Caiu no gosto infantil
Sashimi, sushi, temaki, harumaki e outras iguarias japonesas estão ganhando a preferência das crianças. O sabor exótico e o colorido dos pratos é o que atrai a garotada
O peixe é cru, mas eles não estão nem aí. Estão apenas devorando um prato todo colorido e enfeitado. Como são crianças, olhando de longe, não é difícil confundir ou pelo menos imaginar que aquela comida é um grande banquete de doces. Mas não é nada disso. Os pequenos estão mesmo é curtindo, cada vez mais, as iguarias da tradicional comida japonesa.
A menina foi crescendo e cada vez mais alimentando a sua paixão pela culinária japonesa. Hoje, amante do sashimi de salmão, faz a mãe mudar a rotina de casa com base nos preços de peixes que vê em comerciais ou em supermercados. “Quando essa garota vê promoção de salmão na televisão já era, tenho que comprar para eu mesma preparar os sashimis”, conta Izabel.
O interesse cada vez maior de crianças por essa culinária já é evidente em muitos restaurantes do Distrito Federal. Lucas Gomes Ferreira, um dos sócios do Manzoku, em Águas Claras, explica que 40% da sua clientela é formada por famílias e todas elas vão com crianças nos fins de semana. “O aumento de crianças aqui foi gradativo. Hoje, elas vêm sempre, todas fantasiadas, é uma gritaria só. E vêm para comer comida de adultos, algumas comem até os enfeites do prato”, brinca.
Daniel começou a frequentar restaurantes japoneses aos 2 anos e, desde então, nunca parou. De descendência indígena e alemã, o paladar exótico do garoto arrasta a família para comer japonês semanalmente. “Tenho os meus próprios hashis (pauzinhos usados na comida japonesa) e, se pudesse, comia todos os dias”, orgulha-se Daniel.
A falta de um talher convencional também não é um problema para Ryan Mesquita, de apenas 3 anos. Frequentador assíduo de restaurantes japoneses, ele come peixe cru desde que a comida foi liberada pelo pediatra, explica a mãe, Angela Campos. Segundo ela, a primeira vez foi ele mesmo quem pegou dos pratos dos pais, com a mão, e comeu sozinho. “Desde então, ele gostou. É muito raro sairmos para algum restaurante que não seja japonês. Os preferidos dele são os camarões empanados, as lulas recheadas e o hot philadelfia”, afirma.
Já sabendo da grande clientela infantil, os restaurantes oferecem um hashi com uma espécie de grampo na ponta superior ou elástico para facilitar o uso.
Apesar da pouca idade, Gabriel de Almeida Amaral, de 11 anos, é praticamente um gourmet mirim. Sem pensar duas vezes, explica claramente, sem qualquer dificuldade em citar os nomes, a preferência pela comida japonesa. “Os meus preferidos são temaki de salmão skin e camarão, normalmente, mas sushi é a melhor comida, então gosto de todos”, conta. Na turma de amigos, ele sempre tenta converter algum coleguinha mais resistente à cozinha oriental. “Como é que você pode saber que é ruim se nunca comeu? Falar é fácil, experimenta antes”, diz.
A mãe de Gabriel, a servidora pública Bete Almeida, afirma que a alimentação em casa sempre foi variada. Ela acredita que este é o motivo pelo qual Gabriel gosta de todo tipo de comida, mesmo as que têm textura ou gosto incomuns para o paladar da criança, como a japonesa. Bete acrescenta que nem adianta pedir pratos infantis para ele, pois Gabriel gosta mesmo é de experimentar. “Não curto os pratos kids, são todos a mesma coisa”, explica Gabriel.
É BOM E FAZ BEM
Os especialistas garantem que a comida japonesa na alimentação infantil é mais do que saudável, mas os pais precisam ter cuidado com a idade. Lara Garcia, nutricionista materno-infantil, explica que a Sociedade de Pediatria aconselha o consumo do peixe cru apenas a partir dos 18 meses.
Antes disso, o sistema imunológico da criança ainda não está totalmente formado. Os peixes crus, a base da comida japonesa no Brasil, podem causar infecção alimentar, se não tomados os devidos cuidados. Por isso, é melhor esperar um pouco para oferecer a comida aos pequeninos. É importante também que os pais verifiquem sempre se os estabelecimentos têm um certificado sanitário que garanta a procedência do peixe.
Fora a idade mínima e a origem do pescado, as crianças podem deitar e rolar nos sushis e sashimis. Os peixes mais usados (salmão e atum) são fontes de ômega 3 e ácidos graxos, substâncias que não fabricamos em nosso organismo. Além disso, a nori, alga escura usada para envolver os bolinhos de arroz, é rica em proteína, fibras, e contém as vitaminas A, B e C. O gengibre, também usado com frequência na culinária japonesa, tem propriedades anti-inflamatória e antioxidante.
De acordo com Lara, o comportamento alimentar das pessoas é formado até os 3 anos de idade, então quanto mais variado o cardápio, maiores as chances das crianças se interessarem por alimentos diferentes. “Quanto maior for essa exposição, melhor; quanto mais exposição ao exótico, melhor. Mas é necessário sempre observar a questão sanitária e imunológica”, afirma Lara, apesar de ressaltar que não há pesquisa que comprove se as preferências da criança têm relação com o quão cedo aquela comida foi apresentada a ela.
O que existe, segundo Lara, é uma pré-disposição da mãe em relação ao bebê. “O hábito alimentar da mãe durante a gestação pode, sim, interferir nas preferências da criança e do adolescente por causa da bioquímica alimentar produzida durante a gravidez”, explica.