O lucrativo mundo das festas infantis
De pequenas festas personalizadas a supereventos que chegam a R$ 100 mil, os aniversários de crianças movimentam um mercado em absoluta ascensão
As cifras não são para qualquer bolso. O valor do aluguel de uma casa de festas varia conforme a quantidade de convidados, mas pode ir até quase R$ 15 mil para 100 pessoas. E, apesar de as casas especializadas aliarem o espaço e brinquedos a um bufê próprio, há ainda os que preferem pedir os doces por fora e investir numa decoração personalizada. Uma boleira já tradicional em Brasília tem como preço de partida para um bolo decorado simples R$ 130, o quilo. O aluguel de uma maquete de dois andares pode sair por R$ 180. A decoração de uma festa grande, dependendo do estilo, começa em R$ 8 mil.
Tudo nesse mercado funciona para tornar aquelas horas memoráveis para o aniversariante. Para isso, antes de começar a festa, as casas especializadas estão prontas, a decoração está toda no lugar e a comida está bem encaminhada. A antecedência serve para evitar contratempos. Lidar com sonhos alheios não é tarefa para amadores. Nos momentos anteriores ao evento, os monitores e garçons se distraem com os brinquedos das crianças, aproveitando a pausa antes da maratona, que começa tão logo o aniversariante ponha os pés na festa. Nesse momento, rápidos como foguetes, todos se posicionam. Acionam os melhores sorrisos, os cumprimentos mais cordiais. O motivo de toda aquela festa, enfim, chegou.
O local é bem amplo, o que permite ter uma área externa equipada com piscina e quadra de esportes. Além disso, um campo de minigolfe está sendo construído. O gerente administrativo da casa, William Borges, afirma que um dos diferenciais da casa é o tamanho e a disposição do espaço. Além disso, a área externa é praticamente do mesmo nível da interna, dando maior segurança aos pais. “Com isso, a mãe tem visão de toda a festa.”
Por ser um mercado existente praticamente em função das crianças, segurança é a palavra de ordem, imprescindível em todas as etapas da produção de uma festa. A empresária Bruna Tomázio, mãe de dois filhos, um de 9 anos e outro de 11 anos, quando planejou seu empreendimento, decidiu colocar no segundo andar da casa de festas apenas atrações para os pais e posicionado de modo que eles possam ver todo o salão inferior. “Não gosto de criança subindo e descendo escada”, justifica.
Bruna decidiu entrar no mercado porque fazia a festa de seus filhos em casas especializadas, mas não ficava satisfeita com o que havia em Brasília. “Achava mais prático do que em casa. Mas comecei a achar que não havia casa de festa do jeito que eu gostaria.” Foi assim que, há sete anos, começou a idealizar um empreendimento do gênero. Há cinco meses, foi inaugurada a Megamundo, no Setor de Clubes Sul.
Quando planejou a casa de festas, Bruna pensou na falta da interação entre adultos e crianças nos eventos. “Os pais nem gostam de ir. Então, pensei em fazer brinquedos para que os adultos pudessem brincar com as crianças.” Inclusive, no local, há uma área, junto à dos pequenos, em que a brincadeira é dos pais. Trata-se de um fliperama com jogos antigos e um console que reproduz o jogo Genius, um clássico dos anos 1980. Bruna conta que precisava de atrações com as quais as crianças da classe A, seu público-alvo, se identificassem. “Elas viajam o mundo inteiro, sabem o que é brinquedo bom. Não adiantava colocar qualquer um.”
Vladimir faz parte do grupo Play Games – no ramo do entretenimento infantil há 20 anos –, que hoje administra as casas. “Passamos por todas as etapas: locação de brinquedos, montagem de parques, brinquedotecas de shoppings, casas de festas e, então, vieram as unidades de jogos em shopping centers.”
