O fim das curtidas
O Facebook perderá a maior parte dos usuários até 2017, segundo estudo de uma universidade americana. Não se pode ter certeza se a tese vai se confirmar, mas é fato que há muita gente, inclusive brasilienses, deixando a rede
Diariamente, uma infinidade de pessoas ao redor do mundo dedicam 600 milhões de horas ao Facebook. O cálculo é simples. A maior rede social da história da internet conta com 1,2 bilhão de usuários ativos. Cada um deles passa, em média, 30 minutos por dia com a página aberta, segundo os principais serviços de monitoramento de tráfego de dados.
Esses números excepcionais, contudo, podem estar próximos de ruir. Em fevereiro, pesquisadores da Universidade de Princeton publicaram um estudo no qual concluíram que o Facebook atingiu o ápice de usuários. Por meio de um modelo epidemiológico, deduziram que, até 2017, 80% das pessoas cadastradas na rede social vão fechar suas contas.
Caso a previsão da instituição esteja correta, os usuários vão se desinteressar pelo site à medida que outras pessoas o deixarem. “Ideias, assim como doenças, espalham-se infectando pessoas antes de morrerem”, escreveram os pesquisadores. Avaliado em US$ 142 bilhões e com 6,7 mil empregados, o Facebook retrucou, afirmando que o mesmo modelo epidemiológico levaria ao fim a Universidade de Princeton.
A diminuição da privacidade a cada nova reforma da plataforma tem afugentado usuários. Mas a principal reclamação de quem abandona a rede é a falta de comunicação com os amigos mais próximos e a relação superficial com desconhecidos. “As pessoas substituíram o contato pessoal pelo contato no Facebook. Eu conhecia uma pessoa, era amiga dela na rede e a encontrei na fila do cinema. Ele curtia minhas fotos, mas quando me viu na rua virou a cara”, conta a cientista política Mariana Zewe.
Aos 25 anos, Mariana trabalha durante o dia e faz pós-graduação. Hoje, não consegue imaginar como passava até duas horas por noite navegando em fotos, postagens e comentários. “Eu perdia muito tempo. Para mim, foi um alívio ter saído, não me faz falta nenhuma. Quem quiser falar comigo, me ligue. O contato ali é muito superficial”, opina. O tempo livre, antes empenhado no computador, agora é usado para ver TV, fazer comida e dar atenção aos gatos de estimação.
O “hábito noturno” dos usuários do Facebook não é segredo. De acordo com a empresa de análise de dados Union Metrics, o horário de pico da rede social ocorre por volta das 22h, principalmente no domingo e na quarta-feira. “Eu já morava sozinho e, às vezes, deixava de sair porque perdia a vontade. Era mais confortável ficar no computador sem fazer nada”, comenta Max Emmanuel, de 17 anos. Ele estuda para o vestibular – quer cursar economia – e abandonou o site há dois anos. Diz não ter dúvidas de que foi a melhor escolha para evitar desperdício de tempo livre.
“No início, o Facebook era muito importante para mim, o maior veículo de comunicação que eu tinha”, recorda o rapaz, que era modelo em Maringá (PR) quando fechou a conta. “Demorei um pouco a perceber que perdia muito tempo naquilo sem ver nada de bom. Não estou exagerando, tudo ali era 0% útil para mim.”
A perda de jovens usuários tem sido comum no Facebook. Dados do centro de pesquisa Pew mostram que 8% das pessoas abaixo de 29 anos fecharam suas contas no site nos últimos dois anos. Nessa faixa etária, cada usuário ativo costuma ter cerca de 300 amigos. A partir dos 65 anos, a média cai para 30 relações.
Com 800 amigos quando cancelou o Facebook, a estagiária de direito Carolina Orbage também superava essa média. “Tanta gente que via minhas fotos e eu nem conhecia bem”, lembra. A conta da universitária, que ficava aberta no computador “entre três e quatro horas por dia”, durou quatro anos. Há sete meses longe da rede, ela jura ter superado a abstinência. “No início, essa privação era bem difícil, porque a maioria dos meus conhecidos conversava por lá. Agora, já consigo ver que foi uma boa decisão”, observa.
Sem vontade de voltar ao Facebook, Carolina aguarda uma nova rede social. Se pudesse, faria um pedido ao idealizador: mais privacidade. A superexposição a fez “tomar aversão” pelo site de Zuckerberg. “Eu percebi que qualquer pessoa que me procurasse poderia ter acesso ao meu perfil, não só à minha foto. Além disso, eu passava o dia inteiro bombardeada por informações que não me levavam a lugar nenhum, já que eu não trabalho em site de fofoca”, critica.
O costume de checar, curtir, publicar e compartilhar foi ocupado por estudo, palestras e estágio. “Nem sei como eu tinha tempo livre para o Facebook. Minha atenção e meu foco aumentaram, sem contar que recuperei o tempo que perdia com minha família e meus amigos”, comemora. Longe da rede, conseguiu evitar o que o psicólogo espanhol José Antonio Luengo chama de “atenção parcial contínua”, quando a mente fica ligada em muitas coisas, mas tem dificuldade em solidificar o que foi visto.
Para Bader, os usuários filtram cada vez mais o que postam na rede social, pois sabem que nela encontram suas ligações familiares, profissionais e afetivas. Isso, segundo ele, desumanizou o site. “Uma grande parte das pessoas está saturada, não consegue mais conviver com o Facebook, mas segue ativa mesmo assim”, avalia. Apesar disso, a empresa não terá de lidar com o fracasso. “O Facebook nunca mais vai ser ‘cool’, mas pode comprar o que é ‘cool’. Fez isso com o Instagram, com o WhatsApp, e vai fazer com o Snapchat”, aponta.
Sentiu-se inspirado?
Saiba como encerrar sua conta
Existem duas opções. A primeira delas é desativar por um tempo indeterminado. Essa escolha significa que a linha do tempo desaparece do Facebook. Outros usuários não poderão procurar por você, apesar de que algumas informações, como mensagens enviadas, continuam visíveis. Não é possível, além disso, apagar fotos postadas por outras pessoas.
A alternativa mais contundente é excluir a conta de forma permanente. Assim, não será possível reativá-la nem recuperar qualquer conteúdo: todos os dados serão perdidos para sempre - é o que promete o Facebook. Antes de jogar tudo para o alto, no entanto, demora pouco tempo copiar as fotos publicadas.