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Nas telas | José João Ribeiro »

Corleone II: a inversão do melhor

José João Ribeiro - Colunistas Publicação:30/09/2014 09:00Atualização:30/09/2014 09:40

Excelência: depois de quatro décadas do seu lançamento, O Poderoso Chefão II ainda impressiona  (Divulgação)
Excelência: depois de quatro décadas do seu lançamento, O Poderoso Chefão II ainda impressiona
Perto de completar 40 anos do lançamento, a segunda parte da saga da família Corleone experimentou, na época, uma inédita sensação de ter superado o projeto inicial de Francis Ford Coppola de ilustrar a romântica e nostálgica máfia ítalo-americana dos anos 1940 e 1950. Não havia precedentes consistentes de que uma continuação pudesse ser melhor que o primeiro filme. Com o sucesso e a repercussão, muito além das melhores expectativas, dois anos depois, a Paramount apostou alto e deu carta branca, para que Francis fizesse de O Poderoso Chefão II (1974) um retrato detalhado e rico da ascensão do império de Michael Corleone (Al Pacino) e, ainda, retomar o passado da família na Sicília, seguindo o começo, a formação e a irresistível petulância do jovem Vito (Robert De Niro).


Duas histórias distintas contribuíram em cheio para a excelência frente ao filme original. O novo Don Corleone, o filho Michael (Al Pacino), que havia planejado rumos opostos aos negócios, para não flertar com o submundo do crime, assume o prestigiado posto, com força e práticas mais duras e rigorosas que as do pai, Don Vito Corleone (Marlon Brando, no Chefão, parte um). Único capaz de suceder o irmão assassinado, Sonny (James Caan), Michael amplia a rede de atuações dos Corleones, instigando a ira dos inimigos e, por consequência, sendo alvo de pressão em Washington de políticos aliados a outros interesses e demandas.
Na vida domiciliar, Michael perde as rédeas, afastando-se de seu grande amor, a mulher, Kay (Diane Keaton). Com isso, precisa reforçar a aproximação com a irmã Connie (Talia Shire), para ter quem dê assistência total, na sua ausência, ao núcleo do clã Corleone. O que evidencia a transformação e a crueldade do novo padrinho é a sua relação com o irmão mais velho, Fredo (John Cazale).


Acostumado às bajulações e a uma vida desregrada, Fredo, no início, ignora a nova realidade e a postura altiva e intransigente do irmão caçula. Isso o empurra a um gesto infantil e, praticamente, suicida: trair o novo Don Corleone. Michael não perdoa e não esquece a punhalada de Fredo e, logo após enterrar a Mama Corleone, único obstáculo que lhe impedia, aplica a receita comum da máfia. A drástica sentença, para o destino do irmão, acompanhará Michael até o fim dos seus dias.


Em paralelo, n’O Poderoso Chefão II, Francis Ford Coppola e Mario Puzo, criador do best-seller e roteirista parceiro do diretor, contam a origem de Don Vito Corleone. Nascido Vito Andolini, o menino tem de deixar a Sicília nos braços da mãe, logo após o terrível assassinato de seu pai. No novo país, a pródiga Norte-América, o jovem italiano não desperdiça nenhuma chance, ainda mantendo as tradições e costumes católicos do velho continente. Adota o sobrenome da cidade natal, tornando-se Don Vito Corleone (Robert De Niro), que se arvora em retornar ao solo pátrio, para o acerto definitivo de feridas deixadas abertas. É a grande aparição do novíssimo De Niro, vencedor do Oscar, para o mundo.


Como desfecho da melhor parte da trilogia, a câmera focaliza a expressão introspectiva e triste do solitário Michael Corleone. Ele relembra um aniversário de seu saudoso pai. Na celebração surpresa, muita correria, felicidade e, em especial, um desabafo com o irmão Sonny, em que Michael assume seus planos de rejeitar todo o legado de sua família. Uma curiosidade: uma ponta de Marlon Brando, o eterno Don Vito, estava nos planos de Francis para essa sequência. Porém, nem todo o esforço e a grana da Paramount foram suficientes para convencer o arredio mito hollywoodiano a fazer essa gentileza, principalmente, em benefício próprio, ou seja, para a sua imortal filmografia.

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