado cada vez mais adeptos em Brasília. No site de relacionamentos Facebook, centenas deles se reúnem, compartilham fotos e trocam ideias. O hobby é alimentado por empresas atualizadas, que investem na importação de peixes e prestam assessoria na montagem e na manutenção de aquários.
Proprietário da Aqua House, o engenheiro Yuri Frota mantém em sua cartela de clientes personalidades como o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet e o empresário Paulo Octavio. Decidiu apostar todas as fichas na decoração e chegou até a participar da Casa Cor. “Como eu já era aquarista, foi fácil. Você pode ter um aquário separando ambientes, pois ele fornece mais leveza do que um gesso, além de ser um quadro vivo e acalmar”, explica.
Yuri Frota compara o hobby do aquarismo a uma “brincadeira de ser Deus”: “Você tem certa responsabilidade por aquele mundo. Cria atmosfera e luz”, afirma. De acordo com ele, o aquário de água salgada, apesar de mais caro, emana mais beleza. O aquarista tem de simular o mar e manter estáveis a salinidade e a temperatura. “O aquário de água salgada tem mais cor, mais movimento e uma fauna mais rica. Você pode colocar ali anêmonas, corais, poliquetas, crustáceos e anelídeos”, explica. “Já o de água doce é mais flexível, aceita parâmetros de mudanças bruscas”, compara.
Adepto do hobby, Erik Guerrieri mantém oito aquários na sala de seu apartamento, na Octogonal. Ele começou a se interessar pelo assunto quando tinha apenas 8 anos. Reproduzia quase todo tipo de peixe. Hoje, dedica-se a 11 tipos de camarões de água doce, incluindo os Black Bee, Golden Bee, Red Rili, Blue Rili e cinco famosos exemplares Pure Red Line (uma linhagem pura) que chegam a custar até R$ 200 cada um. A paixão exige atenção e esforço extras. “Qualquer variação na água, seja na temperatura, seja na acidez, seja na presença de minerais, faz com que os Pure Red Line morram. Qualquer erro pode ser fatal”, garante.
Sócio da loja Fish In a Box, o biólogo Leandro Souza acredita que a principal característica do aquarismo é possibilitar a imitação da natureza. De acordo com ele, quem se aventura pelo hobby pode, depois de um tempo, simular vários biótopos dentro do aquário, incluindo a Amazônia e os Grandes Lagos Africanos. A primeira escolha costuma ser um aquário plug-and-play. Basta colocar a água, as pedras e os peixes. “Os iniciantes procuram peixes resistentes, como o peixe-palhaço, que custa de R$ 60 a R$ 120. Os mais complicados são os da família dos borboletas e o mandarim, que só come microcrustáceos e não aceita ração”, explica. Seu preço chega a R$ 250.
Segundo André Moura, sócio de Leandro, o aquário marinho exige um investimento mais alto e de risco maior. “O aquarista tem de colocar água extremamente pura ou destilada, chamada água de osmose reversa ou deionizada. Vinte litros da água pronta custam R$ 30. Uma vez por mês, será preciso trocar 10% do líquido de um aquário de 100 litros”, diz. Apesar disso, Brasília já é a terceira cidade do Brasil em vendas de aquários marinhos – perde apenas para São Paulo e Curitiba. Os peixes são procedentes de Austrália, Indonésia, Havaí e Mar Vermelho. Quem quiser criar um casal de peixes-palhaço – o “Nemo”, popularizado no cinema – precisará desembolsar entre R$ 2 mil a R$ 2,5 mil. Um pote de ração dura de três a quatro meses e custa apenas R$ 50. Além das bombas de oxigênio, os aquários exigem iluminação para ajudar os animais a regularem o fotoperíodo (a noite e o dia). As plantas e corais também dependem da luz para fazer a fotossíntese e crescer.
Cliente de Yuri Frota, Sarkis tem preferência pelos Nemos, pelos corais coloridos e pelos peixes das espécies Blue Tang e Yellow Tang. “Eu gosto de peixes diferentes. Os corais também são pontos essenciais, por darem vida ao aquário”, diz.