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NAS TELAS | JOSÉ JOÃO RIBEIRO »

Holofotes para nossas atrizes

José João Ribeiro - Colunistas Publicação:19/05/2014 11:27Atualização:19/05/2014 12:29
O cinema francês continua reverenciando sua musa, Catherine Deneuve: a eterna 'Bela da Tarde' no filmaço Ela Vai (Esfera Cultural/Divulgação)
O cinema francês continua reverenciando sua musa, Catherine Deneuve: a eterna "Bela da Tarde" no filmaço Ela Vai
O circuito ainda processa os bons resultados da apoteose confiada à atriz Catherine Deneuve no filmaço Ela Vai (Elle S’en va), de Emmanuelle Bercot. A eterna “Bela da Tarde” deita e rola sempre lindíssima, mesmo no esforço descomunal em abrir mão das vaidades mais elementares, no papel de uma experiente chef, com um temperamento drasticamente “europeu”, visto pela nossa confortável ótica latino-americana. A personagem surta, embarcando numa deliciosa viagem sem rumo pelo interior francês, com o espirituoso neto, com o qual não mantinha nenhum contato. O que impressiona é a natural expertise do cinema francês de propiciar uma boa história talhada para que um de seus maiores ícones brilhe, do começo ao fim da projeção. Uma lição que deveria servir ao cinema nacional, tão devedor de espaço e protagonismo às nossas grandes atrizes.

No seu último trabalho, em Chega de Saudade (2008), de Laís Bodansky, excelente produção nacional, todo passado em um clube de dança de salão, a diva Tônia Carrero rouba a cena. Mesmo determinada em fragmentar (com competência) o seu melhor filme em pequenos dramas, numa espécie de película coral, à la Robert Altman, Laís Bodansky perdeu a chance de nos proporcionar uma overdose de Tônia. Estrela da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, na década de 1950, Tônia Carrero merecia ter recebido muito mais atenção dos nossos cineastas, seja por sua desenvoltura, seja por seu carisma, seja pela simples razão de sua beleza ter sido a mais cinematográfica que já tivemos.

No rastro dos projetos que valorizaram nossos grandes talentos, o maior exemplo de êxito permanece com o golaço do cineasta Walter Salles, no roteiro pensado sob medida para a “unanimidade” Fernanda Montenegro. Central do Brasil, além de desenvolver uma delicada história, genuinamente brasileira, é espaço absoluto para a Fernandona brilhar. Os prêmios e a admiração mundial provam que Dora e o menino Josué (Vinícius de Oliveira), sobretudo pela qualidade, são os personagens mais significativos no imaginário do espectador local. Quem anda pedindo, com urgência, uma proposta tão especial assim é Marília Pêra. Basta acompanhar a cena teatral para saber que Marília, tão engajada em outros momentos (Pixote, a Lei do Mais Fraco), não recebe a devida atenção dos roteiristas. A recente moda fácil das novas chanchadas, produzidas com milionárias parcerias da Globo Filmes, tem levado o cinema brasileiro a desprezar outros potenciais sem qualquer tipo de parâmetros. Vanguarda é a França, que ainda investe, como no caso do corajoso e universal Ela Vai, com sua estrela maior Catherine Deneuve à frente nos créditos.
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