É logo ali
Para fugir do trânsito e aproveitar melhor o tempo, brasilienses mudam o endereço e o estilo de vida para ter acesso a trabalho, estudo e serviços essenciais num raio de poucos quilômetros de casa
O trabalho autônomo da arquiteta Cynthia Rondelli favorece uma rotina mais flexível. A recepção de clientes em casa e o desenvolvimento de projetos à noite, depois de os filhos dormirem, permitem maior tempo dedicado à família no resto do dia. Com o fim do uso de um escritório longe de casa, a fuga dos horários de congestionamento ficou mais fácil, o que contribuiu para a economia de tempo. Foi o passar dos anos na profissão e o consequente estabelecimento de nome no mercado que permitiram a maior liberdade, conquistada também por meio da contratação de auxiliares. Eles são, segundo ela, muito importantes para manter a engrenagem da rotina bem ajustada. Moradora do Lago Sul, ela conta que as transformações no dia a dia vieram da vontade de passar mais tempo com os dois filhos, de 12 e 9 anos de idade.
“Tive de fazer escolhas, deixar de lado algumas atividades em nome de outras. Hoje, consigo um dinamismo na execução das tarefas que não tinha antes”, conta. Em um dia normal, o início das manhãs é dedicado aos filhos. Logo depois, aproveita para se exercitar na esteira de casa, em vez de ir à academia. “Antes, o aparelho era usado como cabide”, brinca ela. Ao longo do dia, faz visitas a obras, recebe clientes. À noite, depois do tempo de interação com os familiares, dedica-se a leituras e ao desenvolvimento de projetos. O novo estilo de vida teve alguns contratempos, no entanto. A escola dos filhos, antes a três minutos de carro de sua casa, foi substituída por uma na Asa Norte. Mesmo assim, consegue economizar tempo graças à ajuda do marido, com quem divide a tarefa de levar e buscar os filhos.
As vantagens de morar em Águas Claras fizeram do bairro a melhor escolha para a família de Lúcia Soares Galindo. A empresária, o marido e os três filhos saíram do Sudoeste há um ano para viver num apartamento maior e mais afastado do Plano Piloto. Lúcia teve o benefício, ainda, de ficar perto do negócio, uma clínica de beleza. Além de estar a poucos minutos do trabalho, ela encontra opções diversas de serviços acessíveis a pé. Raras vezes sente a necessidade de ir ao centro de Brasília. Consultas médicas são uma das poucas atividades que a levam a dirigir os quilômetros que separam seu novo bairro da Asa Sul ou da Asa Norte.
A única mudança que sugere para o novo bairro é a construção de mais estacionamentos. “Para um comerciante, a falta de vagas é ainda mais difícil, porque afeta o acesso de clientes”, reclama. Mas Águas Claras traz vantagens para donos de lojas, segundo Lúcia. Muitas pessoas conhecem e passam a frequentar um estabelecimento depois de passarem na frente. Há por ali o hábito de explorar a cidade a pé e, por isso, de buscar serviços de forma mais localizada. “Temos opções de diversão, bares, um circuito gourmet. Águas Claras definitivamente não é mais uma cidade dormitório”, diz.
“A mudança na minha vida foi total. Antes, no primeiro semestre, eu tinha de levar comigo tudo o que fosse precisar para o dia inteiro: roupa de frio, comida, livros. Hoje, posso passar em casa nos intervalos entre as aulas, ficar na biblioteca até mais tarde sem me preocupar com trânsito”, diz. Um ponto negativo da nova moradia é a falta de estrutura de serviços por perto. O comércio oferece poucas opções para quem quiser sair a pé. Mesmo assim, com carro, que hoje tem, alguns minutos a separam das lojas e mercados.
Mesmo não estando a um muro da faculdade, o trajeto linear que separa Helena Azeredo da faculdade onde estuda comunicação social, o Uniceub, pode ser percorrido a pé em poucos minutos, sob a sombra de muitas árvores. Formada em artes plásticas e atualmente gerente de relações públicas, ela decidiu voltar à universidade para se especializar na área que pretende seguir. Moradora da Asa Norte há 20 anos, ela enumera sem hesitar tudo o que encontra a alguns passos de casa: bons restaurantes, butiques, perfumaria, pet shop, verdurão e supermercado.
Para ir à academia, há diversas opções em que nem precisa atravessar a rua. Às aulas de inglês, vai de carro porque é mais seguro durante a noite, mas em poucos minutos completa o trajeto. Ex-moradora da Asa Sul e do Park Way, ela aponta o silêncio da vizinhança atual como uma enorme vantagem. Com as janelas voltadas para um amplo espaço verde, ela consegue ouvir os pássaros. “Meu próximo passo nesse estilo de vida de mais contato com a cidade é adotar a bicicleta. Seria muito bom se aquelas disponíveis para aluguel chegassem até o final da Asa Norte”, diz.