Comércio em expansão
Com poucos espaços disponíveis para novos empreendimentos na região central, Brasília tem alta nos preços de salas comerciais. Especialistas apostam em regiões alternativas
Para exemplificar com o ramo dos restaurantes, aportaram por aqui nos últimos meses referências gastronômicas de outros estados, como o Rubaiyat, o Le Vin, o Antiquarius, o Barbacoa, o L’entrecôte de Paris, além de franquias que estão presentes em vários shoppings da cidade.
“O mercado anda bastante aquecido e costumo brincar que não vendo restaurante, eu troco de dono”, afirma André Gil Fonseca Filho, corretor que mantém um site especializado em vender esse tipo de ponto comercial no DF.
É necessário ainda verificar o estado de conservação do local, principalmente quando se trata de um imóvel já construído. As instalações internas merecem total atenção, pois vão influenciar nos custos de reforma. Ainda mais se tratando de restaurantes que requerem mais carga de eletricidade, para os equipamentos, exaustão, boas tubulações para água e esgoto, etc.
Ele lembra que, por causa da Lei Seca, os frequentadores de bares estão mais “bairristas” e preferem sair para locais próximos de casa ou do trabalho. Isso explica, por exemplo, por que a Asa Sul continua sendo a área preferida dos grandes bares e restaurantes, apesar da saturação das vagas de estacionamento. A Asa Norte é mais identificada com a galera mais jovem, frequentadores dos bistrôs, barzinhos e cafeterias próximas de casa e das universidades.
Depois delas, a cidade que mais cresce em número de estabelecimentos é Águas Claras, onde quatro de cada dez moradores são servidores públicos e cuja média salarial, de acordo com a Pesquisa Distrital por Amostras de Domicílios, é de R$ 2.375 por mês. A grande demanda elevou o preço médio do aluguel de uma loja naquela cidade, o maior do DF, R$ 61 o metro quadrado, contra R$ 47 do Plano Piloto ou R$ 26 de Taguatinga – dados de pesquisa do Sindicato da Habitação (Secovi) referente a abril de 2014.
Para o vice-presidente do Secovi-DF, Ovídio Maia, o mercado está aquecido porque há poucos lançamentos comerciais em Brasília e um grande número de investidores interessados em comprar. “A facilidade na negociação e a não preocupação em ter de realizar grandes obras no imóvel para alugar, pois cada inquilino é que se adequa ao seu tipo de atividade, atraem os investidores”, afirma ele.
E essa tendência deve continuar, segundo ele, já que há poucos espaços disponíveis para novos empreendimentos na região central. Com exceção de dois novos grandes centros de salas e lojas comerciais, um no início da L2 Norte e outro no final da L2 Sul, e um megaempreendimento no Setor de Indústria, não há muitas unidades novas que já não tenham sido comercializadas.
“Infelizmente, não teremos grandes lançamentos, não porque não haja demanda de mercado, mas pela lentidão na aprovação de projetos pelo poder público. Isso aponta para uma escassez nos próximos anos, e valerá a máxima da oferta e da procura, com os preços subindo”, diz.
Tanto para investir quanto para empreender, ele recomenda que se procure a assessoria de um profissional qualificado, um corretor de imóveis que possa auxiliá-lo de acordo com suas expectativas. A taxa de retorno em relação ao investimento é geralmente superior a 0,5% e uma das vantagens do imóvel comercial é que, se no momento da venda ele estiver locado, aumenta a liquidez.
No DF, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) oferece consultorias financeiras, de processos, de marketing e de design. O empreendedor pode agendar o pré-atendimento para saber o que o Sebrae pode oferecer ou solicitar uma visita dos agentes de orientação empresarial (AOE) ou com os agentes locais de inovação (ALI). E essa assessoria especializada vale tanto para aqueles que estão iniciando quanto aos que percebem que seu negócio precisa mudar para se adaptar ao novo mercado.
Com uma papelaria instalada há 21 anos em imóvel próprio, em localização privilegiada na Asa Norte, Maria de Fátima Barros radicalizou após um planejamento estratégico guiado pelo Sebrae: alugou um terreno de 750 metros na Ceilândia e para lá transferiu seu investimento no final do ano passado, ampliando a papelaria e o mix de produtos oferecidos, como produtos para o lar e presentes. Localizada na Via Leste Sul, sua loja está a menos de 500 metros da estação do metrô e próxima de várias escolas e de empreendimentos comerciais de sucesso, como a Beer House, a maior cervejaria da cidade. “O que sentia é que o perfil do meu cliente estava mudando. O Plano Piloto tem população mais velha, com menos filhos, menos gastos escolares”, conta ela, que lembra que 17% dos recursos do cartão escolar do GDF foram usados de Ceilândia.
Fátima acredita que o novo endereço trouxe o desafio de atender à diversidade do consumidor da região. “E posso no meu caso dizer que foi uma mudança de paradigmas, sair da zona de conforto em que estava e investir no potencial inegável dessa cidade”, salienta. Moradora do Lago Sul, ela comemora o fato de fazer o fluxo contrário do trânsito e de muitas vezes poder ir de metrô para o trabalho.