O empresário conta que a parte de serviço e de estrutura é idêntica nas três casas de festa, a única coisa que muda são os modelos dos brinquedos. Ao todo, são realizadas, em média, 70 festas por mês. Os salões são locados geralmente na sexta, quando há somente uma festa, e aos sábados e domingos, quando ocorrem as festas tradicionais à tarde e as de café da manhã. Esporadicamente, ainda há eventos durante a semana. “É mais barato, mas não é só esse o atrativo. Às vezes, é porque não temos mais vaga na agenda e o cliente quer fazer conosco”, conta. De acordo com o empresário, um prazo bom para conseguir uma festa nas três casas é de seis meses. “Neste ano, não há mais nenhum fim de semana disponível. Abrimos a agenda de 2015, mas até março ou abril são poucas as datas de fim de semana livres.”
Uma das pessoas que conseguiu uma vaga ainda neste ano foi Leiliane Pereira. A comerciante comemorou a festa de 2 anos do filho Pedro Lucas em setembro. É a primeira vez que recorre aos serviços de uma casa de festa e de decoração. A preparação começou com sete meses de antecedência. “Fui bem organizada”, conta. O tema safári foi escolhido levando em conta as preferências da criança. “Ele tem muita afeição pelos bichos. Escolhi para atrair a atenção dele.” Mas a mãe confessa que ela e o marido estavam bem atarefados para preparar a festa, enquanto Pedro estava tranquilo, sem nem entender o que estava acontecendo, apenas esperando a comemoração.
Já a atleta Leila Barros está acostumada a recorrer a esses serviços de casa de festa e decoração nas comemorações do filho, Lukas. Apenas o aniversário de 2 anos não seguiu o mesmo estilo. O planejamento desse ano foi em cima da hora. “Não íamos fazer porque o ano está corrido. Mas nosso filho é um grande parceiro.” Além disso, ela conta que esse é um momento de reunir a família, que mora fora de Brasília. O tema Carros foi escolhido pelo garoto, que está na fase de gostar de carrinho, avião e bola.
A filha de Anna, que completou 3 anos, escolheu, como tema da festa, Cinderela. A garota foi com a família à Disney e se encantou com a personagem, que era a primeira princesa com que teve contato por meio de filme. Mesmo pequenina, Júlia acompanha a mãe em todas as escolhas da festa. A animação de Anna Paula ao contar sobre os detalhes, das lembrancinhas às opções de roupas que Júlia usará, cria naturalmente uma dúvida sobre quem está mais empolgada com a situação: ela ou a filha.
“Hoje, está mais equilibrado. Quando ela era menor, a mais empolgada era definitivamente eu. Gosto muito de fazer festa”, confessa. Na parte dos doces, bolos e guloseimas, os pais também buscam por fora mais opções nesse segmento para complementar o que já é oferecido pelas casas de festa.
Uma das empresárias do ramo mais procuradas é a boleira Maria de Fátima Ferreira de Morais. “Da parte infantil, trabalhamos com todos os doces. Desde a linha do brigadeiro, que é aquele mais simples, até os mais elaborados, com carinha de bichinhos e as maquetes trabalhadas com o tema da festa.” Há 28 anos nesse ramo, a empresária começou com o aniversário de 1 ano de seu filho. Com tanto tempo no mercado, Maria de Fátima pode confirmar a suspeita já popularizada: o brigadeiro não pode faltar em festa infantil. “A festa pode ser a mais sofisticada, mas sempre tem, nem que seja um pouquinho, dos doces mais simples. Brigadeiro, casadinho e beijinho”, conta.
Mas, é claro, seus clientes sempre pedem também os mais elaborados. A parte mais cara de toda a produção de uma festa infantil é a decoração. E os valores não são fixos. Vão aumentando à medida que os detalhes são acrescentados, e cenários ou ambientes, construídos. Não importa o estilo escolhido, seja provençal, seja totalmente personalizado, seja tradicional.
A empresária conta que a tendência em convites é eles serem úteis, como canecas ou um brinquedo. “Achamos que o convite é o termômetro da festa, ele vai dizer como é que vai ser no dia.” Já o saquinho de doce como lembrancinha transformou-se na mesa de guloseimas. Mas a novidade está nos mimos para os adultos também. “Na maioria das festas, quando é de 1 ano, mais ou menos, muitas amigas da mãe não têm filho ainda, mas foram à festa, levaram presentes. Então, é legal ter um presente adulto que ela use.”
Na busca pelo luxuoso, por vezes os adultos esquecem que as festas são para as crianças. Isso para a empresária Julie Anna de Wander, dona da loja de decoração Festas Criativas, é algo que não pode acontecer. “Não pode faltar o lúdico. Fazer uma festa de criança que não se parece com uma criança é um pecado.” Mesmo porque, para Julie, as cifras gastas em festas infantis não refletem apenas o poder aquisitivo da família. Tem mais relação com o valor que elas dão a esse momento. “Tem pessoas que têm dinheiro, mas fazem uma festa simples. Isso é muito pessoal.”
Há 10 anos, antes mesmo de abrir a loja, Julie já trabalhava com decoração de festas informalmente, como um hobby, nem sabia cobrar pelo serviço. Quando viu que o talento poderia ser uma fonte de renda, começou a estudar, viajar para procurar fornecedores, estudar o que tinha no mercado de diferente. “Eu trouxe o que é chamado de esculturas gigantes. Esse é o grande diferencial da Festas Criativas.” De acordo com a empresária, o intuito foi fazer da decoração parte da brincadeira. “Tudo aqui na loja a pessoa pode subir, entrar, não tem essa de que vai quebrar. A ideia é aproximar esse sonho da criança, mas de forma interativa.”
A família sempre fez festas de maneira geral. A primeira infantil foi a da filha de Ana Cláudia, Helena, em 2003, com a temática de fadas. Também em 2003, começaram a trabalhar com forminhas e lembrancinhas mais voltadas para casamentos com o nome D’flor. Por conta desse trabalho, as irmãs criaram um blog e Ana Cláudia passou a postar fotos das festas que faziam. “As pessoas começaram a se identificar com nosso estilo, que ainda não existia em Brasília, e a nos procurar.” Em 2012, entraram no mercado profissionalmente. “A proposta é ser a festa daquela pessoa. Por exemplo, já fizemos duas festas do Frozen, mas ficaram completamente diferentes.”
No mundo das festas infantis, não é só o aniversário que adquiriu ares luxuosos. Antes mesmo de nascer, ou de completar 1 ano de vida, os pais já dão demonstrações de como serão as futuras comemorações dessas crianças por meio dos chás de bebê e batizados. O porte geralmente é menor, os convidados são poucos. Somente a família e amigos mais próximos. Mas o requinte também se faz presente.
A boleira Maria de Fátima Ferreira também trabalha com batizados e chás de bebês, outro segmento bastante atrativo. Segundo a empresária, nessas comemorações normalmente não usadas maquetes, e sim bolos, mas com o mesmo nível de decoração, mudando a temática. As lembrancinhas, mesmo que acompanhadas de algum objeto, como um ursinho ou uma caixinha mais elaborada, sempre pedem docinhos como complemento, fazendo sucesso os biscoitos e pirulitos de chocolate.
Para Fabiani Christine, da Dot Paper, esse tipo de festa fica melhor se for marcada pela neutralidade. Ela costuma fazer as comemorações com temáticas de urso, ovelha, boneca de pano, sempre clássicos. “São temas que, daqui a 20 anos, a pessoa vai ver o álbum, achar lindo e querer fazer outra.”
Ainda de acordo com Fabiani, as lembrancinhas são diferentes porque são voltadas para adultos. Sprays, velas, marcadores de página, nécessaire de linho são alguns dos itens mais pedidos. Quando a festa é pequena, fazem uma lembrança com o nome de cada um. “O personalizado encanta.”