Achados de supermercados
No lugar de prateleiras somente com os itens da lista de compras do mês, grandes lojas investem em adegas nas quais podem ser encontrados ótimos vinhos
Passear pelos supermercados de Brasília pode ser uma agradável surpresa aos amantes de vinho. Alguns estão equipados com adegas completas, que não perdem em nada para as casas especializadas na venda da bebida. Ambientes climatizados, com estrutura de guarda correta e funcionários que entendem dos produtos que estão vendendo são uma tendência de mercado. E para quem torce o nariz e ainda duvida da qualidade que esses locais estão atingindo, o diretor presidente e coordenador do curso de profissionais da Associação Brasileira de Sommelier (ABS) em Brasília, Antônio Duarte, afirma sem titubear: os supermercados locais têm, sim, bons rótulos à venda.
Um desses locais que percebeu a mudança do mercado e já se preparou para acompanhar as inclinações do setor foi o supermercado Dona de Casa, nas unidades localizadas em Águas Claras e no Guará. Elas contam com adegas climatizadas em seus subsolos. O investimento na área começou em 2011, quando foi feita uma reforma na primeira loja. “Analisando o mercado, tendências e carências aqui em Brasília, resolvemos aprimorar e desenvolver essa categoria. Fizemos um estudo bem detalhado e até hoje somos muito criteriosos na seleção de nossos rótulos”, conta o dono, Marcelo Guignhone.
Andando entre as prateleiras do local, que conta com cerca de mil rótulos, é possível encontrar a variação de preço entre R$ 10 e quase R$ 2 mil. Entre as surpresas que o lugar reserva, a sommelier responsável pelo local ressalta o vinho Barca Velha e o champanhe Bollinger La Grande Année. Outro investimento realizado pela direção do supermercado, de acordo com Marcelo, é o treinamento pelo qual toda a equipe passa antes de atuar na área. “Apesar de muito cliente ser esclarecido em vinhos, ainda existem os que querem aprender e admiram a bebida, mas não a conhecem bem e precisam de ajuda, por exemplo, na harmonização com prato”, conta.
O empresário Sérgio Luz, dono do supermercado Base Atacadista, conta que viu a oportunidade de ingressar nesse novo ramo de negócio com a inauguração da unidade localizada em Vicente Pires. Iniciaram o projeto com uma equipe já experiente, composta por um sommelier principal e uma segunda sommelier de cerveja, que há mais de 15 anos trabalha com vinhos.
Foi criada, então, uma adega climatizada em março deste ano, composta por 1,3 mil rótulos de vinhos, com preços que variam de R$ 6 a R$ 21 mil. Agregada a ela, há uma sala para eventos, degustações, treinamentos e cursos. Outro investimento foi em um terminal de informações, uma espécie de totem que mostra ao consumidor a ficha técnica do vinho e sugestões de harmonização (com possibilidade de imprimir receitas de pratos) pelo seu código de barras – inédita no Distrito Federal. O sommelier principal da casa, Tiago Pereira, é quem faz a seleção das bebidas. “Fiz um estudo, importador por importador, e foquei em vinhos encontrados em cartas de restaurante, em empório. Esse é um diferencial nosso”, explica. “Temos bebidas de importadoras que não atendem atacadistas nem mercados.” Outro investimento da adega está na venda de meia-garrafa.
Um deles, que hoje é o sommelier responsável pela área de vinhos em todas as unidades Pão de Açúcar localizados em Brasília, é Edvan Lopes. Ele passou por vários treinamentos, desde que se prontificou a trabalhar na área. “Lidar com vinho exige sacrifícios”, conta. Edvan já fez curso intensivo em São Paulo, conheceu vinícolas, fez curso na ABS. Sua função é de assistência às lojas, além de participar do processo decisório para a seleção de rótulos a serem vendidos. Como diferencial dos vinhos do estabelecimento, ele ressalta a marca própria, Club de Sommelier, que tem mais de 70 rótulos de 11 países, e só são encontrados em lojas da rede. Na mesma linha, o Walmart e o Sam’s Club também têm apostado em pessoal especializado e ambientes especiais para a venda de vinhos.
Os vinhos chilenos são os preferidos dos consumidores do local, por seu preço e intensa divulgação. Mas há, ainda, os vinhos raros. De alguns, são produzidos apenas 1.200 garrafas no mundo e somente 300 chegam ao Brasil. “A nossa demanda é alta, mas tentamos acompanhar nossos clientes em todas as ocasiões para darmos dicas certas”, explica Olinaldo. “É esse atendimento personalizado que fideliza o cliente”, conclui.