Ensinando a ajudar
Escolas estimulam os alunos a serem voluntários e mostram que a doação de tempo, e não só de dinheiro, também é uma importante lição de solidariedade
O Centro Educacional Leonardo da Vinci estimula seus alunos por meio de parceria com a organização não governamental Aconchego, no projeto Irmão Mais Velho. A ideia é levar os alunos para o convívio de crianças em situação de risco, que vivem em abrigos. Na unidade de Taguatinga, os 80 alunos voluntários são divididos em quatro grupos e cada um deles visita, quinzenalmente, determinado lugar. Participam do programa alunos do 8º ano do ensino fundamental a da 3ª série do ensino médio.
O estudante Daniel Bizzo Brandt diz que sua participação o fez encontrar outra realidade, com a qual geralmente não lida. “Vemos a nossa importância na vida deles. Podemos fazer diferença. Passamos a enxergar o mundo de outra forma.” Natan Brandão completa o pensamento dos amigos sobre aprendizados para o futuro: “Essas crianças têm tão pouco e, quando chegamos lá, estão sempre com um sorriso no rosto e nós, que temos tudo, às vezes ficamos reclamando.”
Um programa antigo de solidariedade em Brasília é o do Colégio Presbiteriano Mackenzie. Chamado Mackenzie Voluntário, envolve as ações sociais internas da escola e está na sua 11ª edição. A cada ano, os projetos mudam, mas a coordenação sempre tenta atrelar uma ação social a uma pedagógica. Quando discutiram a questão do câncer, por exemplo, tiveram a ideia para a campanha Peruca do Amor, de doação de cabelo. Assim, os projetos são pensados desde a educação infantil até o ensino médio. Alguns permanecem muitos anos, outros vão surgindo com novas necessidades. “E nisso vamos inventando para não ficar só no conhecimento, para que os meninos possam dividir aquilo que têm”, explica a professora de ensino religioso Illa Maria Guimarães.
Dependendo do projeto que a escola realiza, os alunos participam da entrega do que arrecadaram por meio das doações.
Em algumas situações, não há como ter a presença estudantil, como a vez em que doaram 800 kits de higiene e brinquedos para crianças do Haiti. Mas, sempre que podem, vivenciam.
Uma iniciativa nova veio do Colégio Marista na Asa Sul. A Oficina de Ações e Projetos Solidários, chamada pelos alunos de Oficina de Solidariedade, começou no ano passado como laboratório. Neste ano tornou-se efetiva. Na escola, o projeto é tratado como parte da Instituição Marista. “Temos um perfil de estudante que precisa ser formado em um viés pesquisador, solidário e comunicativo. A Oficina de Solidariedade surgiu nesse sentido”, conta o professor de história e responsável pelo projeto, Reinaldo Córdova.
Os alunos se reúnem na oficina uma vez por semana, mas em dois grupos diferentes, em horário contrário ao das aulas. Normalmente, Reinaldo apresenta uma pauta, discute o tema, o local para onde irão e que tipo de ações serão realizadas lá. Depois os alunos fazem pesquisas e se preparam para a visita. Quando chegam ao lugar, descobrem as demandas de quem está lá. “Às vezes é conversar, às vezes é sentir-se querido.”
Os alunos da 3ª série do ensino médio, turma J, estão em peso no projeto. Larissa Teixeira, por exemplo, o conheceu pelo canal interno de TV, interessou-se e levou as amigas de turma. Uma das visitas que mais marcou o grupo foi a ida ao asilo. “É uma realidade totalmente diferente. Ninguém aqui tem os avós num asilo, e lá deu para ver que eles estão bem, são bem cuidados, mas que ninguém está muito feliz.”
No Colégio Salesiano Dom Bosco, a solidariedade é ensinada em sala de aula. Os alunos do 7º ano há sete anos participam do projeto Desenvolvendo um Trabalho Beneficente. A campanha visa arrecadar alimentos, materiais de limpeza e brinquedos. Isso de acordo com a necessidade da instituição carente que será ajudada, sempre escolhida pela assistente social da escola. O trabalho é desenvolvido pela professora de língua portuguesa Norma Neide, em parceria com a coordenação do colégio. “A finalidade é nobre: tornar os alunos capazes de realizar atos de solidariedade”, conta.
Sem ter um programa especial de voluntariado, o Centro Educacional Católica de Brasília estimula a solidariedade e o voluntariado ao longo de todo o ano por meio de ações sociais interligadas às atividades do calendário escolar. A coordenadora de Área e Pastoral, Érika Arrais Kirchner, explica que em todos os eventos há uma campanha de solidariedade atrelada. “Eles estão habituados, estão sendo educados com esse pensamento solidário. Faz parte do cotidiano deles, não é uma ação isolada.” Um exemplo é a doação de livros a instituições carentes. Há três frentes de solidariedade na escola, que geralmente puxam as ações sociais: os eventos, o grupo jovem Vida Católica e Catequese e as aulas de ensino religioso e ética.
Em 2013, os alunos foram a um orfanato para entregar brinquedos. Por meio de um grupo no Whatsapp eles compartilharam as experiências vividas. E mesmo sendo uma escola católica, Érika conta que os alunos de outras religiões também se envolvem bastante nas ações.
Thiago Vidal, da 3ª série do ensino médio, conta que a ação que mais o marcou foi a visita ao lar dos velhinhos. “Eles falam de jeito de diferente. Quando vamos visitar crianças, elas falam de futuro. Já os idosos, falam mais das experiências que devemos ter durante a vida.” Já para Pamela Hansen, também da 3ª série, destaca ações com crianças: “É muito gratificante. Podemos estar no pior dia da nossa vida, mas só de ver os sorrisos de felicidade delas, mudamos.”