Antes do edital
Candidatos a cargos públicos muito concorridos não esperam a publicação das regras dos concursos para começar a estudar. Quem segue esse caminho, no entanto, deve traçar as estratégias
Para se preparar para uma prova ainda sem direcionamento exato, é preciso ter em mente que o fator surpresa é importante. Há, no entanto, maneiras de driblar as incertezas e usar de modo eficiente o tempo que precede o edital. Por isso, planos e estratégias muito bem traçados são essenciais. Para o coach de concursos Alessandro Marques, não existe disciplina a ser cobrada que não precise ser estudada sob um determinado foco. “Mesmo português não é uma matéria cobrada em todas as provas de maneira uniforme”, explica. Por essa razão, uma das principais dicas de professores é unânime: o estabelecimento de metas a partir da escolha de uma área específica. Ou seja, o candidato pode não optar por uma prova de um único órgão, mas a decisão de seguir por uma linha que tenha o mesmo tipo de cobrança e, em geral, as mesmas matérias tornará o trabalho de preparação mais eficiente.
Assim, sugere-se a opção por uma área (jurídica, administrativa, legislativa, policial), um cargo (auditor, analista, fiscal, técnico) ou um campo de atuação (área específica da sua formação, área técnica geral). Cada escolha exigirá uma preparação e um pacote de conhecimentos específicos. Estabelecer esse foco auxilia muito no resultado do candidato.
Outra tática é conhecer muito bem provas anteriores. Apesar de não haver regra para bancas e órgãos aplicarem provas semelhantes, é comum que concursos se pareçam com os anteriores. “É possível, com base em dados do passado, definir o que será cobrado no futuro”, ressalta o coach Márcio Micheli.
Foi o que aconteceu no processo de preparação do delegado Renato Lourenço. Formado em direito em São Paulo, começou a estudar em 2002. Ele passou para agente da Polícia Federal em 2004. Na mesma época, passou para agente da Polícia Civil do Distrito Federal e se mudou para Brasília em 2006. Uma vez em contato com a experiência de ser policial, decidiu se tornar delegado e começou a preparação para o concurso. “Antes eu não tinha muito foco e fiz diversos concursos. Mas um concurseiro não pode ser um míssil desgovernado”, conta. Com o direcionamento e uma rotina rígida de estudos, conseguiu passar no concurso de delegado em 2010 e tomou posse no cargo em 2012.
Segundo Renato, o melhor para o aluno que está na expectativa é se basear no edital anterior. Se for a mesma banca, é possível ter noção de como virá a prova. Ele também sugere manter-se informado sobre outras publicações que tratam do concurso, além do edital. Informes sobre a banca contratada, regulamentações sobre disciplinas e fases do concurso podem sair antes do detalhado edital. No caso da Polícia Civil, há a fase de prova de esforço físico, que muitos candidatos esquecem ou desconhecem e acabam desclassificados mesmo tendo sucesso nas etapas objetiva e discursiva.
Outra possibilidade é examinar bem os prazos de concursos antigos para tentar estimar o lançamento do próximo. Ter uma noção ou pelo menos uma data limite para definir parâmetros será grande aliado do planejamento de estudos. Alessandro Marques aconselha a pesquisa sobre prazos de validade e intervalo entre as últimas provas.
Márcio Micheli lembra que, para passar em concurso, são essenciais disciplina e dedicação de tempo. Manter-se focado mesmo com a ansiedade criada pela espera da prova é um dos maiores desafios. Foi o que fez o brasiliense Rafael Martin Vieira. Ele havia escolhido estudar para concursos de carreiras administrativas e, no período em que se dedicava para esse propósito, apareceram editais com muitas vagas na área bancária, um edital com remuneração atrativa na área policial e mesmo outro de operador metroviário. Sua opção, no entanto, foi a de continuar focado e seguir as orientações que recebera.
A pressão sobre Rafael não era pequena. Casado, pai de cinco filhos, ele resolveu sair do emprego na iniciativa privada e se dedicar exclusivamente à preparação para concursos. A partir da estratégia traçada, estipulou o prazo de um ano para passar no concurso. “Meu sonho era assistir à Copa do Mundo como servidor público”, diz. Depois de 10 meses de dedicação, passou para os cargos de agente administrativo da Polícia Federal, concorrendo com 66 mil pessoas, e técnico administrativo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que contou com 13 mil candidatos. Optou pela carreira na Polícia Federal. “Com turnos de sete horas seguidas, terei tempo para me dedicar à família e a outros projetos”, conta.