Tem de ser forte!
Barras, flexões e corridas, sob condições adversas e tensão psicológica. Quem já passou pelo temido teste de aptidão física, que chega a reprovar 40% dos candidatos a bombeiros e policiais, ensina como se preparar
Entre cláusulas de regimento interno, macetes de raciocínio lógico e complicadas questões de língua portuguesa, a barra, as flexões abdominais, a corrida e a natação aperecem como desafios vencidos somente à base de muito treino e determinação. E os sustos do cronograma são uma pegadinha fácil para os desavisados. Em ano eleitoral, que espreme os concursos no primeiro semestre, o planejamento para a preparação física adequada deve ser a principal preocupação do candidato, segundo especialistas e profissionais que já superaram a bateria de testes.
Foi o que ocorreu com Alex Oliveira, agente da Polícia Civil, que começou a preparação intensa para o condicionamento físico, focado no teste um mês e meio antes da prova. “A sorte é que treinei jiu-jitsu por muitos anos. Estava parado quando comecei a me preparar para o TAF, mas a memória do corpo ajuda”, diz o faixa-preta. O elemento mais importante para garantir a aprovação, segundo ele, foi o treinamento outdoor em condições climáticas diversas: “Só soube o horário da prova duas semanas antes, então tinha de estar preparado para tudo”. Encarou os 2,4 mil metros da corrida, sob o frio das primeiras horas da manhã, em 10 minutos (dois abaixo do tempo limite).
Quem treinou Alex, incluindo corridas em diferentes horas do dia, foi a personal Juliana Oliveira, que percebeu logo cedo esse nicho de mercado em Brasília. Ela conta que o clima, o solo e o ambiente podem atrapalhar na hora do teste. “É o famoso agora ou nunca. Claro que uma prova de manhã é bem melhor que à tarde por causa do clima seco de Brasília e o fato de o candidato estar bem mais descansado.”
Para se dar bem
1) Prepare-se com antecedência. Resultados físicos não surgem do dia para a noite
2) Procure um profissional de educação física para acompanhamento do programa
3) Alimente-se bem com supervisão de um bom nutricionista
4) Descanse ao menos sete horas por dia para que o corpo possa assimilar toda a preparação
(física e intelectual) realizada no dia
5) Simule as condições no horário da prova, para evitar surpresas como calor ou frio
Toda atenção é pouca
Com o mercado aquecido para as oportunidades, é importante, também, estar atento às picaretagens. “Desconfie de preços muito baratos ao contratar um treinador. Personal é um serviço caro”, diz a presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref), Cristina Calegaro. “A academia deve ter um quadro na entrada com a relação dos professores e dos estagiários ou a identificação dos estagiários na camiseta, e ter na entrada o certificado do Cref.” Em casos de autônomos, o aluno deve pedir a cédula de identidade profissional ou o número do registro no Conselho.
Ao contrário de muitas das matérias teóricas, com vasto conteúdo, as exigências dos testes físicos não caem no ostracismo depois da aprovação. O agente de atividades penitenciárias Ricardo Bandeira conta que as provas recorrentes dos testes de aptidão física (TAFs), já dentro do órgão, são fundamentais e decisivas para escapar do famoso “pede para sair”, popularizado por Wagner Moura no filme Tropa de Elite. “É, de fato, uma avaliação de capacidade e condicionamento para o trabalho, que é bem puxado. Durante o meu curso de formação, 154 pessoas pediram desligamento, por não conseguirem acompanhar o ritmo”, conta.
O estresse de tensões psicológicas, recorrente na rotina policial, também é colocado em xeque no momento do TAF. “Toda etapa é um drama”, resume Fernanda dos Santos Echamede, agente de polícia. Ela praticava esportes e malhava desde os 17 anos, mas prestou concurso depois da chegada de duas crianças. Nunca havia passado próximo a uma barra e precisava provar para o examinador que sustentaria 10 segundos lá no alto: “No começo, eu não conseguia e entrei em desespero”.
Com três meses de preparo e o treino, com um personal, para fortalecer a musculatura das costas, Echamede perdeu 4 Kg, passou no teste e hoje esnoba mais de 30 segundos na barra estática.
Também houve pranto e ranger de dentes para a bombeira Jennifer Guelli: “Quando eu não conseguia os objetivos, durante a preparação, eu até chorava. Mas, na hora da prova, parece que brota uma adrenalina a mais. Eu me lembro de ver, durante a corrida, os outros candidatos desistindo, desolados, indo trocar de roupa mais cedo. Na barra, vários ficaram”.
Outra que sentiu na pele as lições de superação tão peculiares às práticas esportivas foi Lucylia Peixoto Boueres, que deve ser nomeada policial militar este mês. Ela havia tentado, anteriormente, uma vaga no concurso dos bombeiros e foi eliminada no TAF: “Eu tinha me preparado com personal e tudo, mas estava muito nervosa. E o psicológico é tudo”. Para a segunda oportunidade, não perdeu tempo, preparou-se com mais antecedência e fez vários simulados, para testar a tensão das condições da prova.