Tempo de colheita
As hortas urbanas são exemplo de bom aproveitamento do espaço ocioso das quadras. De quebra, ainda aproximam os vizinhos e proporcionam maior contato com a natureza
Os integrantes do Coletivo 312 começaram o projeto com o objetivo de aumentar a qualidade de vida da população por meio da agricultura urbana e colocaram a ideia de fazer uma horta em prática em outubro do ano passado. Um dos integrantes do coletivo, Diogo Pires, explica que a produção do local pode ser coletada por quem quiser. Estudante de ciências ambientais da Universidade de Brasília (UnB), o rapaz conta que já se interessava pelo assunto antes da criação do pequeno plantio na quadra. “Eu já plantava na horta do Centro Acadêmico do meu curso”, conta. Hoje, ele ajuda na organização de mutirões e encontros, por meio da página e do grupo no Facebook.
No Guará, havia uma área usada por moradores para depositar restos de construção, sofás e eletrodomésticos velhos. A administração da cidade recolhia os despejos e, no dia seguinte, outros já estavam no lugar. A criação da horta era uma solução para o problema social causado pelo mau uso daquele terreno. Em 2009, começou a ser implantado, em algumas cidades-satélite do DF, um projeto que criava hortas para a população em risco social, como Itapoã e Riacho Fundo II. Mesmo não sendo bem esse o caso, e por insistência da administração da cidade, o projeto também foi implantado no Guará. Hoje, quase seis anos mais tarde, a terra produz folhas, abóbora, frutas e outros vegetais, tudo de forma orgânica. Da adubação da terra ao controle de pragas, tudo é feito sem usar nenhum aditivo químico.
Na quadra 307 Sul, a iniciativa é um pouco diferente. Trata-se de um espiral de ervas comunitário. A ideia faz parte da proposta Superquadra Criativa, que desenvolve o conceito de Felicidade Interna Bruta. Essa proposta é composta por nove dimensões a serem trabalhadas pela comunidade, entre elas, está a ecologia. “Inspirados nessa dimensão, estamos inserindo na quadra algumas atividades relacionadas à permacultura urbana”, explica um dos organizadores do projeto, João Paulo Barbosa. O empreendedor social conta que, para a montagem do local, um técnico auxiliou os moradores participantes, mas o manejo e a colheita do espiral são livres para quem se interessar.
Mônica Carapeças é uma das colaboradoras do local. Filha de agrônomos e permacultora por profissão, trabalha com hortas desde pequena. “Início de cultura sempre se começa pequeno e o espiral de ervas é a primeira coisa com a qual as pessoas em geral têm contato, que é aquele temperinho para usar na cozinha, aquela erva para fazer um chá”, explica. Depois, é que se aprofunda o conhecimento para chegar ao cultivo de uma horta. “Ela exige manejo diário, um cuidado maior e um pouco mais de conhecimento do plantio.”
Para Mônica, um dos grandes benefícios da horta urbana para uma comunidade é a possibilidade de reconexão das pessoas com a natureza. “É importante que Brasília se torne referência de aproveitamento de áreas verdes e desenvolvimento delas de forma produtiva, não só fazendo nelas uma jardinagem porque é bonita, com plantas exóticas. Pode-se ter plantas bonitas, produtivas e que gerem qualidade de vida para a população.”