Um gigante da economia
São 600 mil metros quadrados e 11 pavilhões. É na Ceasa que os produtores negociam frutas, verduras, flores e muitas outras mercadorias. O lugar, que também agrada a consumidores exigentes, passa por uma série de obras
A empresa de economia mista e parte do complexo administrativo do governo do Distrito Federal, conhecida dos consumidores em geral aos sábados, não é somente uma espécie de grande feira. Ela exerce funções importantes, como a redução de custos de comercialização de produtos hortifrutigranjeiros no atacado e a garantia de informações de mercado confiáveis. A Ceasa também tem um instrumento próprio de medida para demonstrar o movimento dos preços de atacado praticados no DF: é o Índice Ceasa do Distrito Federal (ICDF).
A parte conhecida da maioria das pessoas é o pavilhão B8, ou Mercado Livre do Produtor. O local, também chamado de Pedra, funciona às segundas e quintas, em regime de atacado, e aos sábados, no varejo. Ao todo, são 480 produtores que comercializam cerca de 300 produtos cadastrados. Os compradores desses itens não são apenas do Distrito Federal. Além de Goiás e Minas Gerais, Piauí, Tocantins e Bahia são assíduos consumidores do que é produzido aqui.
Nas segundas e quintas, quase 8 mil pessoas transitam pela Central. Aos sábados, esse número pode chegar a 10 mil. Na Pedra, cada produtor recebe uma letra – um espaço demarcado no chão. Esse é uma espécie de showroom, onde colocam amostras daquilo que têm a oferecer no dia, e lá acontecem as negociações. A relação comercial é livre, sem interferência dos funcionários da Ceasa. Além dos produtores, existem comerciantes em regime de permissão de uso dos espaços físicos dentro e fora da Pedra. Ao todo, são 280 empresas. Esses contratos têm validade de 15 anos, renováveis por mais 15.
Hoje, há cinco obras em andamento: recuperação do pavilhão B8 e das calçadas, ampliação das coberturas dos pavilhões para carga e descarga de mercadorias, ampliação dos estacionamentos rotativos, reforma da caixa-d’água e instalação dos sistemas de segurança.
Até abril, foram comercializados no local quase 28 mil toneladas de produtos, que chegam à Pedra por meio dos produtores natos, aqueles que produzem e transportam a sua colheita, podendo ser patronal ou familiar. Há ainda o coletor, que não possui propriedade própria, e o atravessador, que intermedia a relação entre o produtor e o consumidor. José Lima Dutra é um produtor que usava os serviços de um atravessador. No momento, vende mandioca e quiabo, mas isso varia de acordo com a época de colheita de cada item. Vendendo diretamente ao comprador, o produtor consegue até R$ 8 mil por mês. Isso porque comercializa no local há apenas cinco meses.
Quem está há muito tempo nessa vida é Fábio Luiz Falqueto. Desde os 12 anos, ele trabalha na Ceasa com o pai, vendendo a produção da fazenda Rochedinho, localizada no Núcleo Rural Tabatinga. Hoje, passados 20 anos, tomou para si a responsabilidade dos negócios de família. Ao passar por essas duas décadas de trabalho, Fábio consegue notar algumas diferenças no ambiente. Antes, de acordo com o rapaz, os espaços não eram tão concorridos e tão grandes. “Hoje está tudo mais organizado, mas não tem mais mão de obra”, comenta.
Este é o local que recebe, pré-processa e distribui alimentos para creches, asilos, casas de recuperação e outras entidades que atendem indivíduos em situação de vulnerabilidade. Os mantimentos são conseguidos por meio de programas sociais vinculados ao governo, como o Desperdício Zero. Apreensões realizadas por órgãos públicos, além das conseguidas pelos próprios funcionários da Ceasa, e doações oriundas de produtores que comercializam no local são outro modo de abastecimento do banco. Apenas em 2013, foram 155 entidades cadastradas.
Na Ceasa, 70% dos produtores vêm de propriedades localizadas no DF. Os outros 30% vêm do Entorno. Ao todo, são cerca de 400. Um deles é o Gaúcho da Pimenta. Sua produção divide-se entre Abadiânia, Alexânia e as proximidades de Padre Bernardo. Com nome de batismo Ruy Rosa Filho, o sulista veio para o Planalto Central, segundo ele, “para ver o homem que diz que cura, mas que não cura nada”. Aqui, conheceu a mulher e resolveu mudar-se de estado. Há cinco anos na Central, vende pimentas que, dependendo da época do ano, chegam a 28 tipos diferentes. “Aqui eu vendo em conserva, na caixa, no quilo e até só uma, se você quiser.”
Assim como o dia começa cedo na Ceasa, ele termina cedo. Às 11h, a maioria dos produtores agrícolas já se retirou. Os outros estão embalando a produção que não foi vendida. Os vegetais ainda nas caixas estão “feios”, como dizem os vendedores. Um tapete já se formou com as cascas, folhas e restos de alimento que caíram no chão. O movimento fica fraco até nas lojas que pouco têm a ver com a feira. Há pouca entrada e saída na lojinha de embalagens e na importadora que vende de queijos e vinhos a chocolate. Nesse horário, os carregadores andam mais devagar. O que resta a fazer é comer um pastel. Uma das poucas opções abertas depois das 11h30.