Quem pega a BR-040 para curtir as férias ou um feriado prolongado tem a oportunidade de conhecer algumas das maravilhas mineiras sem desviar muito o trajeto. Às margens da rodovia federal que liga Brasília ao Rio de Janeiro, está uma das maiores concentrações de cavernas do país. Batizada de Rota das Grutas de Peter Lund, inclui cerca de 50 cavernas e 170 sítios arqueológicos. Muitos com toda a infraestrutura para visitação.
Gruta de Maquiné, em Cordisburgo (MG):
considerada o berço da paleontologia brasileira
Para quem parte do Distrito Federal, o roteiro começa em Cordisburgo (MG). Terra do escritor Guimarães Rosa (1908-1967), também é a cidade da gruta de Maquiné. Considerada o berço da paleontologia brasileira, foi usada pelo homem pré-histórico como abrigo. Existem ali alguns vestígios de sua passagem, com destaque para as pinturas rupestres. A gruta se destaca pela dimensão dos salões e pela grandiosidade de seus espeleotemas.
A caverna de 650 metros de extensão é composta por sete salões. No local, há o Museu de Maquiné, que guarda réplicas de fósseis e ossadas de animais. Por um túnel, o visitante tem acesso a modernos painéis, vídeos e instalações interativas. A museografia foi montada de forma a conduzir o visitante, desde a porta de entrada, com fitas de LED.
Gruta Rei do Mato, em Sete Lagoas: com 998 metros de extensão, com pinturas rupestres de 6 mil anos
Já no centro de Cordisburgo, há o Museu Casa Guimarães Rosa, que funciona no casarão onde o escritor morou até os 9 anos. A residência é o centro de referência da vida e da obra do autor. Em uma visita guiada por Cordisburgo e seu entorno, também é possível conhecer a capela do Patriarca São José, a igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, a Estação Ferroviária e o Zoológico de Pedra.
Depois de Cordisburgo, a próxima parada é a gruta Rei do Mato, em Sete Lagoas, a 600 km de Brasília. A gruta, que fica à margem direita da BR-040, no sentido Rio, tem 998 metros de extensão, dos quais 220 metros estão abertos à visitação. Tem quatro salões com pinturas rupestres de aproximadamente 6 mil anos. As formações calcárias da caverna são raras no mundo. Lá, além das pinturas, foram encontradas ferramentas indígenas petrificadas.
Museu de Ciências Naturais da PUC Minas: registros também dos homens das cavernas
A parada em Sete Lagoas proporciona ainda experiências rurais. No Complexo Turístico Engenho, também à beira da BR-040, pode ser feita uma visita à fazenda, com opcionais para cavalgada ou caminhada por trilhas. Os cavalos são manga-larga marchador, equipados com selas de modelo australiano, e os guias são experientes. Em seguida, o visitante participa da oficina de fabricação de queijos e linguiça e do pesque e solte, nos lagos da Fazenda Engenho.
Mas, para chegar às principais atrações do roteiro, é preciso deixar a BR-040 e rumar para Lagoa Santa. Com 232,7 km², a região de Lagoa Santa abriga formações calcárias, grutas e abrigos, com jazidas de ossadas de animais extintos, além de restos de esqueletos humanos de cerca 12 mil anos. Lendas contam que a água da lagoa central era santa e tinha propriedades curativas, o que atraiu muitos visitantes. Suas águas chegaram a ser exportadas para Portugal.
A atração mais famosa da cidade é a gruta da Lapinha. Localizada no Parque Estadual do Sumidouro, ela tem 40 metros de profundidade e 511 metros de extensão. Sua formação data de 600 milhões de anos. O interior da caverna é formado por ornamentações em formas variadas esculpidas pelo tempo. A maioria dos salões tem iluminação em LED, que valoriza as formações minerais predominantes: estalagmites (formadas no solo) e estalactites (formadas no teto).
A porta de entrada para a gruta é o Museu Peter Lund, em homenagem ao naturalista dinamarquês Peter Lund (1801-1880). Considerado o pai da paleontologia no Brasil, ele descobriu e explorou as cavernas da região. Situado no Receptivo Turístico da Lapinha, guarda exposição arqueológica do acervo de Peter Lund, trazido do Museu de História Natural da Dinamarca. Ainda em Lagoa Santa, está o túmulo de Peter Lund e o Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire, com referências de políticas de proteção do patrimônio arqueológico e informações sobre a pré-história local.
Gruta da Lapinha, no Parque Estadual do Sumidouro: sua formação data de 600 milhões de anos
A gruta Rei do Mato guarda ainda um tesouro arqueológico inexplorado. Trata-se de um fóssil humano, provavelmente com 11 mil anos. Ele está enterrado a dois metros da superfície. Em importância arqueológica, o fóssil de Sete Lagoas é comparável a Luzia, o crânio de 11,5 mil anos, o mais antigo das Américas, encontrado em 1975. O crânio é um achado da missão arqueológica franco-brasileira chefiada pela francesa Annette Laming-Emperaire (1917-1977). Estava a 60 km de Sete Lagoas, em uma gruta de Lagoa Santa, nos arredores de Belo Horizonte. O crânio levantou dúvidas sobre a Teoria de Clóvis, pois pertence a uma mulher com características polinésias e negroides, indicando que deve ter havido uma forma de povoamento vinda do Pacífico Sul ou da África.
Cordisburgo é também terra natal de um
grande escritor:
aproveite para visitar o
Museu Casa Guimarães Rosa
Perto do aeroporto de Confins, a Lapa Vermelha, onde os arqueólogos encontraram Luzia há quase 35 anos, ficou famosa mundialmente pelos trabalhos de Peter Lund, que descobriu, entre 1835 e 1845, milhares de fósseis de animais extintos, além de 31 crânios humanos em estado fóssil. “O fóssil de Sete Lagoas deve ter de 10 mil a 11 mil anos, a mesma idade de Luzia ou desses crânios encontrados por Lund”, explica Cástor Cartelle, professor e curador de paleontologia do Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
Cartelle fez parte do grupo de cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que descobriu o fóssil humano em Sete Lagoas no início da década de 1990. A equipe era chefiada pelo arqueólogo André Prous, que 20 anos antes havia participado da descoberta de Luzia. “Na Grutinha (a menos de 50 metros da entrada da gruta Rei do Mato) de Sete Lagoas identificamos um sepultamento. Mas nunca tivemos oportunidade de escavá-lo, por falta de recursos financeiros e de tempo”, conta Cartelle.
A visita à lagoa do Sumidouro é imperdível. Passando pela Trilha do Sumidouro, o percurso começa na Casa Fernão Dias, que foi ponto de passagem do bandeirante e de sua tropa, e segue para o mirante, de onde é possível vislumbrar toda a extensão da lagoa. No trajeto de volta, passa-se pelo paredão com pinturas rupestres de extrema importância arqueológica e histórica. O retorno é feito pela orla da lagoa, até o ponto de partida